São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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Inconsciente coletivo

Fosso entre nanicos e potências diminui a cada Olimpíada na disputa de seleções

DO ENVIADO A ATENAS

Antes do início dos Jogos de Barcelona-92 era possível apostar, sem chance de perder, em uma equipe: no masculino, o ouro do basquete iria para os EUA.
Em Atenas, essa atmosfera de certeza não existe.
Há 12 anos, os americanos chegaram pela primeira vez à Olimpíada com atletas da NBA, como Michael Jordan e Larry Bird, e massacraram seus rivais. Fizeram 938 pontos e levaram só 588. Apelidada de "Dream Team" (time dos sonhos), a equipe personificava o significado de imbatível.
A seleção de basquete dos EUA desembarcou ontem em Atenas sem essa aura, apesar de ainda contar com jogadores da NBA (a liga profissional americana). Em um giro de amistosos pela Europa, a equipe perdeu da Itália por 17 pontos de diferença.
"O basquete internacional melhorou muito na última década. As pessoas não entendem isso", afirmou LeBron James.
O estreitamento na diferença não é um fenômeno recente. Em Atlanta-96 e em Sydney-00, a equipe masculina de basquete dos EUA venceu. Mas com uma diferença menor: saldo de 254 pontos na primeira e de 173 na segunda. Quatro anos atrás, os americanos superaram a Lituânia na semifinal por dois pontos (85 a 83).
Os casos se avolumam. Ontem, a seleção de futebol do Iraque bateu a de Portugal, que é vice da Eurocopa. A seleção brasileira masculina nem obteve vaga.
Em praticamente todos os esportes coletivos que serão disputados na Olimpíada o fosso entre o mais forte e o mais fraco está menor. Em 1996, as duplas masculinas de vôlei de praia que saíam vencedoras de seus jogos costumavam deixar os adversários a 7,2 pontos de distância. Em 2000, caiu para 7,0 pontos. Entre as duplas femininas, o encurtamento da diferença foi mais sensível, de 7,66 a 6,73.
No vôlei de quadra, os fatos se repetem. Enquanto as equipes vitoriosas no masculino precisavam, em média, de 3,54 sets para abater os oponentes em Atlanta, usaram 3,72 sets em Sydney. No feminino, o esforço para vencer consumiu 3,73 sets em 2000, contra 3,47 necessários em 1996.
A falta de favoritos concretos pode provocar uma melhor distribuição de medalhas.
Estudo da PriceWaterhouse Coopers projeta que, em Atenas, os EUA devem levar 70 medalhas, contra as 97 de 2000. O país seguirá ao lado de Rússia, China e Alemanha no topo do ranking, mas a distância para o bloco intermediário deve cair. A Rússia, por exemplo, deve ter queda de 27% no total de medalhas.
E de onde sairão os vencedores? Não de um país específico, mas de um conjunto deles. A Polônia deve pular de 14 para 17 medalhas; o Japão de 18 para 20. O Brasil, que historicamente concentra 52% de seus pódios olímpicos em esportes coletivos (os individuais representam 75% das premiações que acontecerão em Atenas), deve ficar com 15, contra 12 de Sydney.
O técnico da seleção brasileira masculina de vôlei, Bernardinho, diz que, apesar de ter vencido 11 de 14 torneios disputados, não há garantia de ouro. "Os favoritos são Sérvia e Montenegro, Brasil, Rússia e Itália. Mas algumas equipes do grupo intermediário, como os EUA e a Grécia, por jogar em casa, podem surpreender."
José Roberto Guimarães, que comanda a equipe feminina, faz coro: "Temos que jogar 100% o tempo inteiro. Ou não temos chance", diz. (MARCELO DIEGO)


Colaboraram Adalberto Leister Filho e Luís Curro, enviados a Atenas


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