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FUTEBOL
Centímetros decisivos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
E m meio a tantos jogos opacos, até que Santos e Palmeiras fizeram um clássico digno.
Foi um jogo vibrante e equilibrado, cujo destino se decidiu em
cinco minutos: os últimos cinco
do primeiro tempo.
Até sair o primeiro gol, o Santos
tinha um certo domínio, mas chegava pouco à área palmeirense. O
Palmeiras tentava -e conseguia- segurar o rival de duas
maneiras complementares: truncava o jogo com faltas no meio-de-campo e submetia a uma marcação implacável os principais jogadores de criação santistas.
Marcinho colava em Robinho,
Corrêa, em Elano, Magrão, em
Ricardinho. O Santos tinha pouco
espaço para desenvolver seu futebol envolvente. E quem criava
mais chances agudas de gol era o
Palmeiras.
Esse panorama mudou num
instante, quando o Santos conseguiu aproveitar alguns centímetros de espaço deixados pelo sistema defensivo palmeirense. Foi
uma jogada de precisão e objetividade, em que os santistas tocavam a bola para um companheiro uma fração de segundo antes
da chegada de um adversário.
O último passe foi um toque de
bico de chuteira de Robinho para
Deivid, que, também de bico, chutou cruzado. A bola ainda resvalou numa perna palmeirense antes de entrar no gol. Foi um gol
apertado, espremido, chorado.
Qualquer hesitação ou firula por
parte dos atacantes santistas teria
posto tudo a perder.
O lance me lembrou, apesar das
grandes diferenças "estéticas", o
gol solitário do Brasil contra a Inglaterra na Copa de 70, em que
Tostão, Pelé e Jairzinho fizeram
tudo certo para aproveitar a única brecha deixada pela então melhor defesa do mundo.
Só que o Santos conseguiu fazer
mais um ainda no primeiro tempo, graças a uma boa jogada do
volante Fabinho. Essa foi uma diferença básica entre os dois times:
enquanto os volantes palmeirenses preocupavam-se quase exclusivamente com a marcação, os
santistas Fabinho e Zé Elias alternavam-se no apoio ao ataque,
oferecendo-se como opções para
abrir a congestionada retaguarda
alviverde.
Quando parecia que o jogo estava definido a favor do Santos, porém, o Palmeiras fez seu gol, aproveitando um relaxamento típico
do time de Luxemburgo. Com a
expulsão de Zé Elias, os palmeirenses ganharam novo alento e
uma chance real de empate.
Mas, a meu ver, faltou ousadia
ao técnico Estevam Soares, que
manteve Osmar isolado à frente e
uma penca de volantes no meio-de-campo. De todo modo, foi um
bom jogo, pleno de alternativas
até o final. Tanto o Palmeiras poderia ter empatado como o Santos poderia ter aberto uma goleada, se alguns detalhes tivessem
ocorrido de maneira diferente.
Ou seja, o resultado não estava
escrito nas estrelas, apesar da evidente superioridade do elenco
santista. É bom lembrar que, no
primeiro turno, o Santos foi goleado em casa por 4 a 0 pelo Palmeiras. Em jogos entres essas
duas equipes, sempre será difícil
apontar um favorito.
Tricolor em alta
O Maracanã também foi palco
de um clássico disputado e com
o resultado em aberto até o fim.
Embora o Flamengo tenha criado mais chances de gol no primeiro tempo, no final deu Flu,
que segue em ascensão.
Tricolor na mesma
Leão apressou-se em tentar capitalizar a vitória tricolor sobre
o Paraná, no meio da semana,
dizendo que "o grupo reagiu
rápido" a suas orientações. Mas
o empate de anteontem com o
Cruzeiro mostrou que o São
Paulo, por enquanto, não mudou nada. Continua sendo um
time sem criação no meio-de-campo, que rifa a bola em inócuas tentativas de ligação direta
defesa-ataque. A única diferença da "era Leão", até agora, é
que o goleiro Rogério Ceni não
está batendo faltas.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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