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Esporte é trilha para reinserção pós-guerra
Atletas paraolímpicos adequam-se mais rápido a deficiências, diz comitê
Dois veteranos que vão competir no Parapan do Rio sofreram acidentes no Iraque; outro tornou-se paraplégico após batalha
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL RIO
Antes da Guerra do Iraque, o
ex-soldado Scott Winkler, 34,
gostava de jogar basquete. Paraplégico após cair de um caminhão em Tikrit, cidade natal de
Saddam Hussein, optou por esportes mais desconhecidos do
público: lançamento de disco e
arremesso de peso. É favoritíssimo para dois ouros no Parapan -possui os recordes mundiais nas duas modalidades.
""Foi muito triste, abalou toda a minha família, mas o importante é que a vida continua.
Você não pode parar. Orgulho-me muito de estar aqui", disse
Winkler, na Vila do Pan no Rio.
A queda ocorreu há dois anos
e meio. O militar estava na sua
segunda missão no Iraque. Ele
tinha retornado ao país havia
apenas duas semanas. Após o
acidente, ficou sem o movimento das duas pernas.
"O homem e a mulher têm
que reconhecer sua perda.
Lembrar que é um pai, um filho. Esse é o primeiro passo para a reabilitação. Então, o esporte pode lhe ajudar com mais
confiança, na auto-afirmação",
explicou John Register, diretor
do programa paraolímpico para militares norte-americanos.
O projeto não fornece apoio
psicológico aos veteranos -isso é viabilizado por meio do governo federal. A idéia é reinseri-los na prática do esporte e,
depois, descobrir se o ex-militar pode se tornar competitivo.
""Sempre fiz esporte e estou
gostando dessa nova fase", declarou Winkler.
Carlos Leon, 22, também é
favorito ao ouro nas provas de
lançamento de disco e de arremesso de peso. Só que disputa
em categorias diferentes do
conterrâneo porque tem menos movimentos no corpo.
Seu acidente, no entanto, não
foi em uma situação de guerra:
sofreu a lesão durante as férias
no Havaí, em programa oferecido pelo Exército depois de as
tropas deixarem o Iraque.
""Estava me divertindo. Os
amigos me jogaram no mar,
acabei batendo com as costas
numa pedra e perdi os movimentos", contou Leon, que
pretende disputar a Paraolimpíada de Pequim, em 2008.
Nem por isso a guerra foi menos traumática para Leon. Filho de imigrantes colombianos,
ele se alistou no Exército apenas aos 19 anos, logo após completar o ensino médio. Como
pára-quedista, tinha a missão
de patrulhar os bairros mais
violentos de Bagdá.
""Foram muito tensos aqueles dias. Participei de intensos
tiroteios e vi muita tristeza",
lembra o militar, que não gosta
muito de falar sobre o assunto.
Suas lembranças relacionadas ao esporte são bem melhores. "Espero vencer aqui e superar mais um obstáculo", disse Leon, que disputará no Rio o
primeiro torneio internacional.
Os dois militares serão comandados pelo brasileiro Joaquim Cruz, que será o técnico
da equipe norte-americana de
atletismo no Parapan.
""Não tem muita diferença
treinar um atleta com deficiência. Todos têm muita força de
vontade, praticamente não muda nada", disse o medalhista de
ouro na Olimpíada de 1984.
Cruz trabalha no comitê norte-americano há três anos.
Outro norte-americano no
Parapan do Rio será James
Stuck, 23, que integra a equipe
de vôlei sentado. Ele perdeu
metade da perna direita, abaixo
do joelho, quando o jipe em que
estava foi atingido por uma mina, no Iraque, dois anos atrás.
Só passou a praticar o esporte paraolímpico a partir do ano
passado. Recentemente, mudou-se para a Universidade de
Oklahoma, onde há um centro
de treinamento oficial para
atletas com deficiência.
Até sexta-feira, não tinha
chegado ao Rio, o que estava
previsto para ontem à tarde.
Em entrevistas à imprensa
americana, o atleta afirmou
que nunca tinha pensado que
existia um vôlei que não fosse
em pé. E disse que era esportista praticante antes do acidente.
Sobre a guerra, mostrou-se
temeroso em relação ao que poderia ter acontecido se ficasse
no Iraque por mais tempo.
Agora, esses três atletas paraolímpicos servem como
exemplo para outros portadores de deficiência. É esse o objetivo do comitê dos EUA.
"Pessoas querem ver os jogos, algumas delas que podem
ser de nossas famílias. Isso pode levar outros, veteranos ou
não, a aderirem. Podemos dividir nossas histórias. Redescobre-se o indivíduo que pode seguir em frente", disse Register.
Para Pequim, já devem haver
75 atletas veteranos disputando vagas na Paraolimpíada. Até
março de 2007, o comitê já conversara com 130 ex-soldados
interessados.
(RODRIGO MATTOS E SÉRGIO RANGEL)
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