São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Os técnicos: Freud

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Edmundo Freud é o filho mais famoso de Lavras de Mangabeira.
Educado pela mãe, Freud foi um exemplar aluno de medicina e formou-se em neurologia. Na cidade, porém, era pouco procurado pelos pacientes com distúrbios mentais, talvez porque as pessoas desconfiassem de seus métodos de cura, mais baseados em leves toques do que em eletrochoques.
Só quando aceitou dirigir o combalido Alma (Associação Lavras de Mangabeira Atlética) é que pôde aplicar as terapias que vinha testando.
Inovando, o técnico passou a chamar os jogadores até uma salinha que havia no vestiário. Ali pedia a eles que se deitassem numa maca e falassem sobre seus problemas. Foi assim que descobriu que seu goleiro havia levado um frango que não conseguia esquecer, seu zagueiro havia feito um gol contra memorável e seus atacantes haviam perdidos pênaltis bobos quando eram mirins.
Freud fez com que revivessem a experiência traumática e entrassem em contato com a emoção que os incomodava, tentando entendê-la. Uns choraram, outros deram murros na parede; enfim, o que importa é que, deixando a salinha, também deixavam para trás aquelas neuroses e começavam a jogar melhor.
Da mesma forma, o técnico abandonou as táticas rigorosas de treinamento e deixou que seus pupilos liberassem sua Invenção Desportiva (que ele chamava apenas pelas iniciais: id). Depois, buscando o equilíbrio, dosou disciplina e fantasia, fazendo com que o time encontrasse seu verdadeiro eu e muitas vitórias.
Após derrotar oponentes fortes como o Jamacaru e o Tauá, o Alma chegou à final da Taça Governador do Estado. O adversário? O temível Ferroviário.
Nesse dia o jovem treinador cometeu um erro que uns atribuem à soberba e outros à inocência. Ele inovou mais uma vez e convidou as mães dos jogadores para fazer a preleção. Freud pensou que suas presenças fortaleceriam a confiança dos atletas.
Não foi o que aconteceu.
Os que estiveram no vestiário dizem que aquele foi um momento estranho: umas exigiram a vitória, outras diziam que eles eram a esperança de suas vidas e outras choravam, dizendo entre soluços que se sentiam orgulhosas só de estar ali. Fosse qual fosse a mensagem, o fato é que seus filhos sentiram a responsabilidade e entraram em campo abalados emocionalmente, principalmente o goleiro Édipo. O resultado: Alma 0 x 10 Ferroviário.
O Alma ainda participou de alguns torneios regionais, mas sem brilho. Foi extinto em 1976, quando disputava divisões amadoras.
Quanto a Edmundo Freud, aprofundou seus estudos sobre o que chamou de "complexo de Édipo" e escreveu um interessante ensaio sobre a mente humana que resultou em estrondoso sucesso editorial. No dia do lançamento do livro, num shopping center em Fortaleza, as filas eram imensas. E, enquanto ele dava autógrafos, sua mãe, de pé ao seu lado, exibia um orgulhoso sorriso.

M.En.T.I.
Numa das últimas páginas do Manual Enciclopédico de Times Imaginários está o Zoo Club de Viena. Seu uniforme é verde-selva, e seu símbolo, uma jaula vazia. Fundado pelos funcionários do Zoológico Municipal de Viena, os atletas do clube sempre têm apelidos de animais. No ano passado, sua escalação teve o goleiro Aranha; os zagueiros Gorila, Hipopótamo, Rinoceronte e Elefante (uma defesa extremamente pesada); Leão, Tigre, Pantera (três volantes selvagens) e Girafa (um meia com muita visão de jogo); Dromedário e Camelo (dupla conhecida como "deserto de gols"). Sua glória foi vencer o Rapid na Copa da Áustria em 1966, uma autêntica zebra.
Contagem regressiva Quatro...

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