São Paulo, sexta, 13 de fevereiro de 1998

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Fórmula 1 vai andar de lado em 98

PEDRO PAULO DINIZ
especial para a Folha

A entrada em vigor de uma série de novas regras técnicas e desportivas provocará ao menos uma consequência visível a olho nu na F-1 em 98: os carros vão andar de lado.
Para quem assiste às corridas pela TV ou nas arquibancadas, carros 20 centímetros mais estreitos não devem fazer diferença. Mas a troca dos pneus lisos pelos com sulcos -três nos dianteiros e quatro nos traseiros-, vai mexer com o estilo de pilotagem.
Para o público, será ótimo ver os carros "escorregando", não tenho dúvidas. Mas e para nós, pilotos?
Lamento dizer, mas o prazer de pilotar não será o mesmo. Em três temporadas de Fórmula 1, nunca havia me divertido tanto nas pistas como em 97.
Com a chegada da Bridgestone e o final do monopólio da Goodyear, no ano passado, a guerra da borracha levou os carros aos limites extremos de aderência. Os compostos produzidos pelas duas fábricas grudavam de tal forma nos asfalto que proporcionavam aos pilotos a segurança para frear em cima das curvas.
Agora, acabou. Os compostos estão mais duros, para que o desgaste não exceda as especificações da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Como resultado, a aderência diminuiu, e os pontos de freada serão antecipados.
A FIA achava que essas mudanças poderiam facilitar as ultrapassagens, mas está difícil encontrar um piloto que concorde com essa avaliação.
Claro que as modificações atingem todas as equipes e, na teoria, nivelam as chances.
Mas sabemos que a realidade da F-1 não é bem assim. As grandes contam com orçamentos gigantescos, que não raro superam os 100 milhões de dólares, e capacidade de experimentar qualquer novidade com muito mais agilidade.
A Williams, por exemplo, tem duas equipes de testes que podem trabalhar simultaneamente, em locais diversos. Ela começou a testar a configuração técnica de 98 em março do ano passado, quando o campeonato mal havia começado.
A Arrows, minha equipe, tem de se virar com a metade da verba da Williams. Com isso, só iniciou os testes com o "spec" 98 em outubro. Faz diferença, muita diferença -podem acreditar.
Para a torcida brasileira, que não comemora uma vitória desde 93 com Ayrton Senna, peço um pouquinho mais de paciência. Acho que tanto eu como o Rubinho Barrichello faremos um campeonato melhor que o de 97. A Arrows vem crescendo, o carro A19 foi concebido por um projetista renomado, John Barnard, que passou pela Benetton, McLaren e Ferrari, e tem soluções originais. A Stewart Grande Prix, equipe do Rubinho, saiu-se bem na temporada de estréia e promete ainda mais em 98.
Embora aposte que a Arrows ficará entre as seis primeiras no final do ano, ainda não dá para garantir uma vitória.
Por causa do fenômeno Senna, há uma certa pressão sobre os brasileiros. Senna deve ser lembrado como o maior piloto da história da F-1, e alguns dos seus recordes talvez jamais venham a ser igualados. O que não se deve perder de vista é que os brasileiros que vieram depois nunca tiveram a chance de andar numa equipe grande. Mas vamos chegar lá.


Pedro Paulo Diniz é piloto de F-1 da equipe Arrows



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