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TÊNIS
Chuvas e trovoadas
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Aquecimento feito, concentração máxima, o tenista
finalmente entra em quadra. Recebe os aplausos, bate bola com o
adversário, sente o vento, a bola,
bebe sua água, testa as cordas da
raquete, olha para o público.
Em seguida, vai para o jogo.
Sente seu corpo, avalia o rival, decifra sua tática. E aí sente, incomodado, os primeiros pingos de
chuva. Ainda joga mais uns games, mas é obrigado a parar.
Espera sentado. Os pingos aumentam. Coloca a toalha sobre a
cabeça. A chuva pára. Passados
cinco minutos, é hora de sacar.
Saca, erra. Sente um pingo, olha
para o céu, sente o vento, saca,
acerta. Do outro lado, o adversário devolve, sente um pingo, rebate a bola e erra. Olha para o céu.
Começa a chover de novo. Eles
sentam-se. Colocam a toalha na
cabeça. Esperam dois, cinco, dez
minutos. A chuva aumenta. Eles
saem da quadra, voltam ao vestiário. Fazem xixi.
Finalmente recebem o chamado e voltam à quadra. Onde mesmo parou o jogo? 2/4, 15-30. Nova
quebra de saque, novos pingos.
Um quer parar, os pingos incomodam demais; o outro, à frente
no placar, quer continuar. Não
porque está bem (aliás, está mal),
mas porque o rival está mais incomodado com a chuva.
O juiz desce da cadeira, avalia o
piso. Volta para a cadeira, o jogo
continua. Dois games depois, o
próprio juiz sente os pingos. Nenhum tenista reclama, mas ele
acha que não vale a pena deixar
os atletas jogarem nessas condições. O jogo pára de novo.
Fora da quadra, finalmente chega a hora de o torcedor ver o jogo.
Refrigerante na mão direita, ingresso na esquerda, corre para
procurar seu assento. Acha, senta.
Aplaude a entrada dos tenistas,
observa o aquecimento.
Começa o jogo, mas, ei, o que
houve? Empolgado, não sentiu os
pingos de chuva; só repara nisso
quando os tenistas vão para o
banco. O torcedor, que não tem a
toalhinha, fica ali, quase molhado, esperando os ídolos voltarem.
Cinco minutos depois, eles até
voltam, jogam dois ou três games,
mas o que era um chuvisco vira
chuva. Os tenistas vão para o vestiário, e o torcedor, bem, a ele só
resta procurar um abrigo.
Ao sair da quadra, vai para a
lojinha do torneio. Vê camisetas
para comprar, dar aos amigos.
Decide experimentar, mas parece
que o jogo recomeçou. Hora de
correr, afinal está ali para ver o
jogo, e não fazer compras. Ele, então, volta para a quadra, mas, decepção, o jogo está interrompido e
não tem hora para ser reiniciado.
Fala-se mal das mudanças que
os organizadores têm feito para
diminuir o estrago da chuva. Alguns torneios mudam a data para fugir da época chuvosa; outros,
como Wimbledon, recorrem a um
teto retrátil. Os conservadores esbravejam, discordam e colocam a
TV como vilã. Não é bem assim.
A TV se beneficia com as mudanças, claro. Assim como tenistas, organizadores e torcedores.
Quem sai prejudicado? Só a tradição. Entre tradição e tênis, vamos
ficar com o tênis.
Gira sul-americana
Nada menos que 99 tenistas brasileiros disputam nesta semana a primeira etapa do Cosat, o circuito infanto-juvenil sul-americano, na
Venezuela. Neste ano, em três meses, até março, o Cosat tem 11 etapas. As disputas no Brasil fecham o circuito.
Festa estrangeira
Faltou brasileiro na final do Challenger de São Paulo. Os 14 que entraram na chave caíram rodada a rodada. Na decisão, Juan Monaco,
19, mostrou a força da escola argentina e bateu Adrian García (CHI).
Exemplo nada saudável
Está cada vez mais próxima da baixaria a disputa pelo poder do tênis
brasileiro.
E-mail reandaku@uol.com.br
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