São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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FUTEBOL

A vez do Felipão

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Leão chegou, comparou-se a um ministro que sabe muitas coisas e ameaçou contar tudo, dependendo da conversa que terá com Ricardo Teixeira.
Espero que o técnico colabore com o futebol brasileiro e diga claramente o que sabe.
O ex-técnico da seleção afirmou que, a pedido da CBF, elaborou a lista de 22 jogadores para a partida contra o Uruguai e que depois, para sua surpresa, foi demitido.
Se é verdade que na lista estavam nomes de muitos jogadores que atuaram na Copa das Confederações, a dispensa foi correta. Não no café do aeroporto.
Os crônicos e graves problemas fora de campo do futebol brasileiro atrapalham a seleção e precisam ser resolvidos, mas não são os únicos motivos das péssimas atuações da equipe, como muitos dizem.
É possível formar um excelente time, classificar e ganhar a próxima Copa do Mundo.
Para isso, Felipão precisa convocar e escalar os melhores, mudar pouco, definir uma nova postura tática e criar uma forte empatia entre os jogadores e o público.
Wanderley Luxemburgo e Emerson Leão foram incompetentes no comando da seleção.
O bom técnico do Corinthians convocou e escalou mal e não teve equilíbrio emocional para ocupar o cargo. Ele foi dispensado pela má qualidade técnica, não por problemas particulares.
Neste momento, o retorno de Luxemburgo, como muitos queriam, seria a completa desmoralização do futebol brasileiro.
Como todos os técnicos, Felipão tem virtudes e defeitos. Hoje, é o mais bem preparado tecnicamente para a função. O preferido dos torcedores.
Espero que tenha equilíbrio emocional e outras qualidades para o cargo. Terá de ser discreto e menos estrela. Seleção não é clube. Um pouco de bom humor também ajuda.
Será que o coordenador técnico da seleção, Antônio Lopes, vai continuar em seu cargo decorativo?

Outro jogo igual
A partida entre Palmeiras e Boca Juniors, hoje, não será diferente.
Acertadamente, Celso Roth vai manter três volantes no meio-campo.
Como lá, aqui o Palmeiras terá de pressionar e marcar individualmente o Riquelme, apesar dos inúmeros dribles que Galeano levou do craque argentino. Além disso, o meia-atacante Juninho era o mais fraco da equipe paulista.
Um time pode jogar com três volantes (a França fez assim contra o Brasil), desde que eles atuem como armadores, não como zagueiros, como também aconteceu no primeiro jogo em Buenos Aires. Quando recuperavam a posse de bola, Magrão e Fernando se transformavam em armadores ofensivos.
A falta de bons jogadores de meio-campo com capacidade de defender e atacar é um dos grandes problemas do futebol brasileiro. Os volantes franceses Vieira e Pires foram os destaques da Copa das Confederações. Desarmaram, apoiaram e fizeram gols decisivos contra o Brasil e o Japão.
As boas atuações de Magrão e Fernando em Buenos Aires sugerem que os volantes brasileiros não são tão sem habilidade como pensamos.
O problema é que, desde as categorias de base, eles só escutam as palavras marcar, pegar e derrubar. Se esquecem de jogar futebol.
Se hoje o Palmeiras achar que é o favorito e relaxar, perde ou empata e aí vai para os pênaltis. Nem sempre "são Marcos" está inspirado para fazer milagres.

Controle remoto
No segundo tempo da partida entre Corinthians e Grêmio, resolvi variar de canal.
Passei da ESPN Brasil para a Rede Globo. O time paulista tinha todas as facilidades no contra-ataque, fez o segundo gol e estava próximo do terceiro. Aí, numa jogada isolada, o Grêmio marcou seu primeiro gol.
Como faz a maioria dos técnicos, Luxemburgo imediatamente tirou o Muller, o mais lúcido jogador do Corinthians, autor de um belíssimo gol, e colocou mais um atleta para segurar o jogo.
Galvão Bueno, que entende de futebol, não gostou. Passou a bola para os comentaristas. Como sempre, perguntou induzindo a resposta:
- Falcão, o Corinthians estava muito bem no contra-ataque com Muller. Gostou da substituição?
- Luxemburgo mexeu certo. O Corinthians está respeitando o Grêmio. É preciso reforçar a marcação.
Falcão adora reforçar a marcação.
Não satisfeito, Galvão continuou o papo com o Casagrande.
- Casagrande, com Muller e Marcelinho abertos o Corinthians estava chegando fácil ao gol do Grêmio. O que achou da substituição?
- Gostei. O Corinthians já fez dois gols na casa do adversário e não pode arriscar.
O Grêmio pressionou, empatou e quase fez o terceiro.
Luxemburgo, então, enxergou o erro. Retirou um dos volantes (André Luiz) e colocou um atacante (Gil). O Corinthians melhorou e voltou a atacar com perigo.
Retornei para a ESPN Brasil, de onde não deveria ter saído.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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