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Terra natal colhe frutos de Cielo
Santa Bárbara espera R$ 2 milhões do governo, e ex-clube do ídolo vê subir 50% procura por natação
Atletas dizem ostentar novo status devido às façanhas do campeão olímpico, que, sem alarde, ganha espaço até em centro de documentação
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA BÁRBARA D'OESTE
Quem andava ontem pelas
pacatas ruas de Santa Bárbara
d'Oeste não notava a mudança.
O filho mais ilustre da cidade
era lembrado apenas em uma
pequena faixa na entrada do
clube em que Cesar Cielo deu
suas primeiras braçadas.
Não havia cartazes nem estátuas, e pouco movimento, na
praça que hoje recebe a grande
homenagem ao campeão olímpico e bicampeão mundial.
Mas, sem alarde, Cielo e seus
feitos já começam a alterar a
realidade da cidade de 200 mil
habitantes no interior paulista
(138 km a noroeste de São Paulo). Basta assistir a um treino da
equipe do Esporte Clube Barbarense para notar sua influência nos jovens nadadores.
"Eles estão acreditando mais
que podem nadar bem. Quando
Cesar vem aqui, ele conta sobre
os treinos que doeram mais, dá
dicas... Deixo todo mundo pilhado. Insisto que têm de ter
um sonho e, com o Cesar, eles
viram que é possível chegar lá",
diz o técnico Ricardo Luchiari.
Rodolpho Godoy, 16, quase
largou a natação no ano passado após nadar mal em uma
competição importante. Logo
após seu fracasso, viu Cielo ser
ouro nos Jogos de Pequim.
"Eu vi que tinha de trabalhar
duro para chegar lá. O Cielo,
mesmo após ganhar dois ouros
e bater recorde no Mundial,
disse que não tinha feito o tempo que queria. Ele já é campeão,
mas ainda pensa em nadar mais
rápido. Ele é um exemplo de
psicológico forte", diz o atleta.
Os atletas do Barbarense
também desfrutam de novo
status após os feitos de Cielo.
Agora todos conhecem o clube
e se aproximam para falar com
seus nadadores. "O Cielo, em
2008, falou que teve ajuda só
dos amigos e dos pais para ganhar na Olimpíada. A gente está em um clube que não tem
tanta estrutura. Quando vimos
o que ele conseguiu, nós nos
sentimos mais incentivados",
afirma Renatta Vilela, 14.
O treinador provoca e pergunta quem admiram mais: Michael Phelps ou Cesar Cielo?
"O Phelps fumou maconha",
resmunga Renatta. "Se você for
pensar como um todo, Cielo.
Ele é completo", diz Rodolpho.
Assim como aconteceu com
Cielo, os nadadores da cidade
ainda têm de buscar melhor estrutura em outros municípios,
ou fora do país, para viver da
natação. O clube não tem condições, por exemplo, de dar ajuda de custo aos esportistas.
"Tenho de ter desapego muito grande. Sinto ciúme quando
eles vão embora, mas sei que é o
processo natural. Só será diferente quando tivermos estrutura para lutar com os grandes
clubes", afirma Luchiari.
A crença na mudança está em
outra novidade impulsionada
por Cielo. O Ministério do Esporte liberou R$ 2 milhões para
a construção de um centro
aquático em Santa Bárbara.
Na primeira fase da obra, serão erguidos piscina e vestiário.
A cobertura e o aquecimento da
água devem vir depois. O complexo deve levar o nome do bicampeão mundial, ouro nos 50
m e nos 100 m livre em Roma.
Luchiari já tem projeto, feito
em parceria com pais de nadadores e investidores da cidade,
para criar escolinha para 1.600
crianças, além de uma equipe
que receberá ajuda para nadar.
"Já temos a ideia e o dinheiro
para investir, só não temos o local", afirmou ele, que espera ver
a piscina pronta em 2010.
A procura por aulas de natação deu um salto na cidade após
os feitos de Cielo. As matrículas
no Barbarense cresceram 50%
desde 2008. E, logo após o nadador ganhar os ouros na Itália,
já surgiram novos interessados.
Até os pequenos matriculados na Toca do Coelho aumentaram a frequência nas aulas de
natação. Cielo, 22, estudou lá
dos dois aos cinco anos.
Em 2008, as crianças assistiram da calçada à sua passagem
em carro dos bombeiros, com
faixas e pompons. Hoje, não farão a mesma festa. Por causa da
gripe suína, estão sem aula.
"O Cesão chegou aqui já com
esse apelido. Ele sempre foi o
mais alto da turma, com aquelas perninhas finas e magrelas",
diz Elisabeth Regina Denadai, a
tia Beth, diretora da escola.
As fotos do pequeno Cielo,
nadador de pés enormes e jeito
de menino tímido, já têm lugar
no principal arquivo de dados
da cidade. A Fundação Romi
guarda todos os jornais com
notícias sobre o nadador e imagens de suas provas, festas de
aniversário e até do parto.
A instituição vai inaugurar
um centro de documentação
histórico público com a memória da cidade. E Cielo -que ontem, ao lado da delegação do
Mundial, visitou o presidente
Lula- deve ter espaço especial.
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