São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Contra a Ponte Preta, time busca fugir de reflexos do desentendimento entre o seu treinador e a cúpula do clube
São Paulo tenta em campo abafar atrito

DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a mais uma crise de relacionamento entre o técnico Levir Culpi e a cúpula do clube, o São Paulo enfrenta hoje a Ponte Preta, às 20h30, em Campinas, pela Copa João Havelange.
Depois de obter três vitórias seguidas, a equipe do Morumbi tinha tudo para ter tranquilidade, mas a calma foi quebrada por causa de um atrito entre Culpi e o ex-presidente são-paulino José Augusto Bastos Neto.
Ontem, o treinador recebeu uma carta do presidente do Conselho Deliberativo do clube, Paulo Planet Buarque, condenando a maneira como ele reagiu às críticas feitas pelo ex-dirigente, após a vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, no último sábado.
Além de reclamar do desempenho do time, Bastos Neto criticou a troca de Souza por Beto, no segundo tempo.
Anteontem, Culpi deu o troco chamando, ironicamente, o ex-presidente de "burro, por contratar um técnico bem pago, sendo que ele conhece tudo de futebol e poderia treinar o time de graça". O ex-dirigente foi o responsável pela contratação de Culpi.
Apesar de não pertencer ao mesmo grupo político de Bastos Neto, o presidente do Conselho Deliberativo decidiu se manifestar. "Mandei uma carta mostrando ao treinador que ele deveria moderar o seu linguajar, por estar falando de um ex-presidente. Acho que isso também vale para o Bastos Neto em relação ao técnico", declarou Planet.
Após o treino de ontem, Culpi afirmou não ter recebido nenhum comunicado do Conselho Deliberativo do clube.
Mais calmo, o técnico disse não estar magoado com o ex-presidente. "No futebol, não dá para contentar todo mundo, mas existem coisas que, se você não fala na hora, não consegue dormir. Na nossa profissão, o nosso cargo está ameaçado a toda semana, a pressão é muito grande", afirmou o treinador são-paulino.
Para Culpi e os jogadores, o episódio não terá influência na atuação da equipe, mas nem todos os atletas ficaram indiferentes ao que aconteceu.
O atacante França, por exemplo, apoiou Culpi. "O Bastos Neto agora é torcedor e não tem que falar nada. O que ele disser pode influenciar outras pessoas", avaliou.
Já o meia Souza, pivô do atrito, tentou evitar o assunto. "A preocupação agora é com a Ponte Preta. Isso que aconteceu a gente vai ver depois", disse o meia, que foi criticado por Culpi anteontem.
Para o diretor de futebol José Dias, a troca de farpas entre Bastos Neto e Culpi "foi uma coisa corriqueira, normal".
Dias ocupa o cargo desde a gestão de Bastos Neto, aliado do atual presidente, Paulo Amaral.
O relacionamento entre o treinador e a cúpula do clube começou a se deteriorar após o time perder a final da Copa do Brasil para o Cruzeiro, quando o técnico foi criticado por conselheiros.
As críticas aumentaram com a campanha irregular no início da Copa João Havelange e da Copa Mercosul. Recentemente, Culpi perdeu uma queda-de-braço com a diretoria. Ele pediu mais um zagueiro, além do paraguaio Ayala, e um lateral-esquerdo, mas não foi atendido pelos diretores.
Hoje, Culpi manterá o mesmo time que começou o jogo contra o Fluminense. Mais uma vez, Beto deve entrar no segundo tempo, no lugar de Souza.
O São Paulo tenta obter a sua primeira vitória fora de casa na Copa JH. "Já poderíamos ter vencido fora, se não tivéssemos sido prejudicados pela arbitragem no empate com o Cruzeiro (2 a 2), no Mineirão", disse o técnico.
Ayala, emprestado pelo Atlético de Madrid (Espanha), só deve começar a treinar com a equipe na sexta-feira, segundo os dirigentes. Antes, a previsão era que ele se apresentasse hoje.
O atraso ocorreu porque a documentação do jogador, que precisa conseguir um visto de trabalho no Brasil, não foi regularizada.


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