São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Grato Redondo

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Talvez ele seja o mais talentoso dos jogadores argentinos que apareceram depois de Maradona. Só por isso o futebol seria grato a ele. Mas a história é maior e mais bonita do que parece e, pena, está mofando na ""gaveta".
Quando se fala em Redondo vem logo na cabeça a imagem de um baita jogador, de um cara de técnica apurada, elegante em campo, símbolo de que o futebol contemporâneo tem craque e coisa e tal. Porém poucos tiveram o privilégio de vê-lo regularmente.
Isso muito devido aos percalços na carreira de Redondo. Para a Copa de 94 a Argentina levou o que seria seu time mais forte desde os anos 40, bastante pelo meio-campo com Maradona e ele -o doping do primeiro derrubou tudo. Para 1998 o segundo estava mais preparado, mas cabelos compridos não agradavam o técnico Daniel Passarella. Para 2002, bom, nem se falou em Redondo.
Há mais de dois anos o planeta não vê ele atuar. Há um ano mal se tem notícias dele. Parou de jogar? Está aonde? Ainda está no Milan? Por que não joga? Perguntas assim vêm de vez em quando.
A última imagem forte de Redondo é um drible da vaca de calcanhar de costas (acho que é assim que se pode descrever aquilo de forma simples) quando ele cruzou com o Manchester United na Copa dos Campeões de 2000.
Depois, ele aceitou o desafio de jogar no duro futebol italiano. Estourou um joelho e ficou meses inativo. Passou por três cirurgias, conviveu com médicos na Argentina, na Espanha, na Bélgica, na França e na Itália. Nada. Nada.
Desde agosto do ano passado, não tem o amparo oficial do Milan. Em um gesto raro, abriu mão de receber o que teria direito -tem contrato com o time até junho de 2003- enquanto não estivesse plenamente em forma, no campo, defendendo a equipe.
Seu gesto, tão firme como quando ele abriu mão de defender seu amado país por não concordar com a posição tirana e tola de Passarella, o fez ser ídolo no Milan e na Itália mesmo sem jogar.
Em abril deste ano, bancando sua própria recuperação, soube que poderia ir para a sala de operação pela quarta vez e encerrar sua carreira de forma triste. Alarme falso, assim como foram falsas as notícias de que voltaria em dezembro de 2001 (faz tempo, né?).
No meio do ano, enquanto as atenções do mundo estavam voltadas para os dois joelhos de Ronaldo, o médico francês Gerard Saillant deu uma olhada no joelho direito do argentino, cujos ligamentos foram danificados.
Nos últimos meses, a imprensa italiana destacou Ronaldo e sua ""ingratidão" com a Inter e simplesmente esqueceu Redondo e sua ""gratidão" ao Milan. Duas histórias com suas semelhanças (a genialidade é a maior) e diferenças (a discrição que pautou a carreira do argentino é a maior).
Ronaldo estreou com show e pompa em Madri, que já aplaudiu e venerou Redondo. Enquanto isso na Croácia o argentino voltava a bater bola em despedida e festa de Boban. Pouca gente de olho no evento, mas muita alegria para o volante (no melhor sentido da palavra e da posição).
Em breve Redondo pode voltar a atuar. Mas sua cabeça, mais que seu joelho, não está 100% (o verdadeiro drama de Pedrinho veio à tona por aqui só agora). ""Não tenho mais ilusões. Não quero iludir a mim mesmo", diz.
Mas Redondo já encheu de ilusões os amantes do futebol. Grato!

Grato Van Basten
Pena a sua lesão. Mas, neste ano, termina seu curso para técnico.

Grato Baresi
Deixou uma roubada na Inglaterra. É técnico do juvenil do Milan.

Grato Maldini
Doeu no coração, mas confirmou estar fora da seleção nacional.

Grato Leonardo
Foi à festa de Boban, viu amigos do Milan e por isso quis voltar.

Grato Weah
Um dos amigos no jogo de Boban, diz que o Milan é a sua família.

Grato Milan
Silvio Berlusconi, após um ano, voltou ao clube em que fez fama.

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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