São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Centroavante grosso não dá

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Como aconteceu no jogo das eliminatórias da Copa contra o Uruguai, o time pré-olímpico teve facilidades no ataque, mas não aproveitou. Em compensação, o Uruguai, com um centroavante e dois pontas velozes, incomodou bastante a defesa brasileira. Os laterais não sabiam se ficavam atrás ou se avançavam, como fazem normalmente.
No gol do Uruguai, Maicon perdeu a bola no ataque e deixou um vazio na lateral. A cobertura deveria ser feita pelo Edu Dracena, e não pelo Paulo Almeida, com o Maxwell se posicionando como zagueiro. Um lateral avança e o outro fica. Os volantes tentam fazer a cobertura e quase sempre chegam atrasados, pois têm de correr para trás.
O Uruguai não adotou nenhuma tática especial contra o Brasil. O time foi também ousado em todas as partidas pelas eliminatórias (o técnico é o mesmo) e no primeiro jogo do Pré-Olímpico, quando foi goleado pelo Chile por 3 a 0. É uma tática de risco. Todas as equipes deveriam treinar um esquema de risco para usá-lo no momento certo, e não em todas as partidas, como faz o Uruguai.
Leão telefonou para o Alex e pediu ao zagueiro que sugerisse ao Ricardo Gomes a troca de posição entre os dois zagueiros. Não há nada de antiético nisso. Leão tem razão. Edu Dracena joga no Cruzeiro pela esquerda e Alex atua bem dos dois lados.
No segundo tempo, Ricardo Gomes preferiu o Paulinho ao Daniel Carvalho. Não entendi. Daniel Carvalho foi o melhor jogador do Inter e um dos melhores do Brasileiro, o melhor no Mundial sub-20 e o melhor da sub-23 contra a Venezuela. Parreira deveria estar no Chile para ajudar o Ricardo Gomes.
Discute-se muito se a seleção deveria ter um centroavante ou não. A necessidade de um centroavante não é a de ter um atacante alto, forte, pesado, fixo na área e somente para finalizar. Esse jogador, mesmo fazendo gols, atrapalha o ataque.
O centroavante é importante, desde que ele se movimente na frente, tenha uma razoável habilidade para driblar e trocar passes em pequenos espaços, seja referência para os que chegam de trás e um bom finalizador. Dagoberto, que não é um centroavante, poderá jogar bem nessa posição se for bem orientado. Ele está muito confuso, sem saber a sua posição.
Um bom time não precisa de um centroavante estático e grosso, mas de um bom centroavante.

Errei
Escrevi besteira na última coluna ao dizer que o espetacular gol do Maicon contra o Paraguai foi tão bonito quanto o do Maradona, na Copa de 86.
Independentemente da imensa diferença de qualidade entre os dois jogadores e da importância das duas partidas, ao ver com mais calma os dois gols, ficou claro que o Maicon tinha um espaço livre à frente, ultrapassou sem driblar os marcadores graças à sua velocidade, fintou o goleiro e fez o gol. Maradona driblou os adversários e fez um gol muito mais bonito.
A arrancada pela meia direita em direção ao gol não é virtude do Maicon. É a sua principal deficiência. Com frequência, ele perde a bola e deixa um vazio na lateral, como no gol do Uruguai.
Diferentemente do Maicon, Maurinho, titular do Cruzeiro, raramente é desarmado quando avança. Ele dribla, passa, cruza e finaliza no momento certo. Não tenta fazer o que não sabe. Mas nunca vai fazer um gol como o do Maicon.

Baixinhos
Será que o pequeníssimo meia Elton do juniores do Corinthians, com um 1,57 m de altura e 17 anos, poderá se tornar um excelente jogador? Se ele tiver outras qualidades, além da grande habilidade, penso que sim. Mas terá de fazer um tratamento especial para ficar mais forte e ainda poderá crescer um pouco.
Quando fui convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, antes da Copa de 66, muitos disseram que eu era baixinho para jogar de centroavante ao lado do Pelé. Era meia no Cruzeiro. Por causa do apelido e de minhas pernas grossas, parecia no campo menor do que era.
Antes do primeiro treino da seleção, foi medida a altura de todos os jogadores.
De propósito, fiquei logo atrás do Pelé. O Rei mediu 1,72 m, e eu, 1,71 m. Sorri e chamei a atenção dos repórteres. No outro dia, publicaram as medidas no jornal. Nunca mais me chamaram de baixinho.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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