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Atlético fulminante, Corinthians entorpecido
JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha
O Corinthians mostrou ontem,
no Mineirão, alguns dos méritos e
todas as fraquezas que apresentou ao longo de todo o campeonato. Foi um time com considerável
poder de criação e ataque, mas
com uma espantosa fragilidade
defensiva.
O Atlético, por sua vez, mostrou
que não foi por acaso que chegou
à final. Equipe compacta no setor
defensivo e ágil no contra-ataque,
poderia ter saído do Mineirão numa situação mais confortável, se
não tivesse perdido algumas
chances claras de gol, e se seus
atletas não tivessem cansado no
segundo tempo.
Diante do que aconteceu no primeiro tempo, o Corinthians até
que saiu no lucro.
O que revelam os 3 a 1 do primeiro tempo: Atlético fulminante
ou Corinthians entorpecido? Guilherme infernal ou defesa corintiana apalermada? Tudo isso junto e mais um pouco.
Não se pode tirar o mérito da
eficiência mortal do ataque atleticano, mas o Corinthians parecia
estar atrasado com relação ao adversário, como se os dois times estivessem em fusos horários diferentes -ou um deles jogasse ao
vivo e o outro no videoteipe.
No primeiro gol do Atlético, deu
a impressão de que o Corinthians
ainda estava esperando o apito
inicial do juiz. Depois, Oswaldo
Oliveira demorou uma eternidade para perceber que Rincón se
arrastava em campo. Para que o
substituísse, foi preciso, antes, que
o colombiano perdesse na corrida
para Guilherme e o Corinthians
amargasse o segundo gol.
Não contente em tomar dois
gols do artilheiro máximo do
campeonato, a defesa corintiana
resolveu deixá-lo à vontade para
fazer o terceiro, de cabeça.
Foi só eu dizer, na última coluna, que a marcação corintiana tinha melhorado nos mata-matas
para ela mostrar, ontem, toda a
sua inconsistência.
Como já comentei aqui -e Casagrande, na TV Globo, realçou
ontem-, o defeito principal dos
defensores corintianos é ficar
olhando para a bola, esperando
para ver para onde ela vai e rezando para que não vá parar nos
pés dos adversários (livres) que
eles deveriam estar marcando.
No time do Corinthians, Ricardinho não apenas foi, como sempre, o jogador mais lúcido de criação, como mostrou ter personalidade e senso profissional ao sair
logo de campo ao final do primeiro tempo.
Eu explico. Ricardinho tinha sido escolhido como o "Pai Herói",
ou coisa que o valha, que a TV
Globo entrevistaria no intervalo,
antes da descida para o vestiário.
Com o time perdendo por 3 a 1 e o
técnico querendo passar suas instruções, o jogador não hesitou em
deixar o repórter falando sozinho.
Quem me chamou a atenção
para o caráter nocivo dessa palhaçada global foi a leitora Luiza Cecilio, de Uberaba-MG, que me escreveu o seguinte:
"O jogador é obrigado a ouvir:
choro de nenê, as primeiras palavras do filhinho, a mamãe orgulhosa, cachorrinho que canta o hino do time, irmãzinha com saudades etc. Eles acabam de jogar o
primeiro tempo e, cansados e
preocupados, são forçados a ouvir
declarações que os desequilibram
emocionalmente, enquanto o técnico já está passando as suas instruções no vestiário. Além de prejudicar o atleta, é muito chato."
Ao correr para o vestiário, Ricardinho mostrou que o primeiro
dever do jogador é jogar futebol, e
não resolver o problema da falta
de imaginação dos diretores de
TV. Ponto para ele.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve às segundas e
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