São Paulo, quarta-feira, 12 de agosto de 2009

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Terra natal colhe frutos de Cielo

Santa Bárbara espera R$ 2 milhões do governo, e ex-clube do ídolo vê subir 50% procura por natação

Atletas dizem ostentar novo status devido às façanhas do campeão olímpico, que, sem alarde, ganha espaço até em centro de documentação

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA BÁRBARA D'OESTE

Quem andava ontem pelas pacatas ruas de Santa Bárbara d'Oeste não notava a mudança. O filho mais ilustre da cidade era lembrado apenas em uma pequena faixa na entrada do clube em que Cesar Cielo deu suas primeiras braçadas.
Não havia cartazes nem estátuas, e pouco movimento, na praça que hoje recebe a grande homenagem ao campeão olímpico e bicampeão mundial.
Mas, sem alarde, Cielo e seus feitos já começam a alterar a realidade da cidade de 200 mil habitantes no interior paulista (138 km a noroeste de São Paulo). Basta assistir a um treino da equipe do Esporte Clube Barbarense para notar sua influência nos jovens nadadores.
"Eles estão acreditando mais que podem nadar bem. Quando Cesar vem aqui, ele conta sobre os treinos que doeram mais, dá dicas... Deixo todo mundo pilhado. Insisto que têm de ter um sonho e, com o Cesar, eles viram que é possível chegar lá", diz o técnico Ricardo Luchiari.
Rodolpho Godoy, 16, quase largou a natação no ano passado após nadar mal em uma competição importante. Logo após seu fracasso, viu Cielo ser ouro nos Jogos de Pequim.
"Eu vi que tinha de trabalhar duro para chegar lá. O Cielo, mesmo após ganhar dois ouros e bater recorde no Mundial, disse que não tinha feito o tempo que queria. Ele já é campeão, mas ainda pensa em nadar mais rápido. Ele é um exemplo de psicológico forte", diz o atleta.
Os atletas do Barbarense também desfrutam de novo status após os feitos de Cielo. Agora todos conhecem o clube e se aproximam para falar com seus nadadores. "O Cielo, em 2008, falou que teve ajuda só dos amigos e dos pais para ganhar na Olimpíada. A gente está em um clube que não tem tanta estrutura. Quando vimos o que ele conseguiu, nós nos sentimos mais incentivados", afirma Renatta Vilela, 14.
O treinador provoca e pergunta quem admiram mais: Michael Phelps ou Cesar Cielo?
"O Phelps fumou maconha", resmunga Renatta. "Se você for pensar como um todo, Cielo. Ele é completo", diz Rodolpho.
Assim como aconteceu com Cielo, os nadadores da cidade ainda têm de buscar melhor estrutura em outros municípios, ou fora do país, para viver da natação. O clube não tem condições, por exemplo, de dar ajuda de custo aos esportistas.
"Tenho de ter desapego muito grande. Sinto ciúme quando eles vão embora, mas sei que é o processo natural. Só será diferente quando tivermos estrutura para lutar com os grandes clubes", afirma Luchiari.
A crença na mudança está em outra novidade impulsionada por Cielo. O Ministério do Esporte liberou R$ 2 milhões para a construção de um centro aquático em Santa Bárbara.
Na primeira fase da obra, serão erguidos piscina e vestiário. A cobertura e o aquecimento da água devem vir depois. O complexo deve levar o nome do bicampeão mundial, ouro nos 50 m e nos 100 m livre em Roma.
Luchiari já tem projeto, feito em parceria com pais de nadadores e investidores da cidade, para criar escolinha para 1.600 crianças, além de uma equipe que receberá ajuda para nadar.
"Já temos a ideia e o dinheiro para investir, só não temos o local", afirmou ele, que espera ver a piscina pronta em 2010.
A procura por aulas de natação deu um salto na cidade após os feitos de Cielo. As matrículas no Barbarense cresceram 50% desde 2008. E, logo após o nadador ganhar os ouros na Itália, já surgiram novos interessados.
Até os pequenos matriculados na Toca do Coelho aumentaram a frequência nas aulas de natação. Cielo, 22, estudou lá dos dois aos cinco anos.
Em 2008, as crianças assistiram da calçada à sua passagem em carro dos bombeiros, com faixas e pompons. Hoje, não farão a mesma festa. Por causa da gripe suína, estão sem aula.
"O Cesão chegou aqui já com esse apelido. Ele sempre foi o mais alto da turma, com aquelas perninhas finas e magrelas", diz Elisabeth Regina Denadai, a tia Beth, diretora da escola.
As fotos do pequeno Cielo, nadador de pés enormes e jeito de menino tímido, já têm lugar no principal arquivo de dados da cidade. A Fundação Romi guarda todos os jornais com notícias sobre o nadador e imagens de suas provas, festas de aniversário e até do parto.
A instituição vai inaugurar um centro de documentação histórico público com a memória da cidade. E Cielo -que ontem, ao lado da delegação do Mundial, visitou o presidente Lula- deve ter espaço especial.


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