|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
pan 2003
Nadadores de São Vicente e Granadinas caem na água atrás de histórias para contar
MENINOS DO MAR
Antônio Gaudério/Folha Imagem
|
Toda a delegação de natação de São Vicente e Granadinas, formada por Fidel Davis, Steve Walleci e Rickdene Alexander, o técnico |
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
A primeira sensação foi animadora. Assim que mergulhou na
piscina de Santo Domingo, Steve
Walleci, 20, sentiu-se em casa.
A temperatura da água raspava
nos 29C, quase a mesma do mar
de Arnos Vale, onde ele treina.
Walleci defende no Pan a ilha de
São Vicente e Granadinas, espaço
de terra de 389 km2, 24 mil vezes
menor que o Brasil, nas Antilhas.
A maior piscina do país está velha. Mede só 15 m. Nada que impeça seus habitantes de contarem
com uma equipe de natação.
Há cinco anos, Walleci e seu
único companheiro, Fidel Davis,
treinam em mar aberto para defender a pátria no exterior.
"Geralmente, a água das piscinas é mais fria. Gostei daqui.
Acho que vou me adaptar bem",
contou Walleci, referindo-se ao
parque aquático do Pan. Ele engrossa a voz para falar do currículo. "Estive na última Olimpíada."
Davis, 21, mais introspectivo,
prefere ficar longe da conversa.
Ele está tenso por causa de sua estréia no Pan, hoje, nos 100 m livre.
Mas, quando o assunto são os
treinos no mar, decide se abrir.
"O pior são as queimaduras.
Não sei se esbarramos em águas-vivas ou em peixes venenosos,
mas dói bastante", confessou.
Ambos são orientados por
Rickdene Alexander, que dribla
os problemas com criatividade.
Como os atletas não têm acesso
a uma academia, a opção foi aumentar o grau de dificuldade dos
exercícios na água. Assim, Alexander amarra um balde na cintura dos pupilos e manda-os para
o mar. "Também nadamos de
roupa, com tênis", disse Walleci.
A situação lembra a história de
Eric Moussambani, da Guiné
Equatorial, que em Sydney-2000
demorou quase um minuto a
mais do que os outros nadadores
para completar os 100 m livre. Ele
só foi aos Jogos porque seu país
recebeu um convite do Comitê
Olímpico Internacional, praxe
que já foi extinta para Atenas.
Os objetivos da dupla caribenha
em Santo Domingo são modestos. Nadando ao lado de medalhistas olímpicos, Davis tenta melhorar seu recorde pessoal nos 100
m livre, de 1min03s00. A marca é
15s16 pior que o recorde mundial.
Se estivesse no último Campeonato Brasileiro Infantil (para atletas com 12 anos), teria sido o 12º.
Mas Walleci está otimista. Diz
contar, agora, com um trunfo: a
massa muscular que adquiriu depois que começou a trabalhar na
construção civil. "Estou mais forte agora, erguendo prédios."
Assim como o colega, sabe que
está bem distante do nível de atletas que lutam por medalhas.
Quando retornar a São Vicente
e Granadinas, quer contar aos
conterrâneos que nadou em uma
piscina "de primeiro mundo" ao
lado de gente famosa. Mas acha
que, como sempre, a turma de Arnos Vale não vai acreditar.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Saiba mais: COI veta novos Moussambanis em Atenas-2004 Índice
|