|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sufocada na Europa, F-1 toma o rumo do Oriente
Dirigentes bajulam chineses e estudam criar equipes de fachada para driblar lei antitabagista britânica
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
No Ocidente, a Inglaterra aperta
o cerco sobre a publicidade tabagista, a União Européia bate o pé
para manter o automobilismo em
sua nova lei de extradições e o
mercado americano revela-se
mais tímido do que o esperado.
No Oriente, a China acena com
um autódromo moderno, uma
economia que avança 8% ao ano,
com uma voracidade que compra
11 mil novos carros por dia. O
Bahrein também finaliza as obras
de seu circuito. Índia, Hong Kong
e Emirados Árabes oferecem refúgio a dirigentes e escuderias.
A conclusão é clara, óbvia e já
está sendo colocada em prática,
até com alguma pressa. A F-1 começa a virar as costas para o Ocidente e a namorar o Oriente.
Corridas do outro lado do mundo não são uma novidade. Mas,
agora, já há equipes estudando seriamente uma mudança para lá.
O estopim é a proibição à publicidade tabagista na Inglaterra a
partir de 31 de julho de 2005. Pela
lei, que foi aprovada no ano passado, qualquer empresa inglesa
que promover uma marca de cigarros poderá ser processada.
Isso valerá para equipes de F-1,
mesmo que estejam correndo em
um outro país. A simples aparição
de um carro na TV vai ser suficiente para abertura de processo.
Hoje, seis das dez equipes estão
sediadas na Inglaterra. Três delas,
Jordan, McLaren e Renault, são
patrocinadas há anos pelo cigarro. Outra, a BAR, vai além: é propriedade da BAT, o segundo
maior grupo tabagista do planeta.
Enquanto tentam, até agora de
forma inócua, conseguir uma salvaguarda para a categoria, os dirigentes ensaiam um plano B.
"Há países fora da Europa que
estão desesperadamente atrás de
nós", disse Eddie Jordan, que revelou ter conversado com os governos de Dubai e de Nova Déli.
"Espero que o governo resolva
logo essa questão. Do contrário,
não posso imaginar todas as suas
conseqüências", afirmou David
Richards, diretor-chefe da BAR.
A idéia seria abrir uma empresa
de fachada em um país qualquer
do Oriente. A fábrica continuaria
na Inglaterra, mas, oficialmente,
serviria apenas como uma fornecedora de peças e componentes.
Dessa forma, a Jordan-Dubai,
por exemplo, poderia disputar o
campeonato, expondo sua marca
de cigarro na TV, sem ser incomodada pelo governo britânico.
Em outubro de 2006, a restrição
atingirá toda a Europa. Não por
coincidência, a Minardi, anunciou anteontem a criação da Minardi Asia, em Hong Kong. Inicialmente, disputará campeonatos asiáticos de F-3 e de F-BMW.
Ainda no campo legal, uma nova lei da União Européia também
perturba a F-1. O texto facilita as
extradições de pessoas acusadas
de crime entre os países signatários. A preocupação dos times é
que a lei seja usada para prender
ou extraditar seus membros em
caso de acidente com morte.
Ontem, a inglesa "Autosport", a
mais prestigiosa revista de automobilismo, publicou uma ameaça de boicote das equipes ao GP
de San Marino, em abril, que abre
a perna européia do campeonato.
"É um problema sério. As equipes querem um documento que
lhes garanta que ninguém será
perseguido e extraditado por causa de um incidente ou morte em
alguma pista", disse Max Mosley,
presidente da FIA (entidade máxima do automobilismo).
A União Européia, porém, joga
duro. "O senhor Mosley não está
acima da lei", já rebateu um porta-voz do comissário de Justiça.
Mesmo sem todos esses imbróglios legais, a Ásia já apareceria
para a F-1 como um novo eldorado. A corrida mais disputada nos
bastidores é para saber quem ganhará a simpatia dos chineses.
McLaren e Williams lideram o
ranking da bajulação. A primeira
incluiu Cheng Congfu, 19, em seu
"politicamente correto" programa de desenvolvimento de pilotos -seu companheiro, Lewis
Hamilton, é negro. Com uma
"bolsa" da equipe, Congfu correrá
neste ano na F-Renault inglesa.
Já a Williams transformou Tung
Ho Pin, 21, no primeiro piloto chinês a testar um F-1. Foi em dezembro, em Jerez, na Espanha
-ele marcou o pior tempo entre
os 16 pilotos que treinaram.
Resultados à parte, o que interessa é cair no gosto do público
chinês. A última grande aposta da
F-1, a volta aos EUA, há quatro
anos, não teve o retorno esperado.
Nas próximas semanas, deve ser
entregue o circuito de Xangai, que
receberá pela primeira vez a F-1,
em setembro. Antes, em abril,
acontecerá a estréia do Bahrein.
O caminho definitivamente é
para o leste. E parece sem volta.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Memória: Na década de 60, equipe ensaiou fábrica de araque Índice
|