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FUTEBOL
Lelê e a seleção
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Eu estava brincando no
quarto com meus carrinhos
(eu tenho mais de 22!) quando
meu pai surgiu na porta e falou:
- Lelê, hoje tem jogo do Brasil.
Eu acho superlegal ver jogo do
Brasil, porque todo mundo fica
junto e ninguém faz cara feia para ninguém.
Quando jogam o Palmeiras do
meu pai, o São Paulo do meu avô,
o Corinthians da minha mãe e o
Santos do meu tio Torero, é bem
diferente. Eles ficam se provocando que nem a minha turma no recreio e dizem que o time do outro
não é de nada. Mas, depois, deixam pra lá.
Eu também gosto de pôr a camisa amarela da seleção que eu
tenho com o número 9 atrás e que
está escrito Ronaldo, que o meu
avô me deu. Mas eu não me chamo Ronaldo, eu me chamo Leocádio. Se bem que todo mundo me
chama de Lelê. Na hora em que
eu ganhei a camisa, eu quis falar
para o meu avô que o nome estava errado, mas aí eu lembrei que
a minha mãe sempre fala que o
meu avô anda meio esquecido e
então eu achei que era por isso e
deixei pra lá.
Quando eu cheguei à sala, todo
mundo já tinha chegado, e o meu
tio Torero, depois de comer uma
mão cheia de pipoca, falou que o
Brasil ia jogar contra o Equador.
Eu achei o nome daquele país esquisito e perguntei se era lá que se
faziam todos os coadores de café
do mundo.
Meu pai falou que não, que o
nome Equador é porque tinha
uma linha que dividia o planeta
no meio e essa linha chamava
equador. Eu não sabia que o
mundo tinha uma linha no meio
dele, que nem um cinto, e falei
que eu queria ir conhecer esse lugar no fim de semana, mas a minha mãe falou que era longe e então eu deixei pra lá.
O jogo começou, e o Brasil marcou logo um gol. Quem fez foi um
jogador com um cabelo bacana, e
eu pedi para a minha mãe deixar
o meu ficar que nem o dele, mas
ela falou "De jeito nenhum".
Esse jogador tem uns dentes
grandes e deve gastar um monte
de pasta. A minha mãe diz que eu
tenho que escovar os dentes três
vezes por dia. Então, quando eu
acordo, já escovo as três vezes, que
assim não preciso escovar depois.
Quem fez o cruzamento foi um
jogador careca. Aí eu pedi pra minha mãe se eu podia cortar careca, e ela falou de novo: "De jeito
nenhum". Mas o meu pai foi mais
bacana e disse que mais cedo ou
mais tarde eu ficaria careca. E o
meu pai deve saber disso, porque
ele só tem uns fiozinhos de nada.
Quando saiu o gol, eu pulei
muito no sofá e só parei quando
escutei um barulho esquisito de
coisa quebrando, e a minha mãe
me olhou apertando as sobrancelhas. Depois os meus olhos começaram a fechar, e eu só lembro
que eu acordei com o meu pai me
carregando de volta para o quarto. Aí eu perguntei:
- Quanto foi o jogo?
- Ficou naquilo mesmo, Lelê,
sono por sono o seu deve ter sido
bem melhor.
Acho que eu não entendi o que
ele falou, mas dei uma risada para ele pensar que tinha dito uma
coisa engraçada e deixei pra lá.
1
Émerson e Gilberto Silva destroem bem, fecham espaços e
dão uma inestimável ajuda aos
zagueiros. São titulares em times de primeira linha do futebol europeu, e não é qualquer
um que consegue isso. Ainda
assim, não vejo muito sentido
em vê-los jogando juntos. Para
o lugar de Kleberson, melhor
seria escolher o versátil Renato
ou outro jogador que participe
mais das jogadas ofensivas.
Não sou o primeiro a falar nisso
e, pelo jeito, não serei o último.
2
Ronaldinho Gaúcho é um craque, um talento, um abençoado
pelos deuses, um jogador extraordinário, um daqueles gênios que aparecem de 20 em 20
anos, um assombro. Mas que o
time ficou mais objetivo com a
entrada de Kaká, ficou.
E-mail torero@uol.com.br
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