São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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TÊNIS

Foi isso!

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Gustavo Kuerten disputou esta edição de Roland Garros em um ritmo que poucos sabem dosar durante um Grand Slam. Na primeira semana, um físico perfeito, que lhe permitiu, usando só parte da sua técnica, atropelar os adversários.
Depois de um jogo em que usou o físico, a técnica e a mente, contra Michael Russell, veio o seu lado menos conhecido: uma força psicológica que o diferenciou da alta técnica também de seus adversários nos jogos finais.
Foi isso.

O primeiro e-mail com críticas que recebi nesta coluna foi bastante ácido. Entendo. Eu havia dito, em agosto ou setembro de 2000, que Guga precisava descobrir seu lugar entre os melhores do mundo. Que ele poderia ter uma posição modesta entre os grandes ou ficar ali na frente.
Como resposta ao e-mail nem tão educado, lembro também ter dito que não seria este mero colunista que classificaria Guga neste ou naquele lugar; que esse trabalho, óbvio, só caberia a ele.
Pois bem. Agora já é citado ao lado de Ivan Lendl, Mats Wilander... Já se diz que vai atrás de Bjorn Borg...
Ele mesmo já começa a falar como grande. Que se sente tão em casa na quadra central de Roland Garros como nas em que aprendeu a jogar, em Florianópolis. Já fala em francês, usa camiseta com inscrições, desenha corações na quadra...
A cada título, ele próprio, Guga, começa a desenhar também o seu lugar entre os grandes.

O que há mais para ser dito após mais esta edição de Roland Garros, modo geral?
Que estamos assistindo à ascensão de novos talentos no feminino, como as belgas Kim Clisjters e Justine Henin. Apesar de a primeira ter ido à final, recomendo atenção na segunda.
Que Venus Williams e Martina Hingis precisam ficar espertas. Que o ranking mundial feminino não reflete o que está acontecendo nas quadras. Só isso explica Hingis ser, com folgas, a número um e Capriati estar apenas em quarto lugar.
Que, com tanto jogo bom, ninguém sentiu falta nem de Anna Kournikova.
Que Pete Sampras, 712 vitórias e 63 títulos em sua vida, vai deixar as quadras com essa mancha (de saibro) em seu currículo. E que os adversários, no saibro, perderam todo o medo dele (alguns, além do medo, parecem ter perdido o respeito).
Que falta ainda um pouquinho de cabeça para Lleyton Hewitt, Juan Carlos Ferrero e Roger Federer. Mas que, alguma hora, eles chegam lá.
Que, arrisco aqui, Sébastien Grosjean não será um nome na história do tênis. Mas que, tudo bem, se o Guga estiver lá, os franceses têm pra quem torcer.
Que Andy Roddick mostrou de novo talento e de novo chorou. Mas, desta vez, de dor. E o que ficou evidente foi a vontade e a coragem de jogar de igual para igual com qualquer um.
Que Ievguêni Kafelnikov fala, fala, fala, fala... Que Fernando Meligeni, luta, luta, luta, luta...
Que Marat Safin não é mais o mesmo.
Que o Guga ganha de todos os argentinos, mas que o tênis argentino dá de dez no brasileiro.
Que o Guga ganha de todos os espanhóis, mas que o tênis espanhol dá de mil no brasileiro.
Que, ainda bem, no ano que vem tem mais Roland Garros!

Sem agradar
Os Grand Slams terão 32 pré-favoritos. O primeiro do ranking não será o cabeça-de-chave número um. O melhor comentário, por incrível que pareça, foi de Marat Safin, sabendo que a manobra é para fazer Pete Sampras número um em Wimbledon: "Ele é o quarto do ranking, então deve ser o quarto cabeça. Se é bom, ganhará sendo primeiro cabeça-de-chave ou não".

Para agradar?
Agora que temos um ATP Tour, querem levá-lo para a Costa do Sauípe, resort paradisíaco e exclusivíssimo na Bahia. É isso que faz parte da campanha para popularizar o tênis no país?

Agradecimento
A todos aqueles que escreveram e me ajudaram a saber o que se passava em Roland Garros, meu obrigado. O e-mail abaixo continua aberto. E, mesmo sem Guga, a bolinha não pára.

E-mail: reandaku@uol.com.br




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