São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Veterana de dois Pans, nadadora, agora cega, cura depressão na água

DA SUCURSAL DO RIO

A nadadora Eliane Pereira disputou dois Pans e quase ficou com o bronze em Winnipeg-67. Ela terminou os 100 m peito em quarto lugar. Quatro anos depois, em Cali, a ex-atleta do Fluminense e do Vasco chegou novamente à final da prova, mas não subiu no pódio. A nadadora ficou em sexto lugar na mesma distância.
Agora, Eliane, 54, disputará o seu terceiro Pan. Cega há cinco meses, a nadadora competirá nas provas de B1 (sem visão total) nos Jogos.
""Não estou mais atrás das medalhas. Quero mostrar a minha superação", disse Eliane, que entrará na piscina no primeiro dia de disputa. Nadará a prova dos 100 m livre.
Ela também competirá nas provas de peito (quinta e sexta), sua especialidade.
""Vou fazer o meu melhor, mas não quero cobrança", disse a carioca, que começou a perder a visão após ter sido atropelada por uma bicicleta no centro do Rio.
O acidente foi em 2004. Na ocasião, ela sofreu descolamento de retina. ""Continuei trabalhando normalmente. Pouco tempo depois, as letras começaram a ficar em cima das outras quando lia o jornal. Meses após, comecei a ter problemas para dirigir e fui perdendo a visão a cada dia", disse a nadadora, que teve o seu quadro agravado por diabetes.
Professora de educação física no Parque Aquático Júlio Delamare até enfrentar os primeiros problemas na visão, Eliane não esconde que teve dificuldade para superar o trauma. ""Não é fácil. Entrei em uma depressão profunda. Perdi todas as minhas referências. Estou saindo desta com a ajuda da natação", disse a carioca, campeã sul-americana nos 100 m peito nos anos 70.
Com três filhos e três netos, a nadadora, que se submeteu a quatro cirurgias sem sucesso, só voltou a nadar neste ano.
""Só tive o diagnóstico de que a minha cegueira era irreversível no início do ano. Foi um golpe duro, mas contei com a força de muita gente. Voltar a entrar numa piscina foi muito difícil. Chorei demais, mas agora me sinto mais aliviada"", disse Eliane, que chamou a atenção no Mundial de Cegos, neste mês, em São Paulo. Conseguiu duas medalhas nas provas de peito (prata e bronze).
Desde que voltou a nadar, Eliane diz que se emociona diariamente, mas não pretende abandonar as piscinas ""tão cedo". ""Estou adorando voltar a conviver com o ambiente de competição. Ainda tenho uma depressãozinha, mas estou vivendo muito mais feliz." (SR)


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