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FUTEBOL
O último fôlego do campeão
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Corinthians é campeão
do Rio-SP com todos os méritos. Fez a melhor campanha do
torneio e venceu a desgastante
maratona de confrontos diretos
com o São Paulo.
Mas a partida de ontem demonstrou que o time chegou ao limite de suas forças e já começa a
ratear, fazendo o torcedor temer
pelo que poderá acontecer quarta-feira, diante do Brasiliense.
Ricardinho, Vampeta (gripado), Kléber, Gil, Deivid -em suma, os principais atletas alvinegros- pareciam cansados, lentos
e previsíveis. Nesse contexto, saltou aos olhos a principal fraqueza
do time: a hesitação na hora de finalizar para o gol.
O clássico, que começou empolgante graças à gana com que o
São Paulo buscou (e achou) o gol,
logo caiu num certo marasmo.
Em desvantagem no placar, o
Corinthians tentou alguns ataques, perdeu um par de gols e resolveu segurar o ímpeto tricolor,
cozinhando a partida à espera de
uma chance mais clara para definir o placar. Ficou um jogo opaco
e sem inspiração. Não deixa de
ser uma justiça poética o fato de o
único momento de brilho do segundo tempo, o gol de falta corintiano, ter sido obra de Rogério, o
jogador mais regular e aplicado
de seu time.
Rogério, talvez o atleta que
mais evoluiu ao longo do ano, é a
encarnação do estilo Parreira.
Defende e ataca com o mesmo
empenho, pratica um futebol eficiente, solidário e desprovido de
ornamentos. É o oposto de um
Roberto Carlos, que faz pose de
craque até para bater um lateral.
Nisso consiste o charme discreto
do estilo Parreira: ele torna a
equipe homogênea aparando o
virtuosismo dos craques e potencializando as qualidades dos medianos. Seu objetivo não é jogar
bonito, divertir ou empolgar, e,
sim, vencer -como fez com a seleção brasileira em 94 e com o Corinthians agora.
A beleza, nesse esquema, é um
luxo que pode aparecer aqui e ali
-ou até não aparecer nunca. Ou
melhor: a beleza, se existe, está na
própria eficiência, no funcionamento da equipe como um organismo saudável e equilibrado.
Pessoalmente, prefiro um futebol mais alegre e ofensivo, mas
não posso negar a alta competência do treinador. Vitórias e títulos
são fatos contra os quais não há
argumento.
O São Paulo padeceu, ao longo
do campeonato, de uma flagrante
instabilidade técnica e emocional, além de deficiências no esquema defensivo.
Nas finais, ressentiu-se da ausência de seu principal jogador
(depois de Rogério) e ponto de referência, França. Além disso, Kaká, que desfalcou o time no primeiro jogo, não estava ontem em
suas melhores condições. Ainda
assim, levou perigo ao gol corintiano em duas ou três oportunidades. Agora, com a vinda do ótimo Oswaldo de Oliveira, a tendência é a casa ser arrumada,
apesar da iminente saída de alguns atletas, a começar por França e Reinaldo, sem falar dos que
vão servir a seleção.
Se é verdade que Parreira esfriou o Corinthians, é verdade
também que o Corinthians esquentou Parreira. O treinador,
que ensinou paciência aos jogadores e torcedores corintianos, foi
contagiado, em contrapartida,
pela paixão da Fiel. "Nunca vi
nada igual", declarou várias vezes, comovido.
Heróis do dia
Em seu jogo de despedida antes de se transferir para a Lazio, o argentino Sorín garantiu seu lugar no coração dos
torcedores cruzeirenses, ao
fazer o gol que deu ao time o
título da Copa Sul-Minas. Na
Bahia, onde todo mundo é
chamado de "meu rei", o verdadeiro soberano é Nonato,
que marcou duas vezes contra o Vitória e deu o título do
Campeonato do Nordeste ao
Bahia.
Nuances de Scolari
Luiz Felipe Scolari, tido como
um brucutu, tem nuances
surpreendentes. Em entrevista publicada ontem neste caderno, disse que deixará Rogério Ceni bater faltas e chamou a atenção para um aspecto que não vi ninguém
mencionar antes: por que os
jogadores de futebol consideram impossível abster-se de
sexo por 30 ou 40 dias se é isso que eles esperam de suas
mulheres e namoradas?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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