|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura oferece R$ 400 mil para clube de parlamentares; especialistas apontam que prática é ilegal
São Bernardo financia time de deputados
DA REPORTAGEM LOCAL
O público e o privado se misturam nos milionários investimentos que a Prefeitura de São Bernardo do Campo faz no esporte.
Entre as subvenções para 2005,
aparecem R$ 400 mil para o São
Bernardo Futebol Clube Ltda.,
clube criado no final do ano passado. O dinheiro já está à disposição do clube, mas os documentos
não foram assinados, e a verba
ainda não foi sacada.
Documento obtido pela Folha
na Junta Comercial de São Paulo
mostra que o time, criado com o
objetivo de "organizar e explorar
atividade esportivas", tem sete
proprietários. A maioria deles faz
parte da base política do prefeito
William Dib (PSB).
Os sócios majoritários são o deputado federal Edinho Montemor
(PL), que era secretário dos esportes de São Bernardo, e o deputado
estadual Orlando Morando Júnior (PL), que aparece em outdoors na cidade ao lado de Dib
para homenagear as mulheres. Os
dois e os outros cinco sócios fizeram um investimento inicial de
R$ 100 mil, ou um quarto do que a
Prefeitura deu ao clube.
Montemor diz que não vai querer o dinheiro agora, mas que vai
precisar dele no futuro. "Nós não
assinamos o convênio e não vamos assinar agora. Não estamos
precisando. Vamos deixar esse dinheiro para formação. No ano
vem vamos sim fazer um convênio com a prefeitura para estar estruturando melhor as divisões de
base", afirma o deputado, que pode se complicar com o caso.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, o fato de a empresa de
deputados receber subvenção pública é incompatível com a atividade parlamentar.
"No ato da diplomação, os deputados são obrigados a se desincompatibilizar [abrir mão do recebimento de recursos públicos].
O parlamentar que continuar ganhando verba pública como um
particular, incide em um impedimento incompatível com o exercício do mandato", diz Monica
Hermann Sallem Caggiano, professora de direito constitucional
da Faculdade de Direito da USP.
Ela disse que as Constituições
federal e estadual impedem quem
exerce mandatos eletivos de pertencer a sociedades contempladas
com verbas públicas.
Para Manuel Gonçalves Ferreira
Filho, ex-chefe do Departamento
de Direito do Estado da USP, "se
os parlamentares são donos do
clube, isso aí [a subvenção] seria
um desvio de recurso público em
benefício próprio".
A oposição promete levar o caso
ao Ministério Público.
"Eles não podem receber nenhum tipo de subvenção, nem para as categorias de base", diz o petista Wagner Lino, cujo partido
deu três de seus quatro votos a favor das subvenções da prefeitura.(MARIANA LAJOLO E PAULO COBOS)
Colaborou Luís Ferrari,
da Reportagem Local
Texto Anterior: Prefeitura Clube aproveita o vácuo do Futebol Clube Próximo Texto: Outro lado: Ética não foi ferida, dizem envolvidos Índice
|