São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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RÉGIS ANDAKU

Cães e buldogues

Enquanto Federer seguir como um cãozinho elegante por Paris, Roland Garros será do buldogue Nadal

"E U NÃO lembro direito como me senti [depois da derrota] no ano passado. Acho que sofri, sim, mas por cinco minutos apenas. A mesma coisa hoje. Fui para o vestiário, estava triste, desapontado, não tinha muito o que falar. (...) Mas tudo bem. Joguei outra final de Grand Slam, estou em boa forma. Então não vou ficar triste por muito tempo. Tenho experiência, não vou morrer por causa disso." Achou bonito e poético o que Roger Federer disse, daquele jeito calmo, pausado, em bom inglês, cerca de 40 minutos após a (segunda) derrota para Rafael Nadal na final de Roland Garros? O Federer de sempre -educado, tranqüilo, bom perdedor (quando perde), sereno, equilibrado. Mas talvez por isso mesmo, pela terceira vez seguida, deixa de completar o Grand Slam na França diante do "moleque espanhol".
Como na final do ano passado, como nas semifinais do ano retrasado, faltou a Federer, na decisão deste ano, "sangue nos olhos", a agressividade necessária, no saibro e em um jogo decisivo, para ficar com o troféu. Nadal, mais uma vez, pareceu querer mais do que Federer. Ficou ele com o troféu -merecidamente. Federer teve 17 chances para quebrar o saque de Nadal. Desperdiçou nada menos que 16. Perdeu aí. O que Federer disse sobre isso? "Não digo que tive um problema com isso.
Nunca converto 100% dos break points que tenho. Fiquei feliz com o tênis que joguei no primeiro set." Neste ano, em vez de jogar em Halle e curar a ressaca com outro título, Federer resolveu ir para casa. Sábia decisão. Deixará de ganhar dinheiro e mais um título na grama, mas talvez sinta forte a dor de mais uma derrota no saibro, de mais um passeio de Rafael Nadal, de mais uma chance perdida de fazer história.
Federer precisa sentir forte a dor dessa derrota, sentir-se provocado pelos berros e gestos grosseiros de Nadal, humilhado pela torcida que já faz piada de sua dificuldade no saibro, questionado pelos críticos que duvidam que ele chegará lá. Talvez isso lhe renda a dose extra de motivação para brigar, como um cachorro, pelo título que lhe falta. Enquanto ele seguir como um cãozinho elegante pelas alamedas parisienses, a área será do buldogue Nadal.

PRIMEIRA VEZ
Faltou calma a Ana Ivanovic, nova musa e vice em Roland Garros. "Mas aprendi a lição", disse, em seguida. Justine Henin comemorou o titulo com a família, com quem parece ter finalmente acertado uma relação que sempre foi conturbada.

PRIMEIRO FILHO
Nasceu no fim de semana Jagger Jonathan, filho dos ex-tenistas Lindsay Davenport e Jon Leach. Mãe e filho passam bem.

PRIMEIRO BRASILEIRO
Dez anos após o triunfo de Gustavo Kuerten (no domingo elegante, de terno), Thiago Alves é número um do país e apenas o 135º do mundo.

reandaku@uol.com.br


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