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FUTEBOL
Principal jogadora da história do país começa a carreira de técnica e diz que prefere continuar vivendo nos EUA
Sissi vai para o banco e dá "bye bye, Brasil"
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sisleide do Amor Lima vai virar
as costas para os gramados do
Brasil definitivamente.
Nos EUA há quatro anos, Sissi,
como é conhecida a maior jogadora da história do futebol brasileiro, começa a traçar sua nova
carreira, no banco de reservas.
Desde o final de 2004, a meia
concilia as partidas do Sacramento Storm com o trabalho de auxiliar técnica na escola Carondelet
High School e na universidade
Las Positas, ambas na Califórnia.
Quando apareceu para ajudar
nos treinos pela primeira vez, Sissi causou espanto em algumas
atletas. Elas não acreditavam que
teriam a orientação da melhor jogadora das duas principais ligas
norte-americanas em duas temporadas -da extinta WUSA, em
2000, e da WPLF, no ano passado.
O trabalho foi valorizado, tanto
que ela recebeu duas propostas
para assumir o cargo de "head
coach" de times para meninas
menores de 16 anos.
"É esse reconhecimento que me
motiva a continuar aqui, mesmo
depois de parar de jogar. Diferentemente do que acontece no Brasil, aqui as pessoas me param nas
ruas", lamenta Sissi, que não esconde o desapontamento por ser
mais famosa no país para onde se
mudou do que no Brasil.
"Nos EUA, as oportunidades
são muito maiores. Aqui há um
grande respeito pelo futebol feminino. A tendência é que continue
na Califórnia. Aliás, se voltasse ao
Brasil, nem sei o que faria."
Em um português falado com
algum sotaque, que denuncia os
anos longe do Brasil, ela se considera perfeitamente adaptada ao
"american way of life".
Tanto que conseguiu até quebrar um tabu fora dos campos.
"Aprendi a dirigir nos EUA. No
Brasil, sempre tinha amigos para
me transportar e morria de medo
do trânsito. Aqui, as pessoas respeitam mais as regras de tráfego",
diz ela, que pilota um Mitsubishi
Gallant em Walnut Creek, cidade
a 20 minutos de San Francisco,
para onde se mudou em 2003.
Nos EUA, Sissi, 37, também
abandonou o visual com que despontou em 1999, no Mundial norte-americano. A careca à la Ronaldo deu lugar a um cabelo curto.
Foi naquele ano que a brasileira
abriu as portas do mercado do
país que a acolheu. Sissi, artilheira
do torneio, passou a ser comparada a Mia Hamm, mais bem-sucedida jogadora da história do futebol. Virou celebridade nos EUA.
No Brasil, não tinha equipe para
jogar. Pegou o avião de volta e figurou na primeira edição da Liga
norte-americana feminina.
Além da segurança, a meia brasileira valoriza o fato de viver perto do parque de diversões da Disney, da estação de esqui de Lake
Tahoe, para onde vai nos invernos, e de San Diego, onde desfruta
o tempo livre no verão.
Segundo ela, sua incorporação
ao cotidiano dos EUA passa pelas
residências onde viveu. Desde o
desembarque em San Jose, há
quatro anos, Sissi quase sempre
morou com os locais. Apesar da
presença latina na Califórnia, Sissi
conta que seu círculo de relações
pessoais é diversificado. "Metade
dos meus amigos são latinos, a
outra metade é de americanos."
Além de trabalhar com futebol,
a atleta freqüenta um curso de
aperfeiçoamento em inglês.
Baiana, ela diz que o clima californiano ajudou a fazê-la sentir-se
em casa. "Aqui não faz tanto frio.
O verão e as praias lembram o
Brasil. Claro que gostei de conhecer cidades como Nova York, mas
só deixo a Califórnia a passeio."
Saudades do Brasil? Ela diz que
tem, principalmente dos amigos e
da comida de sua mãe. Mas conseguiu contornar o problema culinário. "Às vezes, sou obrigada a
recorrer aos hambúrgueres, mas
descobri uma lojinha de produtos
brasileiros onde compro feijão e
carne seca, que continuo comendo aqui quase todo dia. Também
não abro mão do café brasileiro,
apesar de incorporar o bacon ao
café da manhã esporadicamente."
A mistura de hábitos alimentares brasileiros e norte-americanos
não esconde o fato de Sissi, que
tem um visto para trabalhar e morar nos EUA, viver como imigrante. Adaptada, é verdade, mas ainda assim estrangeira.
"Comandar a seleção brasileira
é um sonho, mas acho impossível
realizá-lo", diz Sissi, para quem a
CBF nunca seguirá o exemplo de
EUA, Suécia e Alemanha, que têm
mulheres como treinadoras.
Então, bye bye, Brasil.
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