São Paulo, domingo, 13 de março de 2005

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Dinheiro de administrações municipais banca times e modalidades abandonados pelas equipes de futebol após a fuga de investidores que encheram cofres no final dos anos 90

Prefeitura Clube aproveita o vácuo do Futebol Clube

MARIANA LAJOLO
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Futebol Clube é coisa do passado. Agora, quem manda no esporte são as prefeituras.
Com investimentos milionários, municípios espalhados pelo país tomaram o lugar dos ex-poderosos e hoje endividados times de futebol no esporte brasileiro, tanto nas modalidades individuais quanto nas coletivas.
Há apenas cinco anos, 16 dos times que disputavam as ligas nacionais de futsal, vôlei e basquete eram ligados a grandes clubes, como Flamengo, Vasco e Corinthians, em um momento de euforia causado pelo dinheiro fácil de patrocinadores, como ISL, Bank of America e HMTF. Agora, apenas quatro equipes nessas ligas são "boleiras".
Hoje, quase duas dezenas de clubes nessas modalidades e no handebol são mantidos por uma prefeitura. Sem falar em times de futebol que contam com apoio estatal, como em cidades que recebem royalties do petróleo.
Modalidades individuais, como judô, taekwondo, tênis de mesa e boxe, sobrevivem, principalmente, com verbas municipais, que engordam a conta estatal do esporte -COB e federações são bancados basicamente com recursos da Lei Piva.
E não são as capitais que estão na frente dessa nova realidade.
Quem puxa a fila é a região do ABC. Juntas, Santo André, São Bernardo e São Caetano têm orçamentos para o esporte que superam R$ 30 milhões. Com um orçamento mais de quatro vezes maior que o ABC, São Paulo destina R$ 46 milhões à pasta.
"Nós preenchemos o abecedário inteiro. De atletismo a xadrez, onde tem esporte, São Bernardo está fazendo", afirma o secretário de Esporte José Fiorizi Piovesani.
A frase é exatamente a mesma usada por seu vizinho, Mauro Checkin, de São Caetano.
O município é o que tem o pé mais fincado na elite nacional. São dois times de basquete, dois de vôlei e dois de handebol.
São Caetano destina 3,3% do orçamento para o esporte -cerca de R$ 11 milhões. As equipes de competição recebem 70%.
"O time principal traz o ídolo e atrai o jovem para o esporte. Essa é nossa política", afirma Checkin.
Seu vizinho São Bernardo também investe, mas por meio de parceria. Destina R$ 600 mil por ano -cerca de metade do custo do time- ao vôlei do Banespa. O clube também leva R$ 310 mil como auxílio ao time de futsal.
A cidade investirá neste ano mais de R$ 2 milhões em repasse a clubes ou entidades esportivas.
A outra letra do ABC, Santo André, disputou o Nacional de basquete e a Liga de handebol femininas. É também parceira do São Paulo no futsal. Quem também se mantém na elite é Suzano (SP), que há mais de uma década ajuda a tocar o time masculino de vôlei.
Exemplos também surgem no Sul. O Paraná está no Nacional masculino de basquete com Londrina, Santa Catarina, com Joinville. Blumenau mantém um time na Liga feminina de handebol.
Para alguns, porém, o esporte competitivo, às vezes pesa. Líder entre os municípios que mais receberam dinheiro de royalties do petróleo em 2004, Campos vê seus times de ponta minguarem. A cidade já "suspendeu" os times de basquete. O feminino de vôlei só segue por patrocínio privado.
"Nosso objetivo não é vender nossa marca. Queremos ser reconhecidos pelos projetos sociais", afirma o secretário César Licurgo.
Com sua equipe, Campos gasta cerca de R$ 70 mil por mês. A cidade, porém, quer voltar às quadras, mas só com ajuda.

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