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RÉGIS ANDAKU
Cães e buldogues
Enquanto Federer seguir como um cãozinho elegante por Paris, Roland Garros será do buldogue Nadal
"E
U NÃO lembro direito como me senti [depois da
derrota] no ano passado.
Acho que sofri, sim, mas por cinco
minutos apenas. A mesma coisa hoje. Fui para o vestiário, estava triste,
desapontado, não tinha muito o que
falar. (...) Mas tudo bem. Joguei outra final de Grand Slam, estou em
boa forma. Então não vou ficar triste
por muito tempo. Tenho experiência, não vou morrer por causa disso."
Achou bonito e poético o que Roger Federer disse, daquele jeito calmo, pausado, em bom inglês, cerca
de 40 minutos após a (segunda) derrota para Rafael Nadal na final de
Roland Garros? O Federer de sempre -educado, tranqüilo, bom perdedor (quando perde), sereno, equilibrado. Mas talvez por isso mesmo,
pela terceira vez seguida, deixa de
completar o Grand Slam na França
diante do "moleque espanhol".
Como na final do ano passado, como nas semifinais do ano retrasado,
faltou a Federer, na decisão deste
ano, "sangue nos olhos", a agressividade necessária, no saibro e em um
jogo decisivo, para ficar com o troféu. Nadal, mais uma vez, pareceu
querer mais do que Federer. Ficou
ele com o troféu -merecidamente.
Federer teve 17 chances para quebrar o saque de Nadal. Desperdiçou
nada menos que 16. Perdeu aí. O que
Federer disse sobre isso? "Não digo
que tive um problema com isso.
Nunca converto 100% dos break
points que tenho. Fiquei feliz com o
tênis que joguei no primeiro set."
Neste ano, em vez de jogar em Halle e curar a ressaca com outro título,
Federer resolveu ir para casa. Sábia
decisão. Deixará de ganhar dinheiro
e mais um título na grama, mas talvez sinta forte a dor de mais uma
derrota no saibro, de mais um passeio de Rafael Nadal, de mais uma
chance perdida de fazer história.
Federer precisa sentir forte a dor
dessa derrota, sentir-se provocado
pelos berros e gestos grosseiros de
Nadal, humilhado pela torcida que
já faz piada de sua dificuldade no saibro, questionado pelos críticos que
duvidam que ele chegará lá. Talvez
isso lhe renda a dose extra de motivação para brigar, como um cachorro, pelo título que lhe falta. Enquanto ele seguir como um cãozinho elegante pelas alamedas parisienses, a
área será do buldogue Nadal.
PRIMEIRA VEZ
Faltou calma a Ana Ivanovic, nova
musa e vice em Roland Garros.
"Mas aprendi a lição", disse, em seguida. Justine Henin comemorou o
titulo com a família, com quem parece ter finalmente acertado uma
relação que sempre foi conturbada.
PRIMEIRO FILHO
Nasceu no fim de semana Jagger
Jonathan, filho dos ex-tenistas
Lindsay Davenport e Jon Leach.
Mãe e filho passam bem.
PRIMEIRO BRASILEIRO
Dez anos após o triunfo de Gustavo
Kuerten (no domingo elegante, de
terno), Thiago Alves é número um
do país e apenas o 135º do mundo.
reandaku@uol.com.br
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