São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Centímetros decisivos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

E m meio a tantos jogos opacos, até que Santos e Palmeiras fizeram um clássico digno.
Foi um jogo vibrante e equilibrado, cujo destino se decidiu em cinco minutos: os últimos cinco do primeiro tempo.
Até sair o primeiro gol, o Santos tinha um certo domínio, mas chegava pouco à área palmeirense. O Palmeiras tentava -e conseguia- segurar o rival de duas maneiras complementares: truncava o jogo com faltas no meio-de-campo e submetia a uma marcação implacável os principais jogadores de criação santistas.
Marcinho colava em Robinho, Corrêa, em Elano, Magrão, em Ricardinho. O Santos tinha pouco espaço para desenvolver seu futebol envolvente. E quem criava mais chances agudas de gol era o Palmeiras.
Esse panorama mudou num instante, quando o Santos conseguiu aproveitar alguns centímetros de espaço deixados pelo sistema defensivo palmeirense. Foi uma jogada de precisão e objetividade, em que os santistas tocavam a bola para um companheiro uma fração de segundo antes da chegada de um adversário.
O último passe foi um toque de bico de chuteira de Robinho para Deivid, que, também de bico, chutou cruzado. A bola ainda resvalou numa perna palmeirense antes de entrar no gol. Foi um gol apertado, espremido, chorado. Qualquer hesitação ou firula por parte dos atacantes santistas teria posto tudo a perder.
O lance me lembrou, apesar das grandes diferenças "estéticas", o gol solitário do Brasil contra a Inglaterra na Copa de 70, em que Tostão, Pelé e Jairzinho fizeram tudo certo para aproveitar a única brecha deixada pela então melhor defesa do mundo.
Só que o Santos conseguiu fazer mais um ainda no primeiro tempo, graças a uma boa jogada do volante Fabinho. Essa foi uma diferença básica entre os dois times: enquanto os volantes palmeirenses preocupavam-se quase exclusivamente com a marcação, os santistas Fabinho e Zé Elias alternavam-se no apoio ao ataque, oferecendo-se como opções para abrir a congestionada retaguarda alviverde.
Quando parecia que o jogo estava definido a favor do Santos, porém, o Palmeiras fez seu gol, aproveitando um relaxamento típico do time de Luxemburgo. Com a expulsão de Zé Elias, os palmeirenses ganharam novo alento e uma chance real de empate.
Mas, a meu ver, faltou ousadia ao técnico Estevam Soares, que manteve Osmar isolado à frente e uma penca de volantes no meio-de-campo. De todo modo, foi um bom jogo, pleno de alternativas até o final. Tanto o Palmeiras poderia ter empatado como o Santos poderia ter aberto uma goleada, se alguns detalhes tivessem ocorrido de maneira diferente.
Ou seja, o resultado não estava escrito nas estrelas, apesar da evidente superioridade do elenco santista. É bom lembrar que, no primeiro turno, o Santos foi goleado em casa por 4 a 0 pelo Palmeiras. Em jogos entres essas duas equipes, sempre será difícil apontar um favorito.

Tricolor em alta
O Maracanã também foi palco de um clássico disputado e com o resultado em aberto até o fim. Embora o Flamengo tenha criado mais chances de gol no primeiro tempo, no final deu Flu, que segue em ascensão.

Tricolor na mesma
Leão apressou-se em tentar capitalizar a vitória tricolor sobre o Paraná, no meio da semana, dizendo que "o grupo reagiu rápido" a suas orientações. Mas o empate de anteontem com o Cruzeiro mostrou que o São Paulo, por enquanto, não mudou nada. Continua sendo um time sem criação no meio-de-campo, que rifa a bola em inócuas tentativas de ligação direta defesa-ataque. A única diferença da "era Leão", até agora, é que o goleiro Rogério Ceni não está batendo faltas.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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