São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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roupa nova

Conforto faz Brasil largar "sex appeal"

Seleção feminina troca "macaquinho" por uniforme mais folgado em Mundial e segue na contramão de outros esportes

Por patrocínio e holofotes, confederações estimulam e até criam regras rígidas para que mulheres usem roupas que valorizem o corpo


GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A partida inaugural do Brasil no Mundial de basquete não chamou atenção apenas pelo placar apertado -vitória sobre a frágil Argentina por 71 a 69.
A mudança que levou ao Ibirapuera uma equipe brasileira diferente é sutil, mas suficiente para reabrir o debate sobre um dos temas polêmicos do esporte: os uniformes das mulheres.
A seleção deixou no armário o modelo "macaquinho" (peça única colocada ao corpo, que evidenciava as formas das atletas), que vestia desde 2000, para utilizar calções e camisetas folgadas pela primeira vez em um torneio de envergadura.
A opção não é apenas um detalhe. Com o objetivo de atrair a atenção do público e dos patrocinadores, várias confederações mexeram em seus uniformes nos últimos anos.
Os principais alvos sempre foram as mulheres, que perderam centímetros de bermudas e tiveram as roupas coladas ao corpo. O conforto acabou relegado a um segundo plano.
Apesar de terem elogiado o "macaquinho" no passado (diziam até que impedia puxões de camisa), as jogadoras do Brasil tomaram a iniciativa de pedir novos uniformes. Queriam competir mais à vontade.
O traje agarrado ao corpo no basquete foi utilizado pela primeira vez pelas australianas. Atletas ainda o envergam, mas seu uso não é imposto pela federação internacional.
Os dirigentes, contudo, não escondem a preferência por peças justas. "Deve haver um tipo de uniforme feminino, que valorize o corpo da mulher. Não é interessante que seja igual ao masculino", diz Florian Wanninger, assessor da federação.
No vôlei, mudança semelhante à feita pela seleção de basquete renderia aos cofres da confederação prejuízo de US$ 3.000. É o valor da multa que os cartolas impõem para quem desobedecer às duras regras.
Na praia, por exemplo, as atletas só podem atuar usando maiôs com, no máximo, sete centímetros na lateral.
É um uniforme bem diferente das bermudas que Adriana Behar, hexacampeã mundial, costumava usar quando começou a jogar. "O uniforme é confortável, porque cada uma escolhe o modelo. O lado negativo é a apelação. Expõe o corpo das mulheres e cria aquela coisa de ver o vôlei de praia porque tem mulher com pouca roupa", diz.
Na quadra, a imposição do "macaquinho" gerou revolta entre as brasileiras em 1998.
Ao lado de outros países, o Brasil forçou a federação internacional a rever as normas. Hoje, as atletas atuam com bermudas curtas e justas e camisetas sem mangas. Cuba ainda usa o uniforme "sexy", e o Egito ostenta permissão especial para burlar o regimento -jogadoras cobrem o corpo por causa da religião muçulmana.
A idéia de encurtar os uniformes já foi discutida até pela Uefa, organização que comanda o futebol na Europa. O objetivo: atrair mais patrocinadores para os torneios femininos.


Colaborou ADALBERTO LEISTER FILHO , da Reportagem Local


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