São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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TOSTÃO

Pirlo melhorado


Os jogadores não deveriam correr pouco nem mais que o necessário. A velocidade burra é tão ruim quanto a lentidão


A DISCUSSÃO sobre chavões no futebol é interminável. Cito mais alguns exemplos.
Não tenho pretensão de ditar normas nem de ser o dono da verdade. São apenas minhas opiniões. O pensamento quase único é péssimo para o futebol, a sociedade e o país.
Alguns jogadores são rotulados de grossos, de só terem força física, e nunca perdem o carimbo.
Júlio Baptista oscila entre o atleta razoável e o craque.
Não é uma coisa nem outra.
Ele é melhor do que parece e pior do que promete. Júlio Baptista é um dos poucos volantes que marcam bem e chegam ao ataque com velocidade, força e boa técnica.
Outro chavão no futebol é o de que o jogador brasileiro precisa aprender na Europa a ser disciplinado taticamente e a marcar. Há muito tempo não existe essa separação entre o futebol europeu, mais tático, pragmático, de mais marcação e de mais força física, e o brasileiro, mais habilidoso, inventivo e ofensivo.
Está tudo igual.
A diferença está na qualidade, seja onde o atleta atuar. Quem tem talento dá também espetáculo. Quem não tem, apenas corre, marca e agrada ao "professor".
É também discutível a postura de Parreira e dos técnicos europeus de que o esquema com três zagueiros está ultrapassado.
O Egito, novamente campeão da Copa da África, foi a única seleção que atuou desta forma. Foi também a única em que o treinador e quase todos os atletas atuam no seu país, além de ser a seleção com jogadores menos altos e fortes.
A imagem de Gerson andando com a bola em um jogo da Copa de 1970, antes de dar um passe espetacular para um dos gols do Brasil, tornou-se referência do futebol lento do passado e de como se deve dar um passe longo e preciso.
O futebol era mais lento que o de hoje, mas não era tão lento como dizem, nem o Gerson era apenas excepcional nos passes longos. Era um armador completo.
Na média, os jogadores de hoje não deveriam correr apenas os sete ou oito quilômetros que corriam os do passado nem os 14 ou 15 que correm hoje. Deveriam correr uns dez e jogar com mais inteligência e eficiência.
É preciso separar ainda a troca curta de passes, para manter a posse de bola e esperar o instante certo para fazer o gol, que era o estilo dos grandes times do passado, da pressa de chegar ao gol, característica dos times de todo o mundo, do passado e do presente, que não sabem jogar futebol.
Gerson andava também com a bola porque os times marcavam mais atrás, para fechar os espaços perto da área. A seleção brasileira de 1970 fazia o mesmo.
Hoje, com exceção dos times pequenos e dos que não sabem jogar futebol, como a Irlanda contra o Brasil, as equipes pressionam o jogador que tem a bola no meio-campo. Isso dificultou para os armadores e é uma das razões de se ter poucos excepcionais meias.
Se Gerson jogasse hoje, seria o mesmo craque, atuando como um segundo volante, que tem mais liberdade para iniciar as jogadas e para dar um bom passe. Ele jogava mais ou menos assim na seleção de 1970.
Gerson seria hoje um Pirlo, o melhor dos volantes, muito melhorado.


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