São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

O último fôlego do campeão

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians é campeão do Rio-SP com todos os méritos. Fez a melhor campanha do torneio e venceu a desgastante maratona de confrontos diretos com o São Paulo.
Mas a partida de ontem demonstrou que o time chegou ao limite de suas forças e já começa a ratear, fazendo o torcedor temer pelo que poderá acontecer quarta-feira, diante do Brasiliense.
Ricardinho, Vampeta (gripado), Kléber, Gil, Deivid -em suma, os principais atletas alvinegros- pareciam cansados, lentos e previsíveis. Nesse contexto, saltou aos olhos a principal fraqueza do time: a hesitação na hora de finalizar para o gol.
O clássico, que começou empolgante graças à gana com que o São Paulo buscou (e achou) o gol, logo caiu num certo marasmo.
Em desvantagem no placar, o Corinthians tentou alguns ataques, perdeu um par de gols e resolveu segurar o ímpeto tricolor, cozinhando a partida à espera de uma chance mais clara para definir o placar. Ficou um jogo opaco e sem inspiração. Não deixa de ser uma justiça poética o fato de o único momento de brilho do segundo tempo, o gol de falta corintiano, ter sido obra de Rogério, o jogador mais regular e aplicado de seu time.
Rogério, talvez o atleta que mais evoluiu ao longo do ano, é a encarnação do estilo Parreira. Defende e ataca com o mesmo empenho, pratica um futebol eficiente, solidário e desprovido de ornamentos. É o oposto de um Roberto Carlos, que faz pose de craque até para bater um lateral.
Nisso consiste o charme discreto do estilo Parreira: ele torna a equipe homogênea aparando o virtuosismo dos craques e potencializando as qualidades dos medianos. Seu objetivo não é jogar bonito, divertir ou empolgar, e, sim, vencer -como fez com a seleção brasileira em 94 e com o Corinthians agora.
A beleza, nesse esquema, é um luxo que pode aparecer aqui e ali -ou até não aparecer nunca. Ou melhor: a beleza, se existe, está na própria eficiência, no funcionamento da equipe como um organismo saudável e equilibrado.
Pessoalmente, prefiro um futebol mais alegre e ofensivo, mas não posso negar a alta competência do treinador. Vitórias e títulos são fatos contra os quais não há argumento.

O São Paulo padeceu, ao longo do campeonato, de uma flagrante instabilidade técnica e emocional, além de deficiências no esquema defensivo.
Nas finais, ressentiu-se da ausência de seu principal jogador (depois de Rogério) e ponto de referência, França. Além disso, Kaká, que desfalcou o time no primeiro jogo, não estava ontem em suas melhores condições. Ainda assim, levou perigo ao gol corintiano em duas ou três oportunidades. Agora, com a vinda do ótimo Oswaldo de Oliveira, a tendência é a casa ser arrumada, apesar da iminente saída de alguns atletas, a começar por França e Reinaldo, sem falar dos que vão servir a seleção.

Se é verdade que Parreira esfriou o Corinthians, é verdade também que o Corinthians esquentou Parreira. O treinador, que ensinou paciência aos jogadores e torcedores corintianos, foi contagiado, em contrapartida, pela paixão da Fiel. "Nunca vi nada igual", declarou várias vezes, comovido.


Heróis do dia
Em seu jogo de despedida antes de se transferir para a Lazio, o argentino Sorín garantiu seu lugar no coração dos torcedores cruzeirenses, ao fazer o gol que deu ao time o título da Copa Sul-Minas. Na Bahia, onde todo mundo é chamado de "meu rei", o verdadeiro soberano é Nonato, que marcou duas vezes contra o Vitória e deu o título do Campeonato do Nordeste ao Bahia.

Nuances de Scolari
Luiz Felipe Scolari, tido como um brucutu, tem nuances surpreendentes. Em entrevista publicada ontem neste caderno, disse que deixará Rogério Ceni bater faltas e chamou a atenção para um aspecto que não vi ninguém mencionar antes: por que os jogadores de futebol consideram impossível abster-se de sexo por 30 ou 40 dias se é isso que eles esperam de suas mulheres e namoradas?

E-mail jgcouto@uol.com.br



Texto Anterior: Defesa "light" pára melhor ataque
Próximo Texto: Automobilismo: Barrichello diz estar proibido de vencer
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.