São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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AUTOMOBILISMO

Em tipo de transe, brasileiro faz incrível seqüência de voltas rápidas e ganha a primeira corrida no ano

Barrichello pega "túnel" do Senna e vence

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONZA

Rubens Barrichello errou na previsão do tempo. Mas entrou no "túnel do Ayrton" e se redimiu. E conseguiu ontem, em Monza, a primeira vitória no ano, a oitava da carreira, uma das mais brilhantes de sua trajetória na F-1.
Para delírio dos 100 mil tifosi que lotaram o circuito, o GP da Itália viu dobradinha da Ferrari: o heptacampeão Michael Schumacher foi o segundo. Jenson Button, da BAR, completou o pódio.
"Agora, sim, é minha melhor temporada. Quando seu companheiro, com o mesmo carro, ganha 12 e você não ganha nenhuma, fica um gosto amargo. Faltava essa vitória para ficar mais sossegado", afirmou o brasileiro.
Sossego que Barrichello só foi encontrar ontem pouco antes da linha de chegada. A corrida ficou indefinida até a 53ª e última volta.
O dia amanheceu com chuva, mas o tempo abriu. E complicou a escolha de pneus: a pista estava úmida demais para usar os compostos de pista seca, mas não o bastante para os intermediários.
A opção de cada piloto só foi revelada segundos antes da volta de apresentação, quando os mecânicos tiraram as mantas térmicas. E aí, o erro de Barrichello.
Acreditando na volta da chuva, o brasileiro, na pole, estava com pneus intermediários. Além dele, apenas Felipe Massa, David Coulthard e Gianmaria Bruni fizeram essa aposta. Os outros 16 pilotos escolheram compostos para seco.
A F-1 largou, e Barrichello disparou. Só que a chuva não veio. E seu desempenho começou a despencar. Na quinta volta, superado por Fernando Alonso, entrou nos boxes para corrigir o engano.
De volta à pista, em nono, caiu para décimo na 11ª volta, ultrapassado por Schumacher, que rodou na largada e também tentava se recuperar. Só então o brasileiro, de fato, começou sua corrida.
Na cola do ritmo forte do companheiro, começou a ganhar posições com os pits dos rivais. Já era o quarto na 29ª volta quando parou mais uma vez. Foi quando surpreendeu com a estratégia: colocou pouca gasolina, deixando claro que faria um terceiro pit -em Monza, o padrão são dois.
Mas, para que o plano funcionasse, ele precisaria de uma seqüência de voltas voadoras. Precisaria do "túnel do Ayrton".
"O Ayrton falou uma vez que estava tão concentrado que entrou numa espécie de túnel. Foi uma situação parecida, porque abaixei a minha cabeça e só acelerei, acelerei, acelerei", disse, referindo-se ao treino classificatório para o GP de Mônaco de 1988.
Senna dizia que naquela ocasião entrou numa espécie de transe, num "túnel" e que, mesmo com a pole assegurada, não conseguia parar de acelerar. Ele melhorava o tempo a cada volta até que "despertou" e, assustado, parou o McLaren nos boxes.
Barrichello assumiu a ponta na 37ª volta com dez segundos de vantagem para Button. Entrou, então, no "túnel": uma série de cinco voltas em ritmo de treino, em 1min21s. Quando foi para o pit, na 42ª, tinha 22s4 de folga.
Saiu ainda na liderança, mas com Schumacher, que ultrapassou Button, em seu encalço. Na última volta, tinha só 0s9 de vantagem para o alemão. "Pelo rádio, pediram para a gente não forçar os motores porque já estávamos no final. Só então senti aquele alívio da vitória", disse.
Com ou sem transe, o fato é que o tricampeão seria lembrado em Monza. Barrichello pode ter começado a prova como Barrichello. Mas terminou como Senna.

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