São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008

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TOSTÃO

Medo da Venezuela


Como o Brasil raramente brilha, o provável é o time ter uma atuação má ou razoável e ganhar com dificuldade

DIFERENTEMENTE do que dizem, a seleção tem sido regular. Joga mal quase todas as partidas. Dos oito jogos pelas eliminatórias, só atuou bem contra o Chile. Coletivamente, a equipe foi também mal na goleada sobre o Equador, no Maracanã. Os três últimos gols saíram no final e em jogadas individuais e isoladas.
Estou com medo da Venezuela.
Não é ironia. O mais provável é o Brasil ter hoje uma atuação ruim ou razoável e vencer com dificuldades.
Perdi a ilusão. Vou seguir o conselho infeliz do Muricy Ramalho e de muitos treinadores que não estão nem aí para a qualidade do jogo: "Quem quiser espetáculo que vá ao teatro".
A Venezuela não é também tão boba como em 1969, quando aproveitei e fiz cinco gols nos dois jogos pelas eliminatórias para a Copa-70.
O esquema tático do Brasil será diferente dos dois jogos anteriores.
Não sei qual é a melhor opção. Mas, enquanto não houver uma definição do modo de jogar e da filosofia, o time não será forte no conjunto.
Como Kaká é mais atacante que armador, Dunga preferiu Elano a Mancini, para não deixar apenas dois jogadores no meio. Para Mancini e Robinho atuarem pelos lados, teriam de marcar. E os dois sabem fazer isso bem. Jogaram assim muitas vezes na Europa. Mas, para o treinador, é mais fácil continuar na mesmice e escalar três no meio, com Elano um pouco mais adiantado.
Outra razão da não-escalação de Mancini é o fato de ele ter sido convocado pela primeira vez. Precisa entrar na fila. Já com Adriano não houve essa coerência. Ele só foi chamado após a contusão de Luis Fabiano. Pela fila, Jô (ou Pato) seria titular. Prefiro Adriano.
Não há nada de errado em Dunga mudar de opinião. Treinadores, comentaristas e qualquer profissional podem e devem mudar suas preferências, quando for necessário. A coerência é muitas vezes burra. A coerência tem que ser ética e de princípios. Isso também não é fácil.
Somos humanos, imperfeitos.
Desde as categorias de base, não entendo o que Anderson fala nas entrevistas. Depois que jogou em Portugal e agora na Inglaterra, entendo menos ainda. Anderson não olha para o repórter nem se esforça para ser gentil. Não sei se tem Deus na barriga, se é tímido ou se é só esquisito.

Tempos românticos
Nesta semana, três atletas do Atlético-MG foram dispensados, corretamente, porque trocaram a concentração pela noitada. Isso era comum no passado. Havia muitos jogadores boêmios.
No início dos anos 60, antes do Mineirão, o Cruzeiro se concentrava em um pequeno hotel, há poucos quarteirões da área boêmia. Na véspera dos jogos, o artilheiro, que fazia gols em quase todas as partidas, colocava vários travesseiros na cama, cobria com um lençol e ia encontrar com a sua paixão na casa de prostituição. O técnico passava pelo quarto e não percebia.
Como tudo que é bom dura pouco, o técnico descobriu e acabou com a farra. Sumiram os gols. Aí, tivemos que fazer um acordo com o técnico. O artilheiro saía mais cedo, tomava apenas uma dose de cuba libre ou de hi-fi, namorava sem grandes excessos e retornava antes das 23h, mais leve e mais feliz. Acordo feito e cumprido. Para a alegria de todos, os gols voltaram.


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