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A culpa exclusiva do fracasso é de Luxemburgo
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
²
Taí, agora é que eu quero ver,
pois este é o momento em que o
técnico, o comandante, o chefe,
o líder, o responsável pela equipe tem de juntar os cacos alvinegros que ficaram espalhados
pelo gramado do Maracanã,
depois do vendaval de sábado.
E pior, desta vez, a humilhante
goleada de 4 a 1 que o Corinthians levou do Flamengo, na
quarta derrota do time nos últimos cinco jogos, não há nem como recorrer ao torpe expediente
de acusar este ou aquele jogador por não ter cumprido esta
ou aquela determinação tática,
tampouco atirar sobre o grupo
a costumeira pecha de falta de
empenho, pois o time correu como o diabo, em vão.
Desta vez, a culpa exclusiva
do fracasso foi dele mesmo, Luxemburgo, que, temendo a má
fase de seu time, mas, sobretudo, a boa fase de Romário, resolveu, em cima da hora, inventar um sistema defensivo com
três zagueiros de área que soçobrou em menos de 20 minutos
de bola rolando.
Na verdade, o problema nem
é esse, já que Luxemburgo tem
competência e autoridade para
reverter esse quadro. O que ele
não terá é tempo e concentração para tanto, desde que está
dividido entre o Corinthians e a
seleção. Mas quis porque quis,
não foi? Então, vire-se.
Leio nesta Folha que o Palmeiras de Felipão, acusado de
defensivista, é um time de
maior média de gols do que o
Palmeiras de Luxemburgo, louvado como ofensivista (ressalvado, claro, aquele período de
ouro do Paulistão de 96).
Ligo a TV e vejo, durante todo
o segundo tempo, o Palmeiras
lá acuado na sua área, resistindo bravamente ao assédio do
Inter, que não é nenhum memorável esquadrão, convenhamos. Resultado: Palmeiras 1 a 0,
gol de falta de Arce.
E me lembro de um Santos e
Juventus, num sábado à tarde,
na Javari, lá pelo início dos
anos 60, o maior massacre de
um time sobre outro que jamais
vira e veria: foram cerca de 25
chances claras de gols criadas
por Pelé e cia.; oito bolas nas
traves; umas dez defesas milagrosas do goleiro (Mão de Onça,
creio). Era pra ser uns 15 a 0 para o Santos. Mas o que ficou para as estatísticas foi o mais pálido 0 a 0 da história.
Resumindo: não se deve confundir eficácia com estilo de jogo. Esse Palmeiras de Felipão
caracteriza-se pela precisão nas
finalizações, nunca pela ofensividade de seu estilo: cria quatro, cinco chances por partida e
faz três, quatro gols. Pelo amor
de Deus, não tirem de Felipão o
mérito de fazer de um time defensivo um prodígio de eficácia
ofensiva. Tampouco lhe confiram o mérito que não tem.
Na mosca, foi a entrevista de
Quiroga, goleiro argentino do
Peru, na Copa de 78.
Aliás, que foram um arranjo
os 6 a 0 diante da Argentina já
se sabia desde aquela noite fatídica. Lembro-me bem dos jornalistas peruanos -alguns
com lágrimas de indignação
nos olhos- se desculpando dos
seus confrades brasileiros, no
centro de imprensa. Eles mesmos denunciaram a malandragem. Tanto que, à época, na
volta a Lima, alguns jogadores
foram punidos pela federação
local, por interferência não só
da opinião pública como do
próprio governo peruano.
Mas nunca é demais relembrar essas coisas, em nome da
verdade.
²
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas
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