São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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Em crise, África do Sul diz que combaterá violência

Energia, corrupção e racismo assustam, mas crime é eleito maior preocupação

Criminosos invadem casa de governador e até de presidente do primeiro país africano a receber uma Copa do Mundo de futebol

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A DURBAN

Criminalidade, falta de energia elétrica, corrupção e racismo. Tudo que poderia atrapalhar a imagem da África do Sul registrou episódios marcantes nos últimos dias, justamente quando o governo tenta convencer o mundo de que tem competência para organizar o Mundial de 2010. E, sobretudo, sem crimes.
Ontem, em Durban, uma das sedes da próxima Copa do Mundo, foi aberto ao público o maior evento de turismo do país, a Indaba, este ano voltada para a competição. No sábado, na abertura para a empresários e jornalistas, o governo elegeu a criminalidade como maior preocupação dos organizadores do torneio. E com conhecimento de causa. Um dia antes, a casa do principal governante da região em que fica Durban fora invadida por ladrões, que fugiram sem deixar pistas.
Dias antes, houve furto numa residência do presidente do país, Thabo Mbeki.
Ele encara movimento para que deixe o cargo graças a acusações de corrupção envolvendo gente do governo. A possível queda do presidente foi manchete de jornais do país.
Existe também investigação em curso sobre suposta fraude envolvendo a empresa que cuida do abastecimento de energia elétrica na África do Sul.
Uma das acusações é de que a insuficiência não passou de uma fraude causada para atender a interesses financeiros. Às vésperas de Durban receber gente do mundo inteiro para falar de Copa, ocorreu, em Pretória, um encontro do AWB, movimento que defende o "direito dos brancos" e promete ressurgir, quase 20 anos após o final do apartheid.
Com todos esses assuntos nos jornais, Danny Jordaan, número um do Comitê Organizador da Copa, esforçou-se ontem em Durban para assegurar à imprensa que a situação está controlada.
"A nossa principal preocupação é ver os melhores times classificados. Alemanha, Inglaterra, Itália e Japão", afirmou o executivo. Respondia se a criminalidade é o maior desafio.
E justificou a inclusão dos japoneses pelo número de fãs que o país pode levar à África do Sul. Para ele, a não-classificação de uma grande seleção significa prejuízo financeiro.
O executivo também deu uma resposta atravessada a uma jornalista californiana, que apontou a preocupação dos sul-africanos com a violência diária no país. "Já fizemos grandes eventos de rúgbi e outros esportes aqui.
Não tivemos problemas. Você não pode ter 100% de certeza de que não haverá violência, mas isso também ocorre em relação terrorismo", declarou ele. Na primeira cerimônia do evento turístico, Sibusiso Ndebele, fez elogios à ação da polícia da região de Durban, chamada Kwazulu-Natal, da qual é o premiê, cargo semelhante ao de governador. Foi ele quem teve a sua casa invadida por ladrões. Porém, Ndebele não mencionou o fato.
Reação diferente teve Moeketsi Mosola, que comanda o South African Tourism, órgão governamental do turismo.
"Poucos de nós não concordam que a criminalidade é um desafio que precisamos encarar e resolver", discursou Mosola.

Violência contra brancos
A questão dos crimes é a senha até para quem está envolvido na organização do Mundial dar sinais de como é a relação entre negros e brancos no país.
Informalmente, o responsável por um dos estádios em construção ao Mundial diz que a violência só passou a ser discutida depois que brancos também passaram a ser vítimas de crimes na África do Sul.
Em meio à esse turbilhão, o chefe do comitê organizador defendeu os gastos do governo com a preparação para o Mundial, US$ 3 bilhões, segundo ele.
Mesma quantia desembolsada pelos patrocinadores do torneio, em suas contas.
"Aqui as pessoas não reclamam dos gastos com a Copa do Mundo porque cerca de 65% da receita do governo é investida em hospitais, entre outras finalidades sociais", disse Jordaan.


O jornalista RICARDO PERRONE viajou a convite do South African Tourism e da South African Airways

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