São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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JUCA KFOURI
O poder de mentir

O episódio do acidente com o velejador Lars Grael revela exemplarmente dois aspectos da vida brasileira: a arrogância do poder econômico e a dificuldade do exercício do jornalismo.
A estupidez do caso é tão grande que parecia até ser dessas coisas típicas do destino, dos azares da vida.
Antes mesmo, no entanto, que fosse possível apurar o que de fato houve, as declarações do pai do empresário Carlos Guilherme de Abreu Lima, cuja lancha decepou a perna direita do iatista, chamaram a atenção pela prepotência ao trazer suspeitas de que Grael estivesse dopado.
Em seguida, e depois de o empresário ter jurado estar sóbrio e até garantir que jamais bebia, o laudo técnico mostrou que ele tinha o equivalente a quatro doses de uísque no sangue, o que o proibiria, por exemplo, de dirigir um automóvel.
Ao jornalista não cabe fazer julgamentos, sabe-se, mas cabe também não permitir que se faça confusão na opinião pública.
Se o empresário tivesse a hombridade de admitir sua culpa, ainda mais com a atenuante de ter socorrido o atleta, todos estariam comovidos com a dor dos Grael e dos Lima (incomparáveis, é claro). Mas não. Os Lima estão preferindo apostar na velha impunidade que protege os ricos no Brasil.
Só falta que eles processem Grael por obstrução do caminho da lancha do filhinho embriagado de papai.

O inquérito sobre a venda, sem licitação, das placas do Maracanã prova aquilo que sempre se soube mas que o presidente do Flamengo, Kleber Leite, insistia em negar: ele continua, diferentemente do que garantia, sócio da Traffic, a agência da CBF.
É dele a assinatura no contrato com a administração (?!) do estádio.

O Comitê Olímpico Brasileiro, presidido por Carlos Arthur Nuzman, está com seu crédito suspenso na Varig.
A companhia aérea tem quase R$ 3 milhões a receber do COB e começa a desconfiar que nunca mais verá esse dinheiro.

FHC condecorou João Havelange e não há de ter sido pela oposição que o cartola fez à Lei Pelé.
Pelé preferiu não comentar o episódio, mas perguntou: "Ué, esse não é aquele que queria tirar o Brasil da Copa? Será que o povo vai gostar disso?".



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