São Paulo, Domingo, 13 de Junho de 1999
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BASQUETE
Desde o título mundial, em 12 de junho de 94, seleção foi melhor do que a masculina nos torneios importantes
Arranque feminino completa cinco anos


LUÍS CURRO
da Reportagem Local

O basquete feminino brasileiro completa neste fim-de-semana cinco anos de seu maior feito, o título mundial -e de uma série de resultados que superam com facilidade os alcançados pelo basquete nacional masculino.
A partir daquele momento, e com conquistas importantes nos anos seguintes, a seleção feminina passou a ter mais respeito internacional do que a masculina, que obteve seu último grande feito em 1987, com o ouro no Pan-Americano de Indianápolis (EUA).
Em 12 de junho de 1994, a seleção, com uma campanha de seis vitórias e duas derrotas, sagrou-se campeã mundial, em campeonato disputado na Austrália, pela primeira -e única- vez na história.
Na decisão, o Brasil derrotou a China por 96 a 84. Os destaques foram Hortência, com 27 pontos, Janeth, com 20, e Paula, com 17.
Pode-se questionar se a arrancada feminina não teria começado em 1991, quando a geração de Paula e Hortência venceu, em Cuba, o Pan-Americano e recebeu cumprimentos do líder Fidel Castro.
Mas a superioridade sobre o basquete masculino não foi mantida na Olimpíada de Barcelona-92. A seleção feminina, entre oito participantes, ficou na penúltima posição. A masculina foi a quinta colocada entre 12 equipes.
Depois de 94, a seleção feminina sempre esteve em vantagem (veja a comparação ao lado).
Naquele mesmo ano, com um 11º lugar no Mundial (pior resultado na história da equipe nesse tipo de competição), a seleção masculina iniciou um processo de decadência que pode culminar com a não-classificação para os Jogos Olímpicos de Sydney-2000.
Em julho, a equipe -caso se classifique no Sul-Americano, de amanhã a domingo, na Argentina-, disputará uma das duas vagas para a próxima Olimpíada. Os favoritos no Pré-Olímpico são os EUA (que vão competir com o "Dream Team", jogadores da NBA) e o anfitrião Porto Rico.
Dirigentes e comissão técnica alegam um processo de renovação como possível motivo para um fracasso. "O basquete masculino perdeu muito tempo nesta década. Estamos tentando recuperar e esperamos disputar uma medalha em Atenas-2004", disse o técnico da seleção, Hélio Rubens Garcia.
Só que a seleção feminina, também em renovação -sem seis atletas ouro no Mundial-94 e seis atletas prata nos Jogos de Atlanta-96-, já classificou-se, sem dificuldades, para Sydney-2000.
O técnico da seleção masculina, porém, recusa-se a admitir abertamente que há algum tempo as mulheres assumiram um posto de superioridade internacionalmente.
"Não faço esse tipo de comparação. Há mais países de alto nível no basquete masculino", afirmou Hélio Rubens, que a partir de amanhã comanda o Brasil no Sul-Americano, torneio em que a seleção não ganha o ouro desde 1993.
Questionado se a equipe masculina não tem atravessado uma fase ruim nos últimos anos, ele limitou-se a citar a classificação de sua seleção no Mundial-98 -foi décima. Em última instância, fez o mesmo com a equipe feminina -quarta colocada.
"O basquete masculino brasileiro está entre os dez melhores do mundo. E o basquete feminino está entre os quatro melhores do mundo", declarou.
A hoje ex-jogadora e dirigente de basquete Hortência faz a defesa da seleção feminina.
"É lógico que hoje é muito mais reconhecida (mundialmente). Nós ganhamos o Campeonato Mundial, o Pan-Americano, a Copa América e temos o vice-campeonato olímpico. E a única grande conquista do masculino foi só o Pan-Americano, em 87."
Hegemônico em Sul-Americanos e com o inédito título da Copa América, em 97, o basquete feminino conquistou ainda recentes vitórias fora do âmbito da seleção.
Enquanto nenhum jogador da seleção masculina está na NBA ou em ligas européias, a seleção feminina está representada na Europa e na WNBA. A ala Janeth foi campeã nos EUA em 97 e 98. Neste ano, a ala-armadora Claudinha conseguiu uma vaga e faz companhia a Janeth e à pivô Alessandra na mais competitiva liga do planeta.
No ano passado, a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) organizou o primeiro verdadeiro campeonato brasileiro feminino -uma liga com oito equipes.
E neste ano Hortência conseguiu apoio do governo paranaense e já inaugurou três Centros de Excelência do basquete -em São José dos Pinhais, Castro e Jacarezinho.

Metade na equipe atual
Das 12 atletas campeãs mundiais de basquete cinco anos atrás, seis defenderam a seleção no Pré-Olímpico de Cuba, no mês passado -a equipe levou a prata.
Entre as outras seis, todas ainda têm seu espaço no esporte. Veja as campeãs (as cinco primeiras eram as titulares em 94) e o técnico.

Paula (armadora) - Titular do BCN/Osasco. Até o ano passado, era titular da seleção. Desmotivada, abdicou de defender a equipe neste ano. Ainda vai decidir se volta para a Olimpíada de Sydney.

Hortência (ala) - Aposentou-se após os Jogos de Atlanta. É dirigente do Paraná Basquete Clube.

Janeth (ala) - Titular da Arcor/ Santo André e bicampeã pelo Houston Comets (EUA). Titular da atual seleção brasileira.

Alessandra - Atleta do Como (Itália), do Washington Mystics (EUA), é titular da atual seleção brasileira.

Ruth - Titular do BCN/Osasco.

Helen Luz (armadora) - Campeã brasileira neste ano pela Arcor/ Santo André, transferiu-se recentemente para o Paraná. Titular da atual seleção brasileira.

Adriana (ala) - Recém-contratada pela Arcor/Santo André. Titular da atual seleção brasileira.

Roseli (ala) - Reserva da atual seleção brasileira, aguarda convite de algum clube para o Paulista-99.

Leila (ala-pivô) -Por estar frequentando uma igreja evangélica, recusou convocação para a seleção em abril. Está nos planos do técnico Antonio Carlos Barbosa para o Pan-Americano, em julho.

Cíntia Tuiú - Vice-campeã neste ano no campeonato da Hungria. Reserva da atual seleção brasileira.

Simone Pontello - Campeã brasileira neste ano, como "sexta jogadora", pela Arcor/Santo André.

Dalila - Aposentada, colabora com projetos de basquete do governo paranaense.

Miguel Angelo da Luz - É superintendente de esportes olímpicos do Flamengo.


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