São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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GUERRA DOS SEXOS
A mais feminina das Olimpíadas


Contingente de mulheres atletas sobe a 39,1%; na delegação brasileira, elas são quase metade


JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Mais da metade da população mundial, as mulheres não alcançaram a maioria e nem mesmo a paridade com o número de homens nos Jogos. Mas a mais feminina das Olimpíadas vai evidenciar o quanto avançaram no contingente e nas modalidades.
Em Sydney, 39,1% dos 10.200 participantes serão mulheres, o que resulta numa divisão de 3.978 competidoras e 6.222 homens -eram 35% quatro anos atrás.
A tendência de crescimento aparece na delegação brasileira: dos 204 atletas inscritos, 94 são mulheres e 110 homens. Uma mulher, Sandra Pires, ouro em Atlanta-1996 no vôlei de praia, será porta-bandeira do país no desfile de abertura.
Dos 36 novos eventos que estão em disputa de medalhas, 23 deles foram destinados às mulheres e não mais que 13 privilegiam os homens.
Pela primeira vez, o salto com vara, o arremesso de martelo, o levantamento de peso, o pentatlo moderno e o pólo aquático terão sua porção feminina.
Nos dois esportes promovidos a olímpicos, taekwondo e triatlo, ambos os gêneros competem pelo mesmo número de medalhas -são quatro faixas de peso para cada sexo na arte marcial.
O debute do pólo aquático feminino é emblemático: coincide com o centenário olímpico da modalidade, cuja primeira medalha de ouro foi disputada nos Jogos de Paris-1900.
É emblemático por outra razão: demonstra o quanto a Olimpíada pode ser um reduto masculino. Na versão feminina, seis seleções -o Brasil não conseguiu se classificar- disputarão as três medalhas. No masculino, haverá o dobro de postulantes às medalhas.
A segregação ocorre de maneira mais sutil em outros esportes. Sydney contará com 11 dos chamados eventos abertos, ou seja, aqueles em que homens e mulheres competem pela mesma medalha ou podem formar time.
Os de maior notoriedade são o iatismo e o hipismo. No iatismo, aliás, está a única novidade dos eventos abertos em relação a Atlanta-96, a classe 49er -o Brasil tem duas tripulações, uma masculina e outra feminina.
De outra parte, alguns esportes, desde o surgimento, carregam a distinção masculino/feminino.
Típicos representantes dessa faceta, o boxe e a luta (greco-romana e livre) permanecem restritos ao homens -e não há movimentação em sentido contrário.
A ginástica artística está historicamente tão associada às mulheres que a simples menção da modalidade remete a estrelas como a romena Nadia Comaneci, a primeira ginasta a merecer nota dez, em Montreal-1976. É um caso único em que os heróis são menos importantes que as heroínas.
Variante da ginástica conhecida desde os anos 70, a ginástica rítmica permanece fechada aos homens. Assim como o nado sincronizado, que estreou no programa oficial em Los Angeles-1984.
No futebol, as mulheres estréiam nesta madrugada sua segunda Olimpíada. Mas, paradoxalmente, é uma mulher, Mia Hamm, 28, quem mais assinalou gols por uma seleção nacional, masculina ou feminina. Foram 108 gols marcados.


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