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Pequim-2008 perde Spielberg
Diretor deixa posto de assessor artístico da Olimpíada por discordar da China em relação a conflito
Cineasta tinha recebido
pressão de personalidades
e atletas que assinaram
manifesto contra o governo
chinês em relação a Darfur
DA REPORTAGEM LOCAL
A China -que receberá a
próxima Olimpíada em sua capital, Pequim- sofreu um revés estrondoso por conta de
suas posições polêmicas em relação aos direitos humanos.
O renomado diretor de cinema Steven Spielberg, assessor
artístico dos Jogos (que serão
em agosto), anunciou ontem
que está fora do projeto. Citou a
falta de progresso na questão
de Darfur, região do Sudão que
vive conflito armado desde
2003, com a participação do governo local. A China é aliada do
Sudão: compra petróleo do país
africano e lhe vende armas.
A saída de Spielberg ocorre
num momento em que a China
tenta despolitizar a Olimpíada.
Nesta semana, o comitê da Grã-Bretanha chegou a ameaçar
proibir seus atletas de participar dos Jogos se expressassem
alguma posição política.
"Após pensar cuidadosamente, decidi anunciar formalmente o fim do meu vínculo
[com a Olimpíada]", disse Steven Spielberg, em nota. "Fiz repetidos esforços para encorajar
o governo chinês a usar sua influência para levar segurança e
estabilidade a Darfur."
Estima-se que 200 mil pessoas tenham morrido nos conflitos no Sudão e outras 2,5 milhões tenham sido obrigadas a
deixar suas casas.
Horas antes do anúncio,
Spielberg tinha sido criticado
pela atriz Mia Farrow e vários
grupos humanitários por trabalhar com a China.
Farrow, oito ganhadores do
prêmio Nobel, 13 atletas olímpicos e 46 parlamentares assinaram, ontem, um manifesto
ao presidente chinês, Hu Jintao, condenando o apoio do
país ao Sudão. A China já chegou a defender a nação africana
em sessão das Nações Unidas.
"Como Pequim pode abrigar
a Olimpíada e subscrever o genocídio?", disse Farrow.
A crise em relação aos Jogos
veio à tona após alguns países
censurarem seus atletas, tentando impedi-los de criticar a
China sobre direitos humanos.
Além da Grã-Bretanha, Bélgica e Nova Zelândia também
teriam proibido manifestações
nas instalações olímpicas.
EUA, Canadá, Finlândia, Austrália, República Tcheca, Itália,
Noruega, Romênia, França e
Suécia afirmaram que seus
atletas não sofrerão censura.
Apesar das restrições, alguns
esportistas britânicos fizeram
críticas à China. Richard Vaughan, estrela do badminton,
emitiu comunicado. "É muito
difícil manter um silêncio educado sobre um conflito que
continua custando muitas vidas. A China tem uma grande
influência sobre o Sudão e podia ajudar a dar fim ao sofrimento de milhões de pessoas."
Segundo o jornal britânico
"The Mail", dez atletas da delegação poderiam utilizar entrevistas e subidas ao pódio nos
Jogos Olímpicos para condenar
"a conivência da China com os
abusos contra os direitos humanos no país africano".
O Comitê Olímpico Internacional diz que atletas não podem fazer demonstrações políticas, religiosas ou raciais em
instalações olímpicas.
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