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Fórmula 1 vai andar de lado em 98
PEDRO PAULO DINIZ
especial para a Folha
A entrada em vigor de uma
série de novas regras técnicas e
desportivas provocará ao menos uma consequência visível
a olho nu na F-1 em 98: os carros vão andar de lado.
Para quem assiste às corridas pela TV ou nas arquibancadas, carros 20 centímetros
mais estreitos não devem fazer
diferença. Mas a troca dos
pneus lisos pelos com sulcos
-três nos dianteiros e quatro
nos traseiros-, vai mexer com
o estilo de pilotagem.
Para o público, será ótimo
ver os carros "escorregando",
não tenho dúvidas. Mas e para
nós, pilotos?
Lamento dizer, mas o prazer
de pilotar não será o mesmo.
Em três temporadas de Fórmula 1, nunca havia me divertido
tanto nas pistas como em 97.
Com a chegada da Bridgestone e o final do monopólio da
Goodyear, no ano passado, a
guerra da borracha levou os
carros aos limites extremos de
aderência. Os compostos produzidos pelas duas fábricas
grudavam de tal forma nos asfalto que proporcionavam aos
pilotos a segurança para frear
em cima das curvas.
Agora, acabou. Os compostos
estão mais duros, para que o
desgaste não exceda as especificações da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Como resultado, a aderência diminuiu, e os pontos
de freada serão antecipados.
A FIA achava que essas mudanças poderiam facilitar as
ultrapassagens, mas está difícil encontrar um piloto que
concorde com essa avaliação.
Claro que as modificações
atingem todas as equipes e, na
teoria, nivelam as chances.
Mas sabemos que a realidade
da F-1 não é bem assim. As
grandes contam com orçamentos gigantescos, que não raro
superam os 100 milhões de dólares, e capacidade de experimentar qualquer novidade
com muito mais agilidade.
A Williams, por exemplo,
tem duas equipes de testes que
podem trabalhar simultaneamente, em locais diversos. Ela
começou a testar a configuração técnica de 98 em março do
ano passado, quando o campeonato mal havia começado.
A Arrows, minha equipe, tem
de se virar com a metade da
verba da Williams. Com isso,
só iniciou os testes com o
"spec" 98 em outubro. Faz diferença, muita diferença -podem acreditar.
Para a torcida brasileira, que
não comemora uma vitória
desde 93 com Ayrton Senna,
peço um pouquinho mais de
paciência. Acho que tanto eu
como o Rubinho Barrichello
faremos um campeonato melhor que o de 97. A Arrows vem
crescendo, o carro A19 foi concebido por um projetista renomado, John Barnard, que passou pela Benetton, McLaren e
Ferrari, e tem soluções originais. A Stewart Grande Prix,
equipe do Rubinho, saiu-se
bem na temporada de estréia e
promete ainda mais em 98.
Embora aposte que a Arrows
ficará entre as seis primeiras
no final do ano, ainda não dá
para garantir uma vitória.
Por causa do fenômeno Senna, há uma certa pressão sobre
os brasileiros. Senna deve ser
lembrado como o maior piloto
da história da F-1, e alguns dos
seus recordes talvez jamais venham a ser igualados. O que
não se deve perder de vista é
que os brasileiros que vieram
depois nunca tiveram a chance
de andar numa equipe grande.
Mas vamos chegar lá.
Pedro Paulo Diniz é piloto de F-1 da equipe
Arrows
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