São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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Sufocada na Europa, F-1 toma o rumo do Oriente

Dirigentes bajulam chineses e estudam criar equipes de fachada para driblar lei antitabagista britânica

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

No Ocidente, a Inglaterra aperta o cerco sobre a publicidade tabagista, a União Européia bate o pé para manter o automobilismo em sua nova lei de extradições e o mercado americano revela-se mais tímido do que o esperado.
No Oriente, a China acena com um autódromo moderno, uma economia que avança 8% ao ano, com uma voracidade que compra 11 mil novos carros por dia. O Bahrein também finaliza as obras de seu circuito. Índia, Hong Kong e Emirados Árabes oferecem refúgio a dirigentes e escuderias.
A conclusão é clara, óbvia e já está sendo colocada em prática, até com alguma pressa. A F-1 começa a virar as costas para o Ocidente e a namorar o Oriente.
Corridas do outro lado do mundo não são uma novidade. Mas, agora, já há equipes estudando seriamente uma mudança para lá.
O estopim é a proibição à publicidade tabagista na Inglaterra a partir de 31 de julho de 2005. Pela lei, que foi aprovada no ano passado, qualquer empresa inglesa que promover uma marca de cigarros poderá ser processada.
Isso valerá para equipes de F-1, mesmo que estejam correndo em um outro país. A simples aparição de um carro na TV vai ser suficiente para abertura de processo.
Hoje, seis das dez equipes estão sediadas na Inglaterra. Três delas, Jordan, McLaren e Renault, são patrocinadas há anos pelo cigarro. Outra, a BAR, vai além: é propriedade da BAT, o segundo maior grupo tabagista do planeta.
Enquanto tentam, até agora de forma inócua, conseguir uma salvaguarda para a categoria, os dirigentes ensaiam um plano B.
"Há países fora da Europa que estão desesperadamente atrás de nós", disse Eddie Jordan, que revelou ter conversado com os governos de Dubai e de Nova Déli.
"Espero que o governo resolva logo essa questão. Do contrário, não posso imaginar todas as suas conseqüências", afirmou David Richards, diretor-chefe da BAR.
A idéia seria abrir uma empresa de fachada em um país qualquer do Oriente. A fábrica continuaria na Inglaterra, mas, oficialmente, serviria apenas como uma fornecedora de peças e componentes.
Dessa forma, a Jordan-Dubai, por exemplo, poderia disputar o campeonato, expondo sua marca de cigarro na TV, sem ser incomodada pelo governo britânico.
Em outubro de 2006, a restrição atingirá toda a Europa. Não por coincidência, a Minardi, anunciou anteontem a criação da Minardi Asia, em Hong Kong. Inicialmente, disputará campeonatos asiáticos de F-3 e de F-BMW.
Ainda no campo legal, uma nova lei da União Européia também perturba a F-1. O texto facilita as extradições de pessoas acusadas de crime entre os países signatários. A preocupação dos times é que a lei seja usada para prender ou extraditar seus membros em caso de acidente com morte.
Ontem, a inglesa "Autosport", a mais prestigiosa revista de automobilismo, publicou uma ameaça de boicote das equipes ao GP de San Marino, em abril, que abre a perna européia do campeonato.
"É um problema sério. As equipes querem um documento que lhes garanta que ninguém será perseguido e extraditado por causa de um incidente ou morte em alguma pista", disse Max Mosley, presidente da FIA (entidade máxima do automobilismo).
A União Européia, porém, joga duro. "O senhor Mosley não está acima da lei", já rebateu um porta-voz do comissário de Justiça.
Mesmo sem todos esses imbróglios legais, a Ásia já apareceria para a F-1 como um novo eldorado. A corrida mais disputada nos bastidores é para saber quem ganhará a simpatia dos chineses.
McLaren e Williams lideram o ranking da bajulação. A primeira incluiu Cheng Congfu, 19, em seu "politicamente correto" programa de desenvolvimento de pilotos -seu companheiro, Lewis Hamilton, é negro. Com uma "bolsa" da equipe, Congfu correrá neste ano na F-Renault inglesa.
Já a Williams transformou Tung Ho Pin, 21, no primeiro piloto chinês a testar um F-1. Foi em dezembro, em Jerez, na Espanha -ele marcou o pior tempo entre os 16 pilotos que treinaram.
Resultados à parte, o que interessa é cair no gosto do público chinês. A última grande aposta da F-1, a volta aos EUA, há quatro anos, não teve o retorno esperado.
Nas próximas semanas, deve ser entregue o circuito de Xangai, que receberá pela primeira vez a F-1, em setembro. Antes, em abril, acontecerá a estréia do Bahrein.
O caminho definitivamente é para o leste. E parece sem volta.


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