São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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Pequim-2008 perde Spielberg

Diretor deixa posto de assessor artístico da Olimpíada por discordar da China em relação a conflito

Cineasta tinha recebido pressão de personalidades e atletas que assinaram manifesto contra o governo chinês em relação a Darfur


DA REPORTAGEM LOCAL

A China -que receberá a próxima Olimpíada em sua capital, Pequim- sofreu um revés estrondoso por conta de suas posições polêmicas em relação aos direitos humanos.
O renomado diretor de cinema Steven Spielberg, assessor artístico dos Jogos (que serão em agosto), anunciou ontem que está fora do projeto. Citou a falta de progresso na questão de Darfur, região do Sudão que vive conflito armado desde 2003, com a participação do governo local. A China é aliada do Sudão: compra petróleo do país africano e lhe vende armas.
A saída de Spielberg ocorre num momento em que a China tenta despolitizar a Olimpíada. Nesta semana, o comitê da Grã-Bretanha chegou a ameaçar proibir seus atletas de participar dos Jogos se expressassem alguma posição política.
"Após pensar cuidadosamente, decidi anunciar formalmente o fim do meu vínculo [com a Olimpíada]", disse Steven Spielberg, em nota. "Fiz repetidos esforços para encorajar o governo chinês a usar sua influência para levar segurança e estabilidade a Darfur."
Estima-se que 200 mil pessoas tenham morrido nos conflitos no Sudão e outras 2,5 milhões tenham sido obrigadas a deixar suas casas.
Horas antes do anúncio, Spielberg tinha sido criticado pela atriz Mia Farrow e vários grupos humanitários por trabalhar com a China.
Farrow, oito ganhadores do prêmio Nobel, 13 atletas olímpicos e 46 parlamentares assinaram, ontem, um manifesto ao presidente chinês, Hu Jintao, condenando o apoio do país ao Sudão. A China já chegou a defender a nação africana em sessão das Nações Unidas.
"Como Pequim pode abrigar a Olimpíada e subscrever o genocídio?", disse Farrow.
A crise em relação aos Jogos veio à tona após alguns países censurarem seus atletas, tentando impedi-los de criticar a China sobre direitos humanos.
Além da Grã-Bretanha, Bélgica e Nova Zelândia também teriam proibido manifestações nas instalações olímpicas. EUA, Canadá, Finlândia, Austrália, República Tcheca, Itália, Noruega, Romênia, França e Suécia afirmaram que seus atletas não sofrerão censura.
Apesar das restrições, alguns esportistas britânicos fizeram críticas à China. Richard Vaughan, estrela do badminton, emitiu comunicado. "É muito difícil manter um silêncio educado sobre um conflito que continua custando muitas vidas. A China tem uma grande influência sobre o Sudão e podia ajudar a dar fim ao sofrimento de milhões de pessoas."
Segundo o jornal britânico "The Mail", dez atletas da delegação poderiam utilizar entrevistas e subidas ao pódio nos Jogos Olímpicos para condenar "a conivência da China com os abusos contra os direitos humanos no país africano".
O Comitê Olímpico Internacional diz que atletas não podem fazer demonstrações políticas, religiosas ou raciais em instalações olímpicas.


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