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FUTEBOL
Aula prática sobre futebol
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Barcelona e Chelsea fizeram pela Copa dos Campeões da Europa um jogo inesquecível. Foi um espetáculo de talento individual, de técnica coletiva, de grande emoção e um confronto entre dois estilos.
Jogadores, treinadores, jornalistas esportivos, apaixonados pelo
futebol que desejam entender os
detalhes técnicos e táticos e os que
só querem torcer e/ou apreciar belíssimos lances, deveriam ter assistido ao jogo. Sugiro ainda que
os técnicos discutam a partida em
um seminário mediado pelo Carlos Alberto Parreira. Foi uma ótima aula prática sobre futebol.
Aprendi muito.
Apesar de terem estilos bem diferentes, Barcelona e Chelsea utilizam o mesmo desenho tático,
com uma linha de quatro defensores, três no meio-campo (um
volante e dois meias armadores) e
mais três atacantes.
O Barcelona é muito mais ofensivo porque marca mais à frente
e, quando toma a bola, têm sete
jogadores no ataque (dois meias,
dois laterais e três atacantes). Predominam os dribles, a troca de
passes e a valorização da posse de
bola. Assim o time fez quatro gols
e poderia ter feito mais nos dois
jogos contra a ótima defesa do
Chelsea.
Durante o último jogo, talvez
tenha faltado ao Barcelona variação na maneira de jogar. No segundo tempo, quando o resultado
o favorecia, o time poderia arriscar menos.
O Chelsea marca mais atrás,
atrai o adversário e utiliza bastante os lançamentos longos para
os seus atacantes. Como o Barcelona adianta a marcação e fica
com a defesa quase no meio-campo, o time inglês aproveitou muito bem os espaços nas costas dos
zagueiros. Foi tudo planejado pelo técnico Mourinho.
A equipe inglesa jogou de contra-ataque os dois jogos, mesmo
no início do segundo jogo, quando fez três gols, e até no momento
em que o resultado favorecia ao
Barcelona. Assim aconteceu a
maioria dos cinco gols do Chelsea
nas duas partidas, e poderia ter
feito mais.
A defesa do Chelsea é muito eficiente porque os laterais quase
não apóiam, os três do meio-campo, principalmente Makelele, protegem bem os zagueiros, e os dois
velozes atacantes pelos lados
marcam os laterais e ainda chegam ao ataque.
De um lado, havia o mágico Ronaldinho. Fez um gol maravilhoso. Pela primeira vez, vi um gol de
bico e de curva.
No Chelsea, havia o futebol coletivo e multifuncional de Lampard. Ele marca, apóia e faz gols.
E havia ainda outros excelentes
jogadores, como Deco, Xavi, Puyol, Eto'o, Terry, Duff e o goleiro
Cech.
Não foi uma vitória do futebol
de resultados sobre o futebol arte
nem uma surpresa. Os dois estilos
são eficientes, e as equipes se equivalem. O time inglês joga um futebol mais tático, mas também é
brilhante. O Barcelona apresenta
um estilo mais lúdico e bonito,
sendo também organizado taticamente. E torci pelo Barça.
A equipe ideal seria a que, além
de muitos excepcionais jogadores
e com características diferentes,
alternasse durante as partidas e
no momento certo os estilos do
Chelsea e do Barcelona.
Só a seleção brasileira poderia
fazer isso no mundo.
Mas não vai acontecer porque
Parreira prefere um estilo mais
seguro, com um padrão definido e
repetido durante os 90 minutos
em todas as partidas.
Talvez seja mais correto e prudente. Contudo o Brasil perde a
possibilidade de ter uma equipe
fantástica, como as melhores do
mundo de todos os tempos.
Imaginário
Espero que esteja errado, mas
será difícil Falcão brilhar na equipe do São Paulo. Além das grandes diferenças técnicas dos dois
esportes, está no imaginário de
todos (incluindo no de Falcão) a
lembrança do melhor jogador de
futebol de salão do mundo, e não
apenas a de um bom jogador. A
expectativa está muito distante
da realidade.
Seleção
Discordo somente da convocação do Gustavo Nery, que há muito tempo não jogava antes de se
transferir para o Corinthians. Já
Magrão está cada dia melhor.
Cicinho é um excelente ala, mas
não era tão bom na lateral quando jogava pelo Atlético-MG. Ele
avançava e deixava muitos espaços nas suas costas. São funções
diferentes. A mesma dificuldade
teve o Mancini. O Brasil ainda
não tem bons reservas para o Cafu e para o Roberto Carlos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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