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TÊNIS
Foi isso!
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Gustavo Kuerten disputou esta edição de Roland
Garros em um ritmo que poucos
sabem dosar durante um Grand
Slam. Na primeira semana, um
físico perfeito, que lhe permitiu,
usando só parte da sua técnica,
atropelar os adversários.
Depois de um jogo em que
usou o físico, a técnica e a mente, contra Michael Russell, veio o
seu lado menos conhecido: uma
força psicológica que o diferenciou da alta técnica também de
seus adversários nos jogos finais.
Foi isso.
O primeiro e-mail com críticas
que recebi nesta coluna foi bastante ácido. Entendo. Eu havia
dito, em agosto ou setembro de
2000, que Guga precisava descobrir seu lugar entre os melhores
do mundo. Que ele poderia ter
uma posição modesta entre os
grandes ou ficar ali na frente.
Como resposta ao e-mail nem
tão educado, lembro também
ter dito que não seria este mero
colunista que classificaria Guga
neste ou naquele lugar; que esse
trabalho, óbvio, só caberia a ele.
Pois bem. Agora já é citado ao
lado de Ivan Lendl, Mats Wilander... Já se diz que vai atrás
de Bjorn Borg...
Ele mesmo já começa a falar
como grande. Que se sente tão
em casa na quadra central de
Roland Garros como nas em
que aprendeu a jogar, em Florianópolis. Já fala em francês,
usa camiseta com inscrições, desenha corações na quadra...
A cada título, ele próprio, Guga, começa a desenhar também
o seu lugar entre os grandes.
O que há mais para ser dito
após mais esta edição de Roland
Garros, modo geral?
Que estamos assistindo à ascensão de novos talentos no feminino, como as belgas Kim
Clisjters e Justine Henin. Apesar
de a primeira ter ido à final, recomendo atenção na segunda.
Que Venus Williams e Martina Hingis precisam ficar espertas. Que o ranking mundial feminino não reflete o que está
acontecendo nas quadras. Só isso explica Hingis ser, com folgas,
a número um e Capriati estar
apenas em quarto lugar.
Que, com tanto jogo bom, ninguém sentiu falta nem de Anna
Kournikova.
Que Pete Sampras, 712 vitórias e 63 títulos em sua vida, vai
deixar as quadras com essa
mancha (de saibro) em seu currículo. E que os adversários, no
saibro, perderam todo o medo
dele (alguns, além do medo, parecem ter perdido o respeito).
Que falta ainda um pouquinho de cabeça para Lleyton Hewitt, Juan Carlos Ferrero e Roger Federer. Mas que, alguma
hora, eles chegam lá.
Que, arrisco aqui, Sébastien
Grosjean não será um nome na
história do tênis. Mas que, tudo
bem, se o Guga estiver lá, os
franceses têm pra quem torcer.
Que Andy Roddick mostrou
de novo talento e de novo chorou. Mas, desta vez, de dor. E o
que ficou evidente foi a vontade
e a coragem de jogar de igual
para igual com qualquer um.
Que Ievguêni Kafelnikov fala,
fala, fala, fala... Que Fernando
Meligeni, luta, luta, luta, luta...
Que Marat Safin não é mais o
mesmo.
Que o Guga ganha de todos os
argentinos, mas que o tênis argentino dá de dez no brasileiro.
Que o Guga ganha de todos os
espanhóis, mas que o tênis espanhol dá de mil no brasileiro.
Que, ainda bem, no ano que
vem tem mais Roland Garros!
Sem agradar
Os Grand Slams terão 32 pré-favoritos. O primeiro do ranking
não será o cabeça-de-chave número um. O melhor comentário,
por incrível que pareça, foi de Marat Safin, sabendo que a manobra é para fazer Pete Sampras número um em Wimbledon:
"Ele é o quarto do ranking, então deve ser o quarto cabeça. Se é
bom, ganhará sendo primeiro cabeça-de-chave ou não".
Para agradar?
Agora que temos um ATP Tour, querem levá-lo para a Costa do
Sauípe, resort paradisíaco e exclusivíssimo na Bahia. É isso que
faz parte da campanha para popularizar o tênis no país?
Agradecimento
A todos aqueles que escreveram e me ajudaram a saber o que se
passava em Roland Garros, meu obrigado. O e-mail abaixo
continua aberto. E, mesmo sem Guga, a bolinha não pára.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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