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FUTEBOL
Os técnicos: Freud
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Edmundo Freud é o filho
mais famoso de Lavras de
Mangabeira.
Educado pela mãe, Freud foi
um exemplar aluno de medicina
e formou-se em neurologia. Na cidade, porém, era pouco procurado pelos pacientes com distúrbios
mentais, talvez porque as pessoas
desconfiassem de seus métodos de
cura, mais baseados em leves toques do que em eletrochoques.
Só quando aceitou dirigir o
combalido Alma (Associação Lavras de Mangabeira Atlética) é
que pôde aplicar as terapias que
vinha testando.
Inovando, o técnico passou a
chamar os jogadores até uma salinha que havia no vestiário. Ali
pedia a eles que se deitassem numa maca e falassem sobre seus
problemas. Foi assim que descobriu que seu goleiro havia levado
um frango que não conseguia esquecer, seu zagueiro havia feito
um gol contra memorável e seus
atacantes haviam perdidos pênaltis bobos quando eram mirins.
Freud fez com que revivessem a
experiência traumática e entrassem em contato com a emoção
que os incomodava, tentando entendê-la. Uns choraram, outros
deram murros na parede; enfim,
o que importa é que, deixando a
salinha, também deixavam para
trás aquelas neuroses e começavam a jogar melhor.
Da mesma forma, o técnico
abandonou as táticas rigorosas
de treinamento e deixou que seus
pupilos liberassem sua Invenção
Desportiva (que ele chamava
apenas pelas iniciais: id). Depois,
buscando o equilíbrio, dosou disciplina e fantasia, fazendo com
que o time encontrasse seu verdadeiro eu e muitas vitórias.
Após derrotar oponentes fortes
como o Jamacaru e o Tauá, o Alma chegou à final da Taça Governador do Estado. O adversário? O
temível Ferroviário.
Nesse dia o jovem treinador cometeu um erro que uns atribuem
à soberba e outros à inocência.
Ele inovou mais uma vez e convidou as mães dos jogadores para
fazer a preleção. Freud pensou
que suas presenças fortaleceriam
a confiança dos atletas.
Não foi o que aconteceu.
Os que estiveram no vestiário
dizem que aquele foi um momento estranho: umas exigiram a vitória, outras diziam que eles
eram a esperança de suas vidas e
outras choravam, dizendo entre
soluços que se sentiam orgulhosas
só de estar ali. Fosse qual fosse a
mensagem, o fato é que seus filhos
sentiram a responsabilidade e entraram em campo abalados emocionalmente, principalmente o
goleiro Édipo. O resultado: Alma
0 x 10 Ferroviário.
O Alma ainda participou de alguns torneios regionais, mas sem
brilho. Foi extinto em 1976, quando disputava divisões amadoras.
Quanto a Edmundo Freud,
aprofundou seus estudos sobre o
que chamou de "complexo de
Édipo" e escreveu um interessante ensaio sobre a mente humana
que resultou em estrondoso sucesso editorial. No dia do lançamento do livro, num shopping center
em Fortaleza, as filas eram imensas. E, enquanto ele dava autógrafos, sua mãe, de pé ao seu lado,
exibia um orgulhoso sorriso.
M.En.T.I.
Numa das últimas páginas do
Manual Enciclopédico de Times Imaginários está o Zoo
Club de Viena. Seu uniforme é
verde-selva, e seu símbolo, uma
jaula vazia. Fundado pelos funcionários do Zoológico Municipal de Viena, os atletas do clube
sempre têm apelidos de animais. No ano passado, sua escalação teve o goleiro Aranha; os
zagueiros Gorila, Hipopótamo,
Rinoceronte e Elefante (uma
defesa extremamente pesada);
Leão, Tigre, Pantera (três volantes selvagens) e Girafa (um
meia com muita visão de jogo);
Dromedário e Camelo (dupla
conhecida como "deserto de
gols"). Sua glória foi vencer o
Rapid na Copa da Áustria em
1966, uma autêntica zebra.
Contagem regressiva
Quatro...
E-mail torero@uol.com.br
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