São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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TÊNIS

Chuvas e trovoadas

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Aquecimento feito, concentração máxima, o tenista finalmente entra em quadra. Recebe os aplausos, bate bola com o adversário, sente o vento, a bola, bebe sua água, testa as cordas da raquete, olha para o público.
Em seguida, vai para o jogo. Sente seu corpo, avalia o rival, decifra sua tática. E aí sente, incomodado, os primeiros pingos de chuva. Ainda joga mais uns games, mas é obrigado a parar.
Espera sentado. Os pingos aumentam. Coloca a toalha sobre a cabeça. A chuva pára. Passados cinco minutos, é hora de sacar. Saca, erra. Sente um pingo, olha para o céu, sente o vento, saca, acerta. Do outro lado, o adversário devolve, sente um pingo, rebate a bola e erra. Olha para o céu.
Começa a chover de novo. Eles sentam-se. Colocam a toalha na cabeça. Esperam dois, cinco, dez minutos. A chuva aumenta. Eles saem da quadra, voltam ao vestiário. Fazem xixi.
Finalmente recebem o chamado e voltam à quadra. Onde mesmo parou o jogo? 2/4, 15-30. Nova quebra de saque, novos pingos. Um quer parar, os pingos incomodam demais; o outro, à frente no placar, quer continuar. Não porque está bem (aliás, está mal), mas porque o rival está mais incomodado com a chuva.
O juiz desce da cadeira, avalia o piso. Volta para a cadeira, o jogo continua. Dois games depois, o próprio juiz sente os pingos. Nenhum tenista reclama, mas ele acha que não vale a pena deixar os atletas jogarem nessas condições. O jogo pára de novo.
 
Fora da quadra, finalmente chega a hora de o torcedor ver o jogo. Refrigerante na mão direita, ingresso na esquerda, corre para procurar seu assento. Acha, senta. Aplaude a entrada dos tenistas, observa o aquecimento.
Começa o jogo, mas, ei, o que houve? Empolgado, não sentiu os pingos de chuva; só repara nisso quando os tenistas vão para o banco. O torcedor, que não tem a toalhinha, fica ali, quase molhado, esperando os ídolos voltarem.
Cinco minutos depois, eles até voltam, jogam dois ou três games, mas o que era um chuvisco vira chuva. Os tenistas vão para o vestiário, e o torcedor, bem, a ele só resta procurar um abrigo.
Ao sair da quadra, vai para a lojinha do torneio. Vê camisetas para comprar, dar aos amigos. Decide experimentar, mas parece que o jogo recomeçou. Hora de correr, afinal está ali para ver o jogo, e não fazer compras. Ele, então, volta para a quadra, mas, decepção, o jogo está interrompido e não tem hora para ser reiniciado.
 
Fala-se mal das mudanças que os organizadores têm feito para diminuir o estrago da chuva. Alguns torneios mudam a data para fugir da época chuvosa; outros, como Wimbledon, recorrem a um teto retrátil. Os conservadores esbravejam, discordam e colocam a TV como vilã. Não é bem assim.
A TV se beneficia com as mudanças, claro. Assim como tenistas, organizadores e torcedores. Quem sai prejudicado? Só a tradição. Entre tradição e tênis, vamos ficar com o tênis.

Gira sul-americana
Nada menos que 99 tenistas brasileiros disputam nesta semana a primeira etapa do Cosat, o circuito infanto-juvenil sul-americano, na Venezuela. Neste ano, em três meses, até março, o Cosat tem 11 etapas. As disputas no Brasil fecham o circuito.

Festa estrangeira
Faltou brasileiro na final do Challenger de São Paulo. Os 14 que entraram na chave caíram rodada a rodada. Na decisão, Juan Monaco, 19, mostrou a força da escola argentina e bateu Adrian García (CHI).

Exemplo nada saudável
Está cada vez mais próxima da baixaria a disputa pelo poder do tênis brasileiro.

E-mail reandaku@uol.com.br


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