São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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BOXE

Chinês leva kung fu para o ringue

Zou Shimming é esperança de ouro da China em modalidade que foi banida no país

Outrora "fraco", boxe do anfitrião projeta até cinco medalhas na Olimpíada e aponta agora para um astro profissional à la Bruce Lee


EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

A técnica do boxe aliada ao jogo de pernas e dinamismo da milenar arte chinesa do kung fu, popularizada por filmes do ator e lutador Bruce Lee.
É essa a fórmula que transformou o chinês Zou Shimming, 27, em campeão mundial amador em Chicago-07.
Quando adentrar o ginásio dos trabalhadores na madrugada de quarta, com seu robe amarelo com detalhes em vermelho, sob os aplausos de entusiasmados compatriotas, Zou carrega a responsabilidade de iniciar caminhada em direção ao ouro nos Jogos. Afinal, é uma das apostas da China no embate com os EUA.
""Ele e seu técnico [Zhang Chuanliang] vieram do kung fu. Se você assistir a uma luta dele, logo perceberá a influência do kung fu em seu estilo. Mas não quero falar mais sobre isso, não quero espalhar sua fórmula", disse à Folha Chang Jianping, presidente da Federação Chinesa de Boxe, logo após se desculpar por não permitir entrevistas com Zou. ""Apenas após os Jogos. Agora ele precisa se concentrar."
Mas Chang deixa escapar que a intenção é profissionalizar o atleta após os Jogos, o que outras autoridades do boxe chinês confirmam.
Há ofertas de promotores estrangeiros por Zou, mas terão de passar pelo crivo estatal. Segundo o dirigente, a Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador), entidade da qual é um dos vice-presidentes, tem uma proposta que permitiria a amadores atuar como profissionais (sem capacete protetor ou camiseta) e seguir com o status olímpico.
Que o governo chinês subsidie o boxe e considere a proposta de profissionalizar um de seus heróis seria inimaginável no fim dos anos 50, quando o pugilismo passou a ser considerado fora da lei na China.
Logo após a chegada ao poder do governo comunista, em 1949, o esporte, classificado de decadente e imperialista, sofreu perseguições. A morte de um amador em 1959 foi a gota d'água, e a modalidade foi banida. ""O lutador morreu de uma doença, mas não quiseram nem saber", diz Chang.
Ironicamente, foi um dos maiores ícones americanos que plantou as sementes para o retorno do esporte à China: o ex-campeão mundial dos pesos pesados Muhammad Ali.
Durante visita de Ali ao país em 1979, o líder Deng Xiaoping ficou encantado com o pugilista, que sugeriu que a restrição ao boxe fosse retirada. Levou anos, mas em 1987 uma seleção nacional foi formada, e a China foi aceita como integrante da Aiba. O próprio Chang reconhece que no início o boxe chinês era ""fraco". Seus pugilistas não tinham condições de agüentar três assaltos.
Uma confluência de fatores foi fundamental para o desenvolvimento do boxe no país.
""Criamos equipe de técnicos estável, demos ênfase nas categorias mais leves, onde temos mais sucesso, o governo injetou mais dinheiro para a performance nos Jogos e o chinês Wu Ching-kuo foi elevado a presidente da Aiba", enumera o cartola chinês, que espera um ouro e quatro bronzes.


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