São Paulo, Domingo, 12 de Setembro de 1999
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TOSTÃO
Criatividade

Volto ao tema marcação no futebol. Após as duas partidas com a Argentina, ficou clara a importância desse fundamento no resultado de um jogo.
O torcedor deve estar se questionando: "Por que o Brasil não atua sempre da maneira como fez em Porto Alegre? Foi um jogo atípico? É possível unir, com frequência, marcação forte com criatividade?".
O grande problema de se utilizar a marcação por pressão é o desgaste físico. Ninguém consegue executá-la bem durante todo o jogo. No entanto, se a equipe obtém uma vantagem ao final do primeiro tempo, pode mudar sua maneira de jogar no segundo e usar o contra-ataque. Foi assim que aconteceram os dois últimos gols do Brasil sobre a Argentina, aproveitando a velocidade e a habilidade da dupla Ronaldo-Rivaldo e o avanço dos zagueiros argentinos.
Se a seleção repetir essa marcação com mais frequência, seus excepcionais atacantes estarão sempre com a bola, próximos à área. No último jogo, o time fez quatro, mas poderia ter feito seis ou sete.
Rivaldo jogou da mesma maneira que sempre jogou na seleção. A diferença é que o Brasil estava sempre com a bola, na intermediária adversária.
Quando melhorar a sincronia, com o recuo do Ronaldinho para receber a bola e a entrada do Rivaldo na área, os gols virão com mais facilidade. Esse posicionamento é diferente de colocar o jogador do Grêmio mais atrás e o Rivaldo na frente. Se o atacante do Barcelona atuar fixo como atacante, será mais facilmente anulado.
Por outro lado, adiantando a marcação da zaga e do meio-campo, serão abertos mais espaços na defesa do Brasil, que tornar-se-á vulnerável. Será a volta de resultados como 4 a 2, 5 a 4, 5 a 3 e das goleadas.
A equipe ficará mais eficiente, e os jogos, mais bonitos e emocionantes.
O Brasil sempre teve dificuldades de unir dura marcação com criatividade. Existe um clichê de que o jogador que desarma muito é "grosso", e o craque não pode correr atrás do rival, como se fosse impossível carregar e tocar piano. Esse conceito ficou mais evidente após a divisão no meio-campo do futebol brasileiro, entre armadores ofensivos e defensivos. Além disso, atletas e técnicos gostam de falar que o rival é que tem que se preocupar em marcar o Brasil.
Há alguns anos, a marcação por pressão vem sendo feita de forma tímida e rara em todo o mundo. A capacidade de realizá-la com mais frequência e qualidade será a grande mudança no futebol nos próximos anos. Essa poderá ser uma variação moderna do carrossel holandês de 1974.
Os jogadores não podem permitir que o adversário domine a bola a três metros de distância, posicione seu corpo e dê o passe com tranquilidade.
No entanto, para executar bem a marcação, não basta ter vontade. É preciso treinar e torná-la um hábito, e não apenas uma conduta excepcional. Esse é meu velho sonho de jogador e de comentarista.

"Clássico é clássico"

O Corinthians novamente realizou uma grande exibição contra o Cruzeiro, na última quarta-feira. Rincón segue dando aula de como deve jogar um volante: preciso no passe e na marcação. Quando não dá para desarmar, ele recua e ocupa o espaço na frente dos zagueiros, dificultando a ação ofensiva da outra equipe.
O Palmeiras continua subindo de produção e não será surpresa se o time conseguir uma vitória. A equipe não pode cometer o mesmo erro do Cruzeiro, deixar os armadores do Corinthians dominarem a bola e avançar até próximo à área.
O Corinthians está melhor, mas, como diz o velho ditado: "clássico é clássico". Que ele seja sem violência, dentro e fora do campo.

Privatização e tecnologia

Telefonei para a Telemar, solicitando o serviço pago "Siga-me", que permite uma ligação ser transferida automaticamente de um telefone para outro. Após um longo tempo seguindo as instruções de uma gravação, a voz informou-me que o serviço não podia ser feito, pois minha conta não havia sido paga. Estranhei, porque o pagamento é automático, e telefonei para o banco, que confirmou o débito. Um funcionário da instituição ligou para a Telemar, que lhe informou estar tudo certo.
Tudo resolvido, liguei no outro dia, fiquei novamente um longo tempo seguindo as instruções da impessoal voz gravada. No final, ela volta a repetir que o serviço não será efetuado, porque a última conta não havia sido paga.
Depois de muitas conversas, a Telemar reconheceu seu erro. Enfim, poderia solicitar o serviço. A funcionária, e não mais uma voz gravada, me explica que a pessoa que ligar paga a tarifa, e eu também. Se for interurbana, pago 50% do valor -como se eu estivesse recebendo um desconto.
São as maravilhas da tecnologia e da privatização. Desisti do serviço.
Espero agora um parecer do Procon-MG sobre a legalidade do pagamento de 50% a mais nas tarifas interurbanas.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras


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