São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Apesar de discurso bairrista, equipe se reforça com interioranos e não conta com jogadores nascidos na cidade-sede

Santos tenta título com time 0% santista

RICARDO PERRONE
RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADOS ESPECIAIS A JARINU

Não é de estranhar que o Santos nesta final nacional se concentre no interior e mande jogos em estádios paulistanos, afinal, esse time é a menos santista de todas equipes de sucesso que a cidade litorânea já produziu.
Nenhum dos titulares do técnico Emerson Leão nasceu em Santos. E o único caiçara entre os "meninos da Vila" é Robinho, natural da vizinha São Vicente.
Mesmo ele demorou para se habituar ao clima praiano, afinal, cresceu no Parque Bitaru, um dos bairros mais pobres do município. E por lá não há praia.
"Comecei a jogar em rua de terra. Era o famoso "arrebenta dedão". Chutava até a unha cair do pé", lembra o atacante de 18 anos.
Robinho só criou o hábito do futebol na areia quando já treinava no Santos e arrastava o ribeirão-pretano Diego para uns rachas na praia do Gonzaga.
Os interioranos como Diego formam a maioria. Lugares como Iracemápolis, Fernandópolis e Santa Mercedes reforçaram o Santos com, respectivamente, o meia Elano, o lateral Maurinho e o volante Renato.
Essa migração não foge da tradição santista, afinal, os forasteiros são maioria no hall da fama do clube. É só lembrar de Pelé (da mineira Três Corações), Coutinho (Piracicaba) ou Edu (Jaú).
Mas naquele mítico time dos anos 60 havia sempre um jogador nativo, seja o ponta-esquerda Pepe ou o goleiro Gilmar.
Também no Santos versão 1995, com o belenense Giovanni no comando, havia caiçaras como o goleiro Edinho (nascido em Santos) e Marcelo Passos (Guarujá).
Leão usou a ligação do time com a cidade portuária como retórica para acirrar os ânimos dos jogadores para a final com o Corinthians, já que o time não pôde mandar partidas na Vila Belmiro.
"Falei tanto em cumplicidade com a cidade para os jogadores ficarem mais bravos e essa braveza nos deu a vitória", confessou.
Enquanto o rival Carlos Alberto Parreira usa a torcida para incentivar o cabisbaixo Corinthians, o santista isolou seus atletas.
Tanto é assim que a dúzia de torcedores que apareceu na porta da concentração rural de Jarinu foi barrada por Leão.
Os únicos que convivem com santistas por lá nesses dias são jogadores juvenis coreanos em estágio de aprendizado no Brasil.
"Eles brincam com a gente. Tem uns que sabem até xingar", se surpreende Robinho em meio à monotonia do hotel. "Nunca vi uma concentração tão calma como essa aqui", concorda Robert, veterano da campanha de 1995.


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