São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Torcidas, que em troca teriam os seus integrantes fichados, rejeitam plano de promotor apresentado pela federação

FPF propõe a organizadas ingresso a R$ 10

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Preocupada com os clarões nas arquibancadas, as ações na Justiça e as manifestações em frente aos estádios, a Federação Paulista de Futebol admitiu pela primeira vez baixar o preço do ingresso do Estadual pela metade. A medida beneficiaria apenas para torcedores uniformizados, os que mais têm feito barulho contra a administração Marco Polo Del Nero.
Em troca, o presidente da FPF pediu às diretorias de Gaviões da Fiel, Mancha Alviverde, Tricolor Independente e Jovem (Santos) um cadastro de seus associados.
Del Nero já apresentou a proposta formal às uniformizadas. Mas, por enquanto, não teve êxito. "Eles estiveram aqui na FPF, eu propus o cadastramento e disse que em troca a gente baixaria o preço dos ingressos para R$ 10. Foi uma proposta do [promotor] Fernando Capez, que eu aceitei de imediato. Isso valeria para já. Mas a Gaviões da Fiel não topou", disse o cartola à Folha.
A idéia de Capez e da FPF era separar os uniformizados em um setor independente, sem acesso aos "torcedores comuns". O local seria mais vigiado pela polícia, que, com o cadastro em mãos, poderia agir com mais rapidez.
"É uma maneira de dar segurança a todo mundo, desde as próprias torcidas até os não-associados", afirmou Capez.
A criação de um setor para as organizadas foi a maneira encontrada pela entidade para não burlar o Estatuto do Torcedor, que não permite a cobrança de preços diferentes para um mesmo local.
Mas, para as torcidas, a proposta é um disfarce para fazer um fichamento policial dos associados.
"Já entregamos nossa lista à PM. Só que o que eles querem é absurdo. É uma discriminação odiosa", disse Jânio Carvalho, presidente da Mancha Alviverde, maior uniformizada do Palmeiras.
Segundo ele, FPF e PM não ficaram satisfeitos com a lista de associados, acompanhada de cópia dos respectivos RGs. A "lista completa" teria que trazer informações sobre cor dos olhos, número e formato de tatuagens no corpo, profissão e telefones de contato de todos os integrantes.
"Ninguém aqui é fichado na polícia, as pessoas estão acostumadas a nos tratar como marginais. Querem saber se o cara é manco, se tem um ou dois braços. Ninguém vai se submeter a esta humilhação", completou Carvalho.
Por meio de sua assessoria, a Gaviões da Fiel confirmou ter rechaçado a proposta da FPF. A alegação é que isolar as uniformizadas é um ato discriminatório.
Del Nero diz ter ficado surpreso com a posição dos torcedores. "Não sei o que eles querem. Não estão lutando por preços menores? Por que têm tanto medo de se cadastrar? Deve ter algum outro interesse por trás disso."
Gaviões, Independente e Mancha prometem manter o protesto contra os ingressos a R$ 20.
Na segunda, a uniformizada corintiana entra com ação na Justiça para pleitear a redução do preço para R$ 10 a todos os seus mais de 60 mil sócios. As demais devem seguir o mesmo caminho.
Alheia à negociação com as uniformizadas, a comissão de clubes que discutiu a questão do ingresso confirmou a posição de não diminuir o preço para os chamados "torcedores comuns".


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