|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Exercício de nostalgia
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Por que o Estadual do Rio está mais interessante que o de
São Paulo? Por que os estádios cariocas estão muito mais cheios
que os paulistanos?
Não há só uma resposta a essas
perguntas, mas várias, que a meu
ver se complementam.
Em primeiro lugar, existe a
questão básica do preço do ingresso, que é muito mais baixo no
Rio do que em São Paulo. Com
mais público nos estádios, os atletas se motivam e os jogos ficam,
no mínimo, mais disputados.
A esse propósito, o cineasta Ugo
Giorgetti se recorda de Gonçalo,
um zagueiro que jogou no Santos
e no São Paulo nos anos 50.
Poucos minutos antes da partida, Gonçalo subia até o campo,
dava uma espiada nas arquibancadas e, conforme a quantidade
de torcedores presentes, voltava
ao vestiário dizendo: "Hoje o
Gonçalo não se exibe".
A presença dos torcedores carrega de energia e dramaticidade
partidas que, com o estádio vazio,
seriam desprovidas de maior interesse.
Outro ponto levantado ao longo
da semana por alguns leitores
(paulistas, evidentemente) é o de
que, aos clubes cariocas, só restou
valorizar seu Estadual, dada sua
atual falta de competitividade
nos torneios de âmbito nacional e
internacional.
Maldade bairrista dos leitores?
Pode ser. Mas o raciocínio tem algum fundamento. Outros grandes clubes do país, como o mineiro Cruzeiro, o paranaense Coritiba e os paulistas Santos, São Paulo e São Caetano, estão mais preocupados com a Libertadores da
América do que com seus campeonatos locais.
Por fim, há o fato de que a Taça
Guanabara (que corresponde ao
primeiro turno do Estadual do
Rio) tem uma longa e consolidada tradição, ao passo que a primeira fase do Campeonato Paulista muda a cada ano e, nesta
edição, conta com uma fórmula
esdrúxula, em que um grupo tem
dez times e o outro, 11.
Mas, além de todos esses fatores,
e talvez em decorrência deles,
existe uma espécie de fechamento
do futebol carioca em si próprio.
Vou tentar explicar. Se compararmos jogos paulistas e cariocas
recentes, perceberemos que o futebol do Rio de certo modo parou
no tempo -ou, para dizer de
uma forma positiva, se manteve
fiel a um estilo de jogo cada vez
mais difícil de se ver pelo mundo.
Qual seja: um estilo cadenciado,
com marcação frouxa e grandes
espaços para a criação e para o
exercício do talento individual. É
uma pena, mas isso não existe
mais, a não ser no Rio (e talvez
em algum lugar da África). Temo
que o belo futebol de um Felipe,
por exemplo, tenha poucas chances de vingar fora do Rio.
A crise financeira dos clubes cariocas, a presença das mesmas velhas figuras (dentro e fora de
campo), uma certa tendência autocêntrica da cultura popular carioca -tudo isso reforça a sensação de um futebol preservado fora
do tempo, como se estivéssemos
assistindo a uma reedição do
"Canal 100". Para o bem e para o
mal, ver o Estadual do Rio é um
exercício de nostalgia.
Favoritismo tricolor
Se o Corinthians não vinha nada bem, as contusões dos últimos dias só vieram piorar suas
condições para o clássico de
amanhã contra o embalado São
Paulo. Comparando os dois times, uma eventual vitória alvinegra será quase uma zebra.
Movimento popular
Parabéns às torcidas organizadas que estão entrando na Justiça pela redução dos preços
dos ingressos. É com iniciativas
desse tipo que elas podem se
credenciar como verdadeiras
ONGs de defesa dos interesses
populares.
Camisa feia
Esta não é uma coluna de moda, mas não resisto: o novo uniforme da seleção é horrível.
Com número dentro de um círculo, parece camisa de bingo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Sobre anos terminados em 4 Próximo Texto: Ginástica: Daniele desafia hoje o estrelato de Daiane Índice
|