RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não gosta da imprensa.
Isso explica por que quase ninguém no Brasil conhece o brasileiro Francisco Filho, um dos mais respeitados profissionais do badalado Manchester United.
Durante 29 anos ele prestou serviços à federação francesa. Revelou, entre outros, os atacantes Papin e Henry. Em Clarefontaine, suntuoso centro de treinamento e academia de futebol da França, tratou da geração que ganhou a Copa de 1998 em cima do Brasil.
Famoso na Europa, atraiu a atenção do mais rico e popular time inglês (o Real Madrid também tentou contratá-lo). Cuida dos juvenis da equipe e é homem mais do que de confiança de Sir Alex Ferguson. "Eu tenho muito prazer em contar com Francisco, um experimentado técnico cujo conhecimento do jogo é enorme", diz o lendário treinador do clube.
Peter Kenyon, um dos principais executivos dos Diabos Vermelhos, também jogou muito confete no brasileiro quando ele foi contratado, após a Copa de 2002. "Ter alguém do calibre do Francisco aqui é fantástico. A equipe juvenil é parte integral do Manchester United. Estamos desenvolvendo o futebol do futuro."
No currículo de Francisco, consta que ele, paulista nascido em 1940, atuou como jogador no São Paulo, clube que anunciou nos últimos dias aproximação, que envolveria bastante as divisões de base, com o Manchester United.
O encarregado pelas novas safras do ex-time de Beckham também teve passagens como atleta por Nimes (França), Averio (Portugal) e Caracas (Venezuela).
A trajetória internacional de Francisco foi tamanha que ele meio esqueceu o Brasil (até um pouco da língua portuguesa). A coluna tentou entrevistá-lo em várias oportunidades ao longo da temporada, mas, apesar do aval do Manchester, ele não quis falar, ou melhor, não quis "aparecer".
"O futebol do Manchester United é um dos melhores do mundo. Fazer parte disso é um desafio maravilhoso. Quero muito trabalhar com Sir Alex e o time", disse Francisco ao site do clube inglês pouco após a sua contratação.
O "Cilinho do Manchester" poderá trabalhar com Carlos Lourenço, juvenil são-paulino que se acertou com o time inglês, mas, bem mais que isso, deverá dar a longo prazo uma cara mais latina e brasileira ao futebol britânico.
Em sua temporada de estréia no Manchester United, Francisco mostrou sua competência, confirmou sua reputação, mas não conseguiu desbancar o rival Manchester City na categoria (o "primo pobre" da cidade chegou a aplicar um 4 a 0 no "primo rico").
Beckham, certamente a mais famosa "prata-da-casa" do clube, foi exportada para a Espanha. E a contratação do brasileiro Ronaldinho, dada como certa por muitos, ainda não se concretizou.
Aquele que liderou com folgas durante vários anos as listas de times mais ricos do planeta investe agora, mais do que nunca, na formação de talentos. Quem talvez menos precisasse, dá o exemplo.
O Manchester United e Sir Alex Ferguson estão toda hora na mídia. São a ponta do iceberg. O Manchester United juvenil e Francisco Filho são a base.

O Manchester do São Paulo
Foi anunciada em São Paulo uma parceria entre o time do Morumbi e o clube do Old Trafford. Anteontem, Les Kershaw, diretor do Manchester United, desmentiu o acordo no site do time inglês, que estranhamente já não havia divulgado nada sobre a propalada parceria. "Não é uma parceria. Mas nós fizemos amizade com o São Paulo", disse Kershaw, que enfatizou que a ligação do Manchester com o time paulista foi exagerada por parte da imprensa (Sporting e Antuérpia seguem sendo os principais parceiros dos Diabos Vermelhos). Advogados trataram da negociação do juvenil são-paulino Carlos Lourenço, basicamente (ele jogaria no Sporting, hoje uma "ponte" para o Manchester, com 18 anos). Kershaw, porém, disse na Inglaterra que a "amizade" com o São Paulo poderá "oferecer oportunidades" no futuro. Amigos, amigos; negócios à parte!

E-mail rbueno@folhasp.com.br


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