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Futebol vê China
velha sobreviver
à modernização
DO ENVIADO A GUANGZHOU
Na contramão da modernização por que passa a China, o
estádio de Guangzhou, que
abrigou o amistoso de ontem,
mostrou que, pelo menos em
se tratando de futebol, velhos
hábitos comunistas ainda estão
presentes no cotidiano do país.
O torcedor chinês tem pouca
liberdade para vibrar e passa
por constrangimentos causados pela polícia, que usou mais
de mil homens e mulheres.
Para quem não é VIP, são necessárias duas revistas antes de
entrar-chegam ao detalhe de
abrir carteiras e bisbilhotar até
fotos de parentes dos fãs- na
procura de algo que possa causar transtornos.
Dentro do estádio, é até melhor torcer para seu time não
vencer. Qualquer demonstração de entusiasmo "exacerbado", como jogar uma quantidade ínfima de papel picado, o
que fez um torcedor durante a
partida de ontem, pode significar a expulsão do estádio.
Em jogos dos campeonatos
locais, as comemorações de
gols não podem passar de 30
segundos -após isso, a segurança manda os torcedores se
sentarem. Brigas nos estádios,
apesar de raras, podem decretar um bom período na prisão e
penas severas aos clubes.
Como em boa parte do que
acontece no resto da economia
do país, um estádio de futebol é
lugar para abrigar muitos funcionários para pouco trabalho,
outra tradição comunista.
No estádio de Guangzhou,
por exemplo, existe até rodízio
de gandulas, que, ao contrário
de seus pares brasileiros, esperam trabalho em cadeiras.
Para cada roleta na entrada
do estádio, são dois funcionários para receber os ingressos e
três para fazer a severa, e demorada, revista.
Nas quatro esquinas dos estádios havia, em cada um delas,
pelo menos três dezenas de homens do Exército e da polícia,
atrapalhando a visão dos fãs.
A falta de confiança nos números oficiais repete-se no futebol. Vendido pelos organizadores como sucesso, o amistoso foi jogado com pelo menos
25% dos lugares vazios.
Tirando o comportamento
das pessoas, o estádio em nada
lembra uma arena de um país
ainda administrado por um
governo comunista. Nada de
exagero nas bandeiras vermelhas e, em nenhum lugar, o famoso símbolo da foice e do martelo.
(PC)
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