São Paulo, quinta, 13 de novembro de 1997.



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Imagine essa defesa contra um time de verdade

JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha

Brasil e País de Gales foi um jogo duro. De assistir.
Sabe aquela velha -e obsoleta- caricatura do jogador europeu, de cintura dura e nenhuma intimidade com a bola? Pois os galeses de anteontem eram assim.
Se não fossem tão pernas-de-pau, não teriam perdido pelo menos três gols feitos, dois deles com Taffarel já praticamente batido. Imagine essa defesa brasileira contra um time de verdade.
Claro que sempre se salva alguma coisa. Uma exibição magnífica de Rivaldo, um Muller veloz e polivalente, um Zé Roberto impecável (ouso opinar, contra a maioria, que ele é melhor que Roberto Carlos).
Do ponto de vista de treinamento, talvez fosse mais interessante marcar jogos da seleção contra grandes clubes brasileiros do que pegar galinhas mortas como País de Gales.
Isso já foi muito comum em décadas passadas.
A paixão clubística e a motivação dos jogadores excluídos da seleção acrescentam um tempero especial a esses jogos-treinos.
Lembro-me de um que aconteceu no Maracanã, nos anos 70. Seleção brasileira contra o Flamengo. O rubro-negro abriu o placar, e sua torcida não perdoou: "Um, dois, três, o Brasil é freguês".

Uma vez na vida é preciso concordar com Galvão Bueno: já que a etapa ainda é de testes, sobretudo no meio-campo, por que não Raí?
Os pontos a seu favor são pelo menos três. 1) É um dos jogadores mais completos do futebol brasileiro, aliando vigor físico, habilidade, inteligência e visão de jogo; 2) atravessa uma fase excelente em seu clube, o Paris Saint-Germain; 3) é tido como uma ótima influência psicológica e moral sobre os companheiros.
Assim como Rivaldo padeceu no purgatório depois da fraca atuação na Olimpíada, Raí caiu num injustificável ostracismo em decorrência de sua má fase na Copa de 94.
Mas é preciso lembrar que, além de atravessar na época um momento psicológico delicado (tinha acabado de se transferir para a França), Raí foi manietado pelo esquema burocrático e broxante implantado por Parreira.
Já que o assunto é "segunda chance", o colega Edgard Alves, desta Folha, lembra a semelhança da relação atual Zagallo/Edmundo com a relação Parreira/Romário antes da Copa do Mundo de 94.
Assim como Romário na época, Edmundo é hoje o craque da hora; assim como ele, tem pavio curto e é considerado um fator de desagregação do grupo. Se for esperto como Parreira, conclui Edgard, Zagallo só incorpora Edmundo na última hora, para render o que a seleção precisa sem ter tempo de causar muito estrago.

Meu xará José Geraldo Silveira Bueno, professor universitário e palmeirense (ninguém é perfeito), manda-me um fax educado e bem escrito, dizendo que fui muito complacente com os erros cometidos por Brian Glenville em "The Story of the World Cup".
Tudo bem. Glenville de fato errou feio. Mas o que mais posso fazer, além de apontar os seus erros? Entrar na Justiça contra ele, chamar para a briga, xingar de corno?


Matinas Suzuki Jr., que escreve nesta coluna às terças, quintas e sábados, está em férias



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