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CONTARDO CALLIGARIS
Bugiganga para atletas e jornalistas
Em Sydney, os membros da
imprensa recebem uma mochila de náilon da Foster's -cerveja oficial dos Jogos. Ela contém
vários objetos. Um convite para a
festa oficial da imprensa -os anfitriões são o "Daily Telegraph" e
a Visy (companhia de empacotamento e reciclagem), com a ajuda
da Foster's, do vinho Lindemans e
da Coca-Cola. Uma caneca Robert Timms" -o café da Olimpíada. Uma cartucheira do cartão
Visa com bolso para garrafa,
preenchido por uma Coca. Um
chapéu e uma esferográfica de
plástico da Swatch, cronometrista
oficial de Sydney-2000.
Um fio de conexão à linha telefônica para computador e um ridículo pára-sol para tela de laptop, tudo da IBM. Um bloco de
anotações do McDonald's com direito a um Big Mac de graça.
Propagandas da Ansett (linhas
aéreas oficiais da Olimpíada) e
AMP (serviços financeiros), mais
um ingresso de cinema e 20 raspadinhas pelas quais você pode
ganhar até um dia na companhia
de um jornalista.
Quis saber o que era oferecido
aos atletas. Bolsa de esporte Technogym. Bolsa para sapatos da
Unilever com desodorante, óleo
de massagem e hidratante. Fones
de ouvido Panasonic. Pasta de
dentes e escova Colgate. Protetor
solar Hamilton. Visita ao zoológico, McDonald's e cortes de cabelo
da Just Cuts. Chaveiro da UPS
com cartão de desconto. Cartão-postal multicultural. Camiseta
Acme (roupas esportivas) e pacote da Jurlique (perfumes).
Considero este conjunto de ninharias enquanto leio o dossiê sobre o marketing da Olimpíada
produzido pelo Comitê Olímpico
Internacional. Entre os direitos de
transmissão e os patrocínios, de
1997 a 2000, o Movimento Olímpico levantou US$ 2,5 bilhões. O
descompasso é o mesmo de todos
os dias -entre uma enorme potência produtiva e organizativa,
às vezes cheia de nobres ambições, e um resultado decepcionante: a chuva fina do bricabraque do consumo.
A essa desproporção entre potência econômica e miséria ordinária, a Olimpíada acrescenta o
esforço fantástico dos atletas, a
admiração de bilhões de espectadores e a corrida das empresas
para capitalizar as significações
nobres do evento -para serem
ditas "olímpicas". São todos os ingredientes -glórias e vergonhas- da modernidade.
P.S.: Cada atleta recebeu também 51 preservativos. Considerando o tempo médio de permanência na Vila Olímpica, a previsão de uso seria de três por dia
(muito mais se os atletas se relacionarem entre si -cada um dispondo da mesma reserva). Afinal,
atleta é atleta. Agora, o vexame é
que não houve nenhum preservativo previsto para a imprensa.
E-mail ccalligari@uol.com.br
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