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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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FUTEBOL

Lelê e a seleção

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Eu estava brincando no quarto com meus carrinhos (eu tenho mais de 22!) quando meu pai surgiu na porta e falou:
- Lelê, hoje tem jogo do Brasil.
Eu acho superlegal ver jogo do Brasil, porque todo mundo fica junto e ninguém faz cara feia para ninguém.
Quando jogam o Palmeiras do meu pai, o São Paulo do meu avô, o Corinthians da minha mãe e o Santos do meu tio Torero, é bem diferente. Eles ficam se provocando que nem a minha turma no recreio e dizem que o time do outro não é de nada. Mas, depois, deixam pra lá.
Eu também gosto de pôr a camisa amarela da seleção que eu tenho com o número 9 atrás e que está escrito Ronaldo, que o meu avô me deu. Mas eu não me chamo Ronaldo, eu me chamo Leocádio. Se bem que todo mundo me chama de Lelê. Na hora em que eu ganhei a camisa, eu quis falar para o meu avô que o nome estava errado, mas aí eu lembrei que a minha mãe sempre fala que o meu avô anda meio esquecido e então eu achei que era por isso e deixei pra lá.
Quando eu cheguei à sala, todo mundo já tinha chegado, e o meu tio Torero, depois de comer uma mão cheia de pipoca, falou que o Brasil ia jogar contra o Equador. Eu achei o nome daquele país esquisito e perguntei se era lá que se faziam todos os coadores de café do mundo.
Meu pai falou que não, que o nome Equador é porque tinha uma linha que dividia o planeta no meio e essa linha chamava equador. Eu não sabia que o mundo tinha uma linha no meio dele, que nem um cinto, e falei que eu queria ir conhecer esse lugar no fim de semana, mas a minha mãe falou que era longe e então eu deixei pra lá.
O jogo começou, e o Brasil marcou logo um gol. Quem fez foi um jogador com um cabelo bacana, e eu pedi para a minha mãe deixar o meu ficar que nem o dele, mas ela falou "De jeito nenhum".
Esse jogador tem uns dentes grandes e deve gastar um monte de pasta. A minha mãe diz que eu tenho que escovar os dentes três vezes por dia. Então, quando eu acordo, já escovo as três vezes, que assim não preciso escovar depois.
Quem fez o cruzamento foi um jogador careca. Aí eu pedi pra minha mãe se eu podia cortar careca, e ela falou de novo: "De jeito nenhum". Mas o meu pai foi mais bacana e disse que mais cedo ou mais tarde eu ficaria careca. E o meu pai deve saber disso, porque ele só tem uns fiozinhos de nada.
Quando saiu o gol, eu pulei muito no sofá e só parei quando escutei um barulho esquisito de coisa quebrando, e a minha mãe me olhou apertando as sobrancelhas. Depois os meus olhos começaram a fechar, e eu só lembro que eu acordei com o meu pai me carregando de volta para o quarto. Aí eu perguntei:
- Quanto foi o jogo?
- Ficou naquilo mesmo, Lelê, sono por sono o seu deve ter sido bem melhor.
Acho que eu não entendi o que ele falou, mas dei uma risada para ele pensar que tinha dito uma coisa engraçada e deixei pra lá.

1
Émerson e Gilberto Silva destroem bem, fecham espaços e dão uma inestimável ajuda aos zagueiros. São titulares em times de primeira linha do futebol europeu, e não é qualquer um que consegue isso. Ainda assim, não vejo muito sentido em vê-los jogando juntos. Para o lugar de Kleberson, melhor seria escolher o versátil Renato ou outro jogador que participe mais das jogadas ofensivas. Não sou o primeiro a falar nisso e, pelo jeito, não serei o último.

2
Ronaldinho Gaúcho é um craque, um talento, um abençoado pelos deuses, um jogador extraordinário, um daqueles gênios que aparecem de 20 em 20 anos, um assombro. Mas que o time ficou mais objetivo com a entrada de Kaká, ficou.

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