São Paulo, domingo, 13 de março de 2005

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FUTEBOL

Principal jogadora da história do país começa a carreira de técnica e diz que prefere continuar vivendo nos EUA

Sissi vai para o banco e dá "bye bye, Brasil"

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sisleide do Amor Lima vai virar as costas para os gramados do Brasil definitivamente.
Nos EUA há quatro anos, Sissi, como é conhecida a maior jogadora da história do futebol brasileiro, começa a traçar sua nova carreira, no banco de reservas.
Desde o final de 2004, a meia concilia as partidas do Sacramento Storm com o trabalho de auxiliar técnica na escola Carondelet High School e na universidade Las Positas, ambas na Califórnia.
Quando apareceu para ajudar nos treinos pela primeira vez, Sissi causou espanto em algumas atletas. Elas não acreditavam que teriam a orientação da melhor jogadora das duas principais ligas norte-americanas em duas temporadas -da extinta WUSA, em 2000, e da WPLF, no ano passado.
O trabalho foi valorizado, tanto que ela recebeu duas propostas para assumir o cargo de "head coach" de times para meninas menores de 16 anos.
"É esse reconhecimento que me motiva a continuar aqui, mesmo depois de parar de jogar. Diferentemente do que acontece no Brasil, aqui as pessoas me param nas ruas", lamenta Sissi, que não esconde o desapontamento por ser mais famosa no país para onde se mudou do que no Brasil.
"Nos EUA, as oportunidades são muito maiores. Aqui há um grande respeito pelo futebol feminino. A tendência é que continue na Califórnia. Aliás, se voltasse ao Brasil, nem sei o que faria."
Em um português falado com algum sotaque, que denuncia os anos longe do Brasil, ela se considera perfeitamente adaptada ao "american way of life".
Tanto que conseguiu até quebrar um tabu fora dos campos. "Aprendi a dirigir nos EUA. No Brasil, sempre tinha amigos para me transportar e morria de medo do trânsito. Aqui, as pessoas respeitam mais as regras de tráfego", diz ela, que pilota um Mitsubishi Gallant em Walnut Creek, cidade a 20 minutos de San Francisco, para onde se mudou em 2003.
Nos EUA, Sissi, 37, também abandonou o visual com que despontou em 1999, no Mundial norte-americano. A careca à la Ronaldo deu lugar a um cabelo curto.
Foi naquele ano que a brasileira abriu as portas do mercado do país que a acolheu. Sissi, artilheira do torneio, passou a ser comparada a Mia Hamm, mais bem-sucedida jogadora da história do futebol. Virou celebridade nos EUA.
No Brasil, não tinha equipe para jogar. Pegou o avião de volta e figurou na primeira edição da Liga norte-americana feminina.
Além da segurança, a meia brasileira valoriza o fato de viver perto do parque de diversões da Disney, da estação de esqui de Lake Tahoe, para onde vai nos invernos, e de San Diego, onde desfruta o tempo livre no verão.
Segundo ela, sua incorporação ao cotidiano dos EUA passa pelas residências onde viveu. Desde o desembarque em San Jose, há quatro anos, Sissi quase sempre morou com os locais. Apesar da presença latina na Califórnia, Sissi conta que seu círculo de relações pessoais é diversificado. "Metade dos meus amigos são latinos, a outra metade é de americanos."
Além de trabalhar com futebol, a atleta freqüenta um curso de aperfeiçoamento em inglês.
Baiana, ela diz que o clima californiano ajudou a fazê-la sentir-se em casa. "Aqui não faz tanto frio. O verão e as praias lembram o Brasil. Claro que gostei de conhecer cidades como Nova York, mas só deixo a Califórnia a passeio."
Saudades do Brasil? Ela diz que tem, principalmente dos amigos e da comida de sua mãe. Mas conseguiu contornar o problema culinário. "Às vezes, sou obrigada a recorrer aos hambúrgueres, mas descobri uma lojinha de produtos brasileiros onde compro feijão e carne seca, que continuo comendo aqui quase todo dia. Também não abro mão do café brasileiro, apesar de incorporar o bacon ao café da manhã esporadicamente."
A mistura de hábitos alimentares brasileiros e norte-americanos não esconde o fato de Sissi, que tem um visto para trabalhar e morar nos EUA, viver como imigrante. Adaptada, é verdade, mas ainda assim estrangeira.
"Comandar a seleção brasileira é um sonho, mas acho impossível realizá-lo", diz Sissi, para quem a CBF nunca seguirá o exemplo de EUA, Suécia e Alemanha, que têm mulheres como treinadoras.
Então, bye bye, Brasil.

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