São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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A culpa exclusiva do fracasso é de Luxemburgo

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas ² Taí, agora é que eu quero ver, pois este é o momento em que o técnico, o comandante, o chefe, o líder, o responsável pela equipe tem de juntar os cacos alvinegros que ficaram espalhados pelo gramado do Maracanã, depois do vendaval de sábado. E pior, desta vez, a humilhante goleada de 4 a 1 que o Corinthians levou do Flamengo, na quarta derrota do time nos últimos cinco jogos, não há nem como recorrer ao torpe expediente de acusar este ou aquele jogador por não ter cumprido esta ou aquela determinação tática, tampouco atirar sobre o grupo a costumeira pecha de falta de empenho, pois o time correu como o diabo, em vão.
Desta vez, a culpa exclusiva do fracasso foi dele mesmo, Luxemburgo, que, temendo a má fase de seu time, mas, sobretudo, a boa fase de Romário, resolveu, em cima da hora, inventar um sistema defensivo com três zagueiros de área que soçobrou em menos de 20 minutos de bola rolando.
Na verdade, o problema nem é esse, já que Luxemburgo tem competência e autoridade para reverter esse quadro. O que ele não terá é tempo e concentração para tanto, desde que está dividido entre o Corinthians e a seleção. Mas quis porque quis, não foi? Então, vire-se.
Leio nesta Folha que o Palmeiras de Felipão, acusado de defensivista, é um time de maior média de gols do que o Palmeiras de Luxemburgo, louvado como ofensivista (ressalvado, claro, aquele período de ouro do Paulistão de 96).
Ligo a TV e vejo, durante todo o segundo tempo, o Palmeiras lá acuado na sua área, resistindo bravamente ao assédio do Inter, que não é nenhum memorável esquadrão, convenhamos. Resultado: Palmeiras 1 a 0, gol de falta de Arce.
E me lembro de um Santos e Juventus, num sábado à tarde, na Javari, lá pelo início dos anos 60, o maior massacre de um time sobre outro que jamais vira e veria: foram cerca de 25 chances claras de gols criadas por Pelé e cia.; oito bolas nas traves; umas dez defesas milagrosas do goleiro (Mão de Onça, creio). Era pra ser uns 15 a 0 para o Santos. Mas o que ficou para as estatísticas foi o mais pálido 0 a 0 da história.
Resumindo: não se deve confundir eficácia com estilo de jogo. Esse Palmeiras de Felipão caracteriza-se pela precisão nas finalizações, nunca pela ofensividade de seu estilo: cria quatro, cinco chances por partida e faz três, quatro gols. Pelo amor de Deus, não tirem de Felipão o mérito de fazer de um time defensivo um prodígio de eficácia ofensiva. Tampouco lhe confiram o mérito que não tem.
Na mosca, foi a entrevista de Quiroga, goleiro argentino do Peru, na Copa de 78.
Aliás, que foram um arranjo os 6 a 0 diante da Argentina já se sabia desde aquela noite fatídica. Lembro-me bem dos jornalistas peruanos -alguns com lágrimas de indignação nos olhos- se desculpando dos seus confrades brasileiros, no centro de imprensa. Eles mesmos denunciaram a malandragem. Tanto que, à época, na volta a Lima, alguns jogadores foram punidos pela federação local, por interferência não só da opinião pública como do próprio governo peruano.
Mas nunca é demais relembrar essas coisas, em nome da verdade.
²


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas


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