São Paulo, Sábado, 13 de Novembro de 1999
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FUTEBOL
Irritado após a polêmica dispensa do atacante, Luxemburgo já ameaça deixá-lo de fora da Olimpíada
Seleção, sem Ronaldo, joga de graça

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial a Sydney

A ausência de Ronaldo, desconvocado dos dois amistosos do Brasil na Austrália, fez a IMG, empresa de marketing esportivo que está organizando as partidas, desistir de cobrar pelos ingressos.
Para o primeiro jogo, às 2h de amanhã (horário de Brasília), em Sydney, com TV, 45 mil entradas já haviam sido vendidas, mas quem as comprou terá direito de receber o dinheiro de volta.
"Os portões vão ser liberados para os torcedores, porque a maioria que comprou ingresso queria ver o Ronaldo", explicou Greg Hooton, representante da IMG. "Sem ele, até poderíamos pensar em reduzir o preço, mas achamos melhor simplesmente deixar de cobrar ingresso."
O atacante foi liberado da seleção após uma queda-de-braço entre a Inter de Milão e a CBF.
O clube italiano alegou que ele só poderia participar do primeiro dos dois jogos na Austrália. Segundo a Inter, seria sua sétima participação em amistosos da seleção neste ano, completando a cota a que a CBF tem direito.
A Confederação Brasileira de Futebol discordou, lembrando que ele se apresentou contundido para as duas partidas contra a Holanda, no primeiro semestre, e foi desconvocado. Teria, portanto, disputado só quatro amistosos.
A Fifa deu razão à Inter, obrigando a seleção a liberar Ronaldo logo após a primeira partida.
E a questão se encerrou quando o técnico Wanderley Luxemburgo, irritado, declarou que "ou Ronaldo jogava as duas partidas ou não jogava nenhuma".
Os organizadores dos jogos, então, ficaram sem muita saída.
O temor da IMG, assim como o da Nike, também promotora, era que sua imagem fosse afetada, já que ambas as empresas usaram Ronaldo para vender os jogos.
Todo o material de divulgação dos amistosos era centrado no atacante, apresentado como a maior revelação da história do futebol brasileiro depois de Pelé.
Com a ausência do jogador, a IMG e a Nike terão prejuízo conjunto na casa dos US$ 3 milhões.
Apesar de ter reclamado da CBF, que, além de não ter levado seu time principal, ainda decidiu dispensar Ronaldo, a IMG não deve processá-la. A cota da entidade, definida em contrato com a Nike, também está garantida.
Por enquanto, o único que deve sofrer alguma retaliação é o próprio Ronaldo. Sua presença na Olimpíada de Sydney, no ano que vem, já está ameaçada.
Luxemburgo desaprovou a postura do atacante, que não teria insistido o suficiente com a Inter.
"Faltou atitude", reclamou. "Se ele diz que a Olimpíada é tão importante para o nosso futebol, deveria ter feito alguma coisa."
Decepcionada com a atitude do jogador, a comissão técnica já não garante sua presença nos Jogos, se o Brasil obtiver a classificação no início do próximo ano.
Luxemburgo lembrou que o atacante só foi convocado para as partidas na Austrália -a segunda será na quarta-feira, em Melbourne- porque havia dito que precisava recuperar a forma.
Ronaldo, que será substituído por Fábio Júnior, limitou-se a lamentar a situação. "Entendo a posição do Wanderley, mas eu não podia fazer nada. Sou empregado da Inter, e se a Fifa acha que ela tem razão e eu devo voltar, o que é que que eu podia fazer?", disse.
O atacante chegara a conversar por telefone com Massimo Moratti, presidente do clube italiano, e o dirigente exigira sua presença na Itália no máximo na segunda-feira. "É um problema complicado, que envolve interesses maiores do que vocês imaginam."
Com a ausência de Ronaldo, Luxemburgo terá uma nova reunião com os jogadores, antes do reconhecimento do estádio Olímpico, hoje, em Sydney, em que pedirá para os atletas esquecerem o caso e se concentrarem no jogo.
NA TV - Austrália x Brasil, Globo, ao vivo, às 2h de amanhã


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