São Paulo, quarta, 13 de maio de 1998

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Sem garra, não adianta irmos à França

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Desconfio que realmente alguém lá em cima gosta mesmo de Zagallo. Pelo menos, anda emitindo sinais de luz para que nosso treinador encontre o melhor caminho em direção, senão ao título, à formação mais adequada do nosso time.
Já seduziu alguém da comissão técnica a convencer o técnico da necessidade de convocar Giovanni, o que poderá conferir, finalmente, o esperado equilíbrio do nosso meio-campo. Agora, trata de jogar uma sombra sobre os volantes César Sampaio e Flávio Conceição, sem contar a ameaça que ronda a efetivação de Márcio Santos.
Antes de ir em frente, deixem-me dizer que considero todos os três excelentes, perfeitamente capazes de integrarem o grupo que irá à Copa, a quem desejo os maiores augúrios no campo e na vida.
Mas fico aqui imaginando se Zagallo, tão crente em sinais cabalísticos, não recebesse estes como uma advertência para mudar de rumo.
Por exemplo: a desconvocação de Márcio Santos (mas que uruca desse moço, hein?) permitiria a Zagallo chamar Mauro Galvão, que só faz por merecer esse prêmio.
No caso dos volantes, ah se nosso treinador pensasse assim: dois de uma vez, ambos - titular e reserva -da mesma posição- a de segundo volante, que prefiro chamar de meia-direita? Isso quer dizer que mandaram um raio não na cabeça dos ameaçados, mas do lugar que eles ocupam, indevidamente.
Explico: como joga o Barcelona, campeão com folga e brilho incomum da Espanha, de quem Zagallo sequestrou metade do meio-campo, nas figuras de Giovanni e Rivaldo? Com apenas um cabeça-de-área, o menino Celades e três armadores-atacantes -os citados brasileiros mais Luís Enrique. E como se sagrou campeão paulista o tricolor de Nelsinho? Com apenas um cabeça-de-área -Alexandre- e três meias -Carlos Miguel, Raí e Fabiano.
Ah, sim, ambos os times, até cada um levantar a sua taça, em torneios de formatos diferentes, eram compostos por jogadores dedicados, que se atiravam à luta com denodo. E isso compensaria a teórica fragilidade na marcação pela ausência de típicos leões-de-chácara.
É verdade. Mas sem empenho, sem dedicação, sem paixão, como dizia mestre Nelson Rodrigues, não se chupa nem um picolé. Isso é atributo essencial a qualquer time de futebol que pretenda disputar a taça varzeana de Pirituba, quanto mais a Copa do Mundo.
Sem garra, não adianta irmos à França, nem escoltados por dez Dungas.
Dou essas voltas para chegar onde quero: caso não possa contar com Sampaio e Conceição, bem que Zagallo poderia recuar Leonardo para uma das vagas, abrindo espaço para a chamada ou de Juninho ou de Muller, mais à frente. Na outra vaga, o jovem Vampeta ou o veterano e genial Válber, sim senhor, não se espante. Pois ambos tanto jogam ali no meio-campo como podem cobrir a ausência do reserva de Cafu, na lateral-direita.
Por fim, dispensaria Doriva, com todas as honras, e chamaria correndo esse menino Alexandre.


Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas



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