São Paulo, Segunda-feira, 13 de Dezembro de 1999


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Atlético fulminante, Corinthians entorpecido

JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha

O Corinthians mostrou ontem, no Mineirão, alguns dos méritos e todas as fraquezas que apresentou ao longo de todo o campeonato. Foi um time com considerável poder de criação e ataque, mas com uma espantosa fragilidade defensiva.
O Atlético, por sua vez, mostrou que não foi por acaso que chegou à final. Equipe compacta no setor defensivo e ágil no contra-ataque, poderia ter saído do Mineirão numa situação mais confortável, se não tivesse perdido algumas chances claras de gol, e se seus atletas não tivessem cansado no segundo tempo.
Diante do que aconteceu no primeiro tempo, o Corinthians até que saiu no lucro.
O que revelam os 3 a 1 do primeiro tempo: Atlético fulminante ou Corinthians entorpecido? Guilherme infernal ou defesa corintiana apalermada? Tudo isso junto e mais um pouco.
Não se pode tirar o mérito da eficiência mortal do ataque atleticano, mas o Corinthians parecia estar atrasado com relação ao adversário, como se os dois times estivessem em fusos horários diferentes -ou um deles jogasse ao vivo e o outro no videoteipe.
No primeiro gol do Atlético, deu a impressão de que o Corinthians ainda estava esperando o apito inicial do juiz. Depois, Oswaldo Oliveira demorou uma eternidade para perceber que Rincón se arrastava em campo. Para que o substituísse, foi preciso, antes, que o colombiano perdesse na corrida para Guilherme e o Corinthians amargasse o segundo gol.
Não contente em tomar dois gols do artilheiro máximo do campeonato, a defesa corintiana resolveu deixá-lo à vontade para fazer o terceiro, de cabeça.
Foi só eu dizer, na última coluna, que a marcação corintiana tinha melhorado nos mata-matas para ela mostrar, ontem, toda a sua inconsistência.
Como já comentei aqui -e Casagrande, na TV Globo, realçou ontem-, o defeito principal dos defensores corintianos é ficar olhando para a bola, esperando para ver para onde ela vai e rezando para que não vá parar nos pés dos adversários (livres) que eles deveriam estar marcando.
No time do Corinthians, Ricardinho não apenas foi, como sempre, o jogador mais lúcido de criação, como mostrou ter personalidade e senso profissional ao sair logo de campo ao final do primeiro tempo.
Eu explico. Ricardinho tinha sido escolhido como o "Pai Herói", ou coisa que o valha, que a TV Globo entrevistaria no intervalo, antes da descida para o vestiário. Com o time perdendo por 3 a 1 e o técnico querendo passar suas instruções, o jogador não hesitou em deixar o repórter falando sozinho.
Quem me chamou a atenção para o caráter nocivo dessa palhaçada global foi a leitora Luiza Cecilio, de Uberaba-MG, que me escreveu o seguinte:
"O jogador é obrigado a ouvir: choro de nenê, as primeiras palavras do filhinho, a mamãe orgulhosa, cachorrinho que canta o hino do time, irmãzinha com saudades etc. Eles acabam de jogar o primeiro tempo e, cansados e preocupados, são forçados a ouvir declarações que os desequilibram emocionalmente, enquanto o técnico já está passando as suas instruções no vestiário. Além de prejudicar o atleta, é muito chato."
Ao correr para o vestiário, Ricardinho mostrou que o primeiro dever do jogador é jogar futebol, e não resolver o problema da falta de imaginação dos diretores de TV. Ponto para ele.


E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às segundas e aos sábados

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