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AUTOMOBILISMO
Em tipo de transe, brasileiro faz incrível seqüência de voltas rápidas e ganha a primeira corrida no ano
Barrichello pega "túnel" do Senna e vence
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONZA
Rubens Barrichello errou na
previsão do tempo. Mas entrou
no "túnel do Ayrton" e se redimiu. E conseguiu ontem, em
Monza, a primeira vitória no ano,
a oitava da carreira, uma das mais
brilhantes de sua trajetória na F-1.
Para delírio dos 100 mil tifosi
que lotaram o circuito, o GP da
Itália viu dobradinha da Ferrari: o
heptacampeão Michael Schumacher foi o segundo. Jenson Button, da BAR, completou o pódio.
"Agora, sim, é minha melhor
temporada. Quando seu companheiro, com o mesmo carro, ganha 12 e você não ganha nenhuma, fica um gosto amargo. Faltava
essa vitória para ficar mais sossegado", afirmou o brasileiro.
Sossego que Barrichello só foi
encontrar ontem pouco antes da
linha de chegada. A corrida ficou
indefinida até a 53ª e última volta.
O dia amanheceu com chuva,
mas o tempo abriu. E complicou a
escolha de pneus: a pista estava
úmida demais para usar os compostos de pista seca, mas não o
bastante para os intermediários.
A opção de cada piloto só foi revelada segundos antes da volta de
apresentação, quando os mecânicos tiraram as mantas térmicas. E
aí, o erro de Barrichello.
Acreditando na volta da chuva,
o brasileiro, na pole, estava com
pneus intermediários. Além dele,
apenas Felipe Massa, David Coulthard e Gianmaria Bruni fizeram
essa aposta. Os outros 16 pilotos
escolheram compostos para seco.
A F-1 largou, e Barrichello disparou. Só que a chuva não veio. E
seu desempenho começou a despencar. Na quinta volta, superado
por Fernando Alonso, entrou nos
boxes para corrigir o engano.
De volta à pista, em nono, caiu
para décimo na 11ª volta, ultrapassado por Schumacher, que rodou na largada e também tentava
se recuperar. Só então o brasileiro, de fato, começou sua corrida.
Na cola do ritmo forte do companheiro, começou a ganhar posições com os pits dos rivais. Já era
o quarto na 29ª volta quando parou mais uma vez. Foi quando
surpreendeu com a estratégia: colocou pouca gasolina, deixando
claro que faria um terceiro pit
-em Monza, o padrão são dois.
Mas, para que o plano funcionasse, ele precisaria de uma seqüência de voltas voadoras. Precisaria do "túnel do Ayrton".
"O Ayrton falou uma vez que
estava tão concentrado que entrou numa espécie de túnel. Foi
uma situação parecida, porque
abaixei a minha cabeça e só acelerei, acelerei, acelerei", disse, referindo-se ao treino classificatório
para o GP de Mônaco de 1988.
Senna dizia que naquela ocasião
entrou numa espécie de transe,
num "túnel" e que, mesmo com a
pole assegurada, não conseguia
parar de acelerar. Ele melhorava o
tempo a cada volta até que "despertou" e, assustado, parou o
McLaren nos boxes.
Barrichello assumiu a ponta na
37ª volta com dez segundos de
vantagem para Button. Entrou,
então, no "túnel": uma série de
cinco voltas em ritmo de treino,
em 1min21s. Quando foi para o
pit, na 42ª, tinha 22s4 de folga.
Saiu ainda na liderança, mas
com Schumacher, que ultrapassou Button, em seu encalço. Na
última volta, tinha só 0s9 de vantagem para o alemão. "Pelo rádio,
pediram para a gente não forçar
os motores porque já estávamos
no final. Só então senti aquele alívio da vitória", disse.
Com ou sem transe, o fato é que
o tricampeão seria lembrado em
Monza. Barrichello pode ter começado a prova como Barrichello. Mas terminou como Senna.
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