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Em crise, África do Sul diz que combaterá violência
Energia, corrupção e racismo assustam, mas crime é eleito maior preocupação
Criminosos invadem casa de governador e até de
presidente do primeiro país africano a receber uma Copa
do Mundo de futebol
RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A DURBAN
Criminalidade, falta de energia elétrica, corrupção e racismo. Tudo que poderia atrapalhar a imagem da África do Sul
registrou episódios marcantes
nos últimos dias, justamente
quando o governo tenta convencer o mundo de que tem
competência para organizar o
Mundial de 2010. E, sobretudo,
sem crimes.
Ontem, em Durban, uma das
sedes da próxima Copa do
Mundo, foi aberto ao público o
maior evento de turismo do
país, a Indaba, este ano voltada
para a competição. No sábado,
na abertura para a empresários
e jornalistas, o governo elegeu a
criminalidade como maior
preocupação dos organizadores do torneio. E com conhecimento de causa. Um dia antes, a
casa do principal governante da
região em que fica Durban fora
invadida por ladrões, que fugiram sem deixar pistas.
Dias antes, houve furto numa
residência do presidente do
país, Thabo Mbeki.
Ele encara movimento para
que deixe o cargo graças a acusações de corrupção envolvendo gente do governo. A possível
queda do presidente foi manchete de jornais do país.
Existe também investigação
em curso sobre suposta fraude
envolvendo a empresa que cuida do abastecimento de energia
elétrica na África do Sul.
Uma das acusações é de que a
insuficiência não passou de
uma fraude causada para atender a interesses financeiros.
Às vésperas de Durban receber gente do mundo inteiro para falar de Copa, ocorreu, em
Pretória, um encontro do AWB,
movimento que defende o "direito dos brancos" e promete
ressurgir, quase 20 anos após o
final do apartheid.
Com todos esses assuntos
nos jornais, Danny Jordaan,
número um do Comitê Organizador da Copa, esforçou-se ontem em Durban para assegurar
à imprensa que a situação está
controlada.
"A nossa principal preocupação é ver os melhores times
classificados. Alemanha, Inglaterra, Itália e Japão", afirmou o
executivo. Respondia se a criminalidade é o maior desafio.
E justificou a inclusão dos japoneses pelo número de fãs
que o país pode levar à África do
Sul. Para ele, a não-classificação de uma grande seleção significa prejuízo financeiro.
O executivo também deu
uma resposta atravessada a
uma jornalista californiana,
que apontou a preocupação dos
sul-africanos com a violência
diária no país.
"Já fizemos grandes eventos
de rúgbi e outros esportes aqui.
Não tivemos problemas. Você
não pode ter 100% de certeza
de que não haverá violência,
mas isso também ocorre em relação terrorismo", declarou ele.
Na primeira cerimônia do
evento turístico, Sibusiso Ndebele, fez elogios à ação da polícia da região de Durban, chamada Kwazulu-Natal, da qual é
o premiê, cargo semelhante ao
de governador. Foi ele quem teve a sua casa invadida por ladrões. Porém, Ndebele não
mencionou o fato.
Reação diferente teve Moeketsi Mosola, que comanda o
South African Tourism, órgão
governamental do turismo.
"Poucos de nós não concordam que a criminalidade é um
desafio que precisamos encarar
e resolver", discursou Mosola.
Violência contra brancos
A questão dos crimes é a senha até para quem está envolvido na organização do Mundial
dar sinais de como é a relação
entre negros e brancos no país.
Informalmente, o responsável por um dos estádios em
construção ao Mundial diz que
a violência só passou a ser discutida depois que brancos também passaram a ser vítimas de
crimes na África do Sul.
Em meio à esse turbilhão, o
chefe do comitê organizador
defendeu os gastos do governo
com a preparação para o Mundial, US$ 3 bilhões, segundo ele.
Mesma quantia desembolsada
pelos patrocinadores do torneio, em suas contas.
"Aqui as pessoas não reclamam dos gastos com a Copa do
Mundo porque cerca de 65% da
receita do governo é investida
em hospitais, entre outras finalidades sociais", disse Jordaan.
O jornalista RICARDO PERRONE viajou a convite do South African Tourism e da South African
Airways
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