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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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FUTEBOL

Vai para o trono ou não vai?

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Algumas semanas atrás, soou o alerta: "Grandes podem ficar fora da semifinal do Paulista!". Chega a final, e não dá outra: o Corinthians luta pelo 24º título, e o São Paulo pelo 20º. Será que os pequenos nunca mais vão conseguir chegar lá? De 1937 para cá, só a Lusa (com seu meio título em 73, e não venha me dizer que ela é grande), Inter e Bragantino furaram o bloqueio de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos. Nos outros Estados, como lembrou Juca Kfouri no "Lance" de terça, não é muito diferente.
O que acontece com os times pequenos, que às vezes até encantam, dificultam a vida dos outros, mas mancam no final? Permita-me especular.
Quase sempre, os times vestem a camisa que lhe atribuem. Comportam-se conforme o figurino que a história, a crônica esportiva e a torcida confeccionaram para eles. Adotam sem questionar a filosofia de "jogar como pequeno", quer dizer: reconhecer a superioridade do rival e tentar primeiro anular seus pontos fortes para depois procurar um golzinho. O objetivo número um é não perder ou não dar vexame; o empate é bom, a vitória por pouco é ótima. A goleada está fora de cogitação.
Mas de vez em quando alguém ignora ou contesta esse destino. Aparece um time certinho, organizado, com bom toque de bola e alguma ousadia que pega os grandes de surpresa. Um São Paulo, por exemplo, ainda que não confesse ou nem se dê conta, nunca vai se preocupar em fazer uma marcação forte e descobrir quem é o perigo no time pequeno para anulá-lo. Então se o pequeno jogar "como grande", se não se contentar com pouco, pode enfrentar outro de igual para igual. Com seu ímpeto e qualidade e a vantagem da surpresa, ele inverte a lógica surrada -e dá-lhe "pequeno" na ponta da tabela...
Só que nas rodadas decisivas, na famosa hora-do-vamos-ver, o grande já se recuperou da surpresa. Tem um objetivo mais concreto e uma motivação mais aguda. Aí ele joga o que sabe e acaba com o azarão. Que sabe, lá no fundo (também sem confessar ou se dar conta), que já foi longe. Que um título é sonho grande demais, difícil de acreditar; que perder a essa altura não será nenhum vexame. E essa pequena desmotivação secreta pode facilitar o baile.
E tem mais: às vezes, supervalorizamos as surpresas. Em um jogo da primeira fase, o Souza, da Santista, driblou meio time na área adversária e chutou para fora. Foi uma sensação: "Viu como ele foi para cima?". Só porque o adversário era grande e ele, pequeno. Se jogasse igual no Santos, diríamos que ele "não fez nada o jogo inteiro, e ainda desperdiçou uma boa chance". Não estou medindo o futebol do Souza, que talvez seja muito bom; estou medindo as nossas impressões. Somos exigentes e condescendentes em graus diferentes, não tem jeito.
Mas, afinal, os pequenos podem ou não chegar lá? Claro que sim. Mas precisam querer e acreditar mais que os outros, além de simplesmente jogarem melhor. Ainda acho que uma hora dessas o São Caetano terá o seu dia.

Esperança x medo
Estive na formatura de uma turma da Polícia Militar no Anhangabaú, a convite do Coronel Rêgo, do Batalhão de Choque (empenhado na segurança dos estádios). A primeira impressão foi meio desconfortável. Aqueles coturnos e as marchas militares lembram guerra, e a farda cinza não é mesmo feita para parecer simpática. Maus policiais também nos deixam traumatizados, com medo de um gesto brusco inexplicado. Mas, depois, vi naquelas fardas jovens animados, abraçados aos pais humildes e orgulhosos, tirando fotos com as namoradas, segurando ramos de flores e filhos pequenos no colo. Deus queira que seja uma turma boa, que possa ajudar a diminuir o sofrimento desse mundo.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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