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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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AUTOMOBILISMO

Afastado da F-1 desde 98, Frank Dernie volta para fazer revolução e leva escuderia a lutar pela ponta

Engenheiro ressuscita equipe Williams

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MAGNY-COURS

Há menos de dois meses, a Wil-liams era a quarta colocada no Mundial de Construtores de F-1, situação embaraçosa para um time que já dominou a categoria.
Na Áustria, em maio, começou a reação. E hoje, vindo de duas provas irrepreensíveis, com duas dobradinhas, prepara o bote.
No próximo fim de semana, em sua casa, Silverstone, a Williams pode conquistar a ponta entre os construtores e aproximar Ralf Schumacher e Juan Pablo Montoya da liderança entre os pilotos.
O motivo para uma ascensão tão radical não foi nenhuma descoberta mirabolante. O time buscou a solução em seu passado.
Na semana que antecedeu a prova austríaca, a Williams "ressuscitou" Frank Dernie, 53, um dos cabeças do FW07, o carro que em 1980 ganhou os dois primeiros Mundiais da história da equipe.
Um inglês que passou os últimos anos no limbo, em fábricas como Ligier e Arrows e que desde 1998 estava longe da F-1, na Lola.
Em Magny-Cours, na França, onde no último final de semana a Williams se firmou como a equipe mais forte da temporada, Dernie falou com a Folha.

Folha - O que você faz na equipe?
Frank Dernie -
Não tenho função específica. Faço o que o Patrick [Head, engenheiro, co-proprietário da Williams e parceiro de Dernie nos anos 80] quer. Ele estava insatisfeito com a performance e me chamou porque eu poderia ver coisas que os outros não viam.

Folha - Qual foi sua grande descoberta? O carro começou a vencer...
Dernie -
Temos que manter segredo. Conseguimos evoluções na aerodinâmica. Em geral, melhoramos a aderência, para usar melhor os pneus. Esse carro costumava destroçar os pneus. Fui incumbido de buscar uma solução.

Folha - É coincidência a Williams ter decolado após a sua chegada?
Dernie -
Alguns dos ajustes aconteceriam normalmente. Uma hora, alguém aqui apareceria com a solução. Mas outras coisas certamente não teriam sido feitas. Se eu não tivesse chegado, a Williams não estaria tão bem.
Há uma área que não estava sendo coberta até eu chegar. Hoje, nosso carro se adapta bem a todo circuito. Não há mais problemas.

Folha - Você formou parceria forte nos anos 80 com Patrick Head. Como é a relação entre vocês?
Dernie -
Temos uma sintonia especial, embora seja diferente em relação a anos atrás. Antes, éramos os dois únicos engenheiros da Williams. Ele fazia toda a mecânica, eu fazia a aerodinâmica.
Hoje há um número enorme de engenheiros trabalhando em todas as áreas. Assim é a F-1 atual.

Folha - Sobre suas grandes rivais... Primeiro, a McLaren, que ainda não estreou o carro de 2003.
Dernie -
Obviamente, do ponto de vista da engenharia, eles cometeram erros graves. Provavelmente forçaram a mão. O carro claramente não é confiável, do contrário estaria correndo. É claro que não estou triste por causa disso.

Folha - E a Ferrari?
Dernie -
A Ferrari fez grandes mudanças aerodinâmicas em relação a 2002 e certamente são para melhor. O fato de eles não estarem sendo tão dominantes tem mais a ver com a nossa evolução. Tínhamos que subir um degrau. E hoje estou certo de que subimos.

Folha - É possível inovar na F-1?
Dernie -
Hoje, não mais. As regras são restritivas. A FIA [entidade máxima do automobilismo] não quer mais carros inovadores.
Os tempos de Collin Chapman [lendário projetista da Lotus] estão mortos. É uma pena, mas a FIA quer assim. Se você quiser fazer algo inovador, precisa escrever para eles... Antes havia regras muito simples. Se você tinha uma boa idéia, ganhava as corridas.

Folha - A Williams já está no ponto para lutar pelo título?
Dernie -
Sim. Nas últimas corridas, a Williams fez mais pontos que McLaren e Ferrari juntas [65 a 61 em quatro GPs]. Em um ou dois GPs, nós chegaremos lá.


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