|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ GERALDO COUTO
As armadilhas do fácil
O que há em comum entre o Brasil nas eliminatórias, os gols no Mundial de futsal
e o Corinthians na Série B
|
O PLACAR foi elástico, os gols
foram bonitos, mas não dá
para ficar empolgado com a
vitória da seleção sobre a fraquíssima Venezuela.
A orientação básica do técnico
Dunga poderia ter sido: "Chuta no
alto que o goleiro é baixinho". Assim
saíram os dois primeiros gols.
E o quarto, o segundo de Robinho
na tarde, expôs claramente a fragilidade venezuelana.
Robinho estava tão sozinho que
pôde matar a bola, ajeitar o corpo e
escolher o canto sem que qualquer
adversário viesse incomodá-lo.
O problema das vitórias muito fáceis é que elas podem criar falsas expectativas. Um exemplo disso aconteceu no Mundial de futsal. O Brasil
fez 12 a 1 no Japão, 21 a 0 nas Ilhas
Salomão, e a torcida se acostumou.
No primeiro jogo da segunda fase,
venceu o Irã por 1 a 0 e foi vaiado.
Outro caso análogo é o do Corinthians na Série B. Está tão fácil que a
torcida, a crônica esportiva e até os
jogadores passam a inflar as reais
condições da equipe. Um bom jogador como Douglas é incensado como
se fosse um Rivellino, os comentaristas mais afoitos pedem a convocação do lateral André Santos para a
seleção. Menos, gente, menos.
A seleção, que após vencer bem o
Chile teve uma atuação pífia contra
a Bolívia e foi vaiada no Engenhão,
agora corre o risco de repetir o enredo contra a Colômbia no Maracanã.
E vale a pena questionar certos lugares-comuns cristalizados, entre
eles o de que a atual zaga brasileira é
muito segura. Ora, contra a inócua
Venezuela Júlio César fez pelo menos três grandes defesas. O adversário chegou várias vezes na nossa pequena área. Isso é segurança?
No terreiro alheio
No Brasileirão, o que houve de
mais espetacular na rodada foram
as vitórias do Atlético-MG e do
Fluminense, respectivamente sobre o Flamengo e o Atlético-PR,
ambas fora de casa.
No Maracanã, o Galo parece ter
sido espicaçado pelas palavras do
presidente do Fla, Márcio Braga
(que anunciou estar preparando a
festa do "hexa"), e fez seu melhor
jogo no campeonato.
Atropelou sem dó o rubro-negro,
numa revanche tardia da final de
1980, quando o timaço de Reinaldo
e Cerezo perdeu por 3 a 2 para o timaço de Zico e Júnior, numa das
partidas mais memoráveis que estes olhos já viram.
Agora, o hexa parece mais distante do que nunca da Gávea -e o Galo, que já flertou com o abismo, está
em boa condição para obter uma
vaga na Copa Sul-Americana.
Não menos brilhante foi a façanha do Fluminense, que meteu 3 a 1
no Atlético-PR, de virada, em plena
Arena da Baixada, trocando de lugar com o oponente na macabra
dança das cadeiras para escapar do
rebaixamento.
Tomara que o simpático e falante
Renê Simões -o Groucho Marx do
futebol brasileiro- acerte a mão e
consiga fazer o razoável elenco tricolor render o suficiente para levar
o Flu ao lugar que lhe cabe, o meio
da tabela de classificação.
A próxima rodada, recheada de
clássicos estaduais (Palmeiras x
São Paulo, Vasco x Flamengo, Atlético-MG x Cruzeiro), será eletrizante e decisiva para o destino de
um punhado de clubes.
jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Brasil bate "Argentina" do Mundial de futsal Índice
|