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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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FUTEBOL

Tico, Teco e a final

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

"Esta praia está uma beleza, não é Tico?"
- Uma beleza, Teco.
- E você ficou muito bem com essa camisa verde-limão.
- E você está ótimo com essa bermuda amarela com peixinhos alaranjados.
- Eu não queria chamar a atenção.
- Sem dúvida. Quer um gole da minha caipirinha? É de mangaba.
- Obrigado, Tico. Vou ficar na batida de graviola mesmo. Combina melhor com o sarapatel.
(Clap, clap, clap)
- Para quem são estas palmas?
- Para o seu estômago, Teco.
- Ora, ora... Você já conhecia Porto de Galinhas, Tico?
- Não, mas estou adorando esse mar azul, essas palmeiras ao vento. Depois do trabalho que tivemos, bem que merecemos estas férias como prêmio.
- Merecemos mesmo. Quer um pouco da buchada de bode?
- Não, obrigado. Nós fomos a coisa mais falada nesse Campeonato Paulista, não fomos, Teco?
- Fomos, Tico. Também, inventamos cada coisa...
- Aquela divisão em três grupos de sete, aquele negócio de cinco cartões amarelos, aquilo de deixar um time no limbo, aquela história de o primeiro colocado do grupo não ter a vantagem do empate, aquele mata-mata que foi só mata, o Torneio da Morte...
- E pensar que tem gente que defende os pontos corridos.
- Um brinde ao Farah, Teco!
- Um brinde, Tico!
(Tim-tim)
- E, coroando tudo, teve a confusão sobre a vantagem na final.
- É verdade. Esse regulamento com dupla interpretação foi uma obra de arte, Tico!
- Uma Mona Lisa, uma Pietá, uma Vênus de Milo!
- Uma Bruna Lombardi!
- Tiveram até que usar o artigo 21!
- Qual é o artigo 21, Tico?
- "Caberá exclusivamente ao Comitê Executivo da Federação Paulista de Futebol resolver os casos omissos e interpretar, sempre que necessário, o disposto neste regulamento".
- Ah, lembrei, o artigo que a gente fez para o caso de a confusão ser muito grande.
- Esse mesmo, Teco. Realmente, nosso trabalho foi uma pérola.
- Negra!
- Se não fosse por nós, este torneio ficaria às traças.
- É verdade. O regulamento mereceu mais manchetes que o Kaká.
- Nos programas de rádio só falavam da nossa obra!
- E nas mesas-redondas então! Pena que não chamaram a gente.
- Quero que nos conheçam só como Comissão Executiva. Gênio que é gênio usa pseudônimo.
- Pse o quê?
- Nome falso. Que nem o Fernando Pessoa, aquele poeta que tinha três identidades.
- Então ele devia se chamar Fernando Pessoas.
- Ah, você é impagável, Teco!
- Teco, não. Senhor Comitê.
- Quer um pouco de mungunzá, senhor Comitê?
- Pode encher o prato, senhor Executivo.

N
Ninho de Rato tinha a maior cabeleira de toda Coité do Nóia. Era um cabelo alto e emaranhado, pouco bonito de se ver. Mas graças a esse cabelo é que ele fez o gol da vitória do campeonato municipal de 1955. Num lance no meio-de-campo, a bola sobrou no alto, e Ninho de Rato tentou dar-lhe uma cabeçada. Ela, porém, em vez de bater na cabeça do jogador e ir para longe, ficou presa em sua intrincada vegetação capilar. Então, para espanto de todos, Ninho de Rato começou a correr em direção ao gol contrário e entrou meta adentro, sem que ninguém pudesse impedi-lo. O juiz, depois de consultar o livro de regras, decidiu validar o lance. E até hoje, quando passa a mão por sua calva cabeça, Ninho de Rato lembra-se do mais belo gol de sua carreira.

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