São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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Uma CPI quase impossível
e a TV de Farah

JUCA KFOURI
da Equipe de Articulistas Se já foi uma batalha conseguir as assinaturas necessárias para encaminhar o pedido de CPI sobre o contrato CBF-Nike, mais difícil ainda será instalá-la, tal o lobby em andamento.
Basta dizer que o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP) retirou sua assinatura a pedido do líder da bancada tucana, o deputado mineiro Aécio Neves -que, registre-se, tem se comportado de maneira muito estranha sempre que o assunto é futebol, embora se esparrame em explicações ao ser cobrado.
Já foi assim por ocasião da tentativa da instalação de outra CPI, a do escândalo da arbitragem, e no andamento da aprovação da Lei Pelé.
Aliás, Aécio Neves nada fez, quando presidente da Caixa Econômica Federal, no governo Sarney, para apurar outro escândalo, o da máfia da Loteria Esportiva.
O simples fato de, em plena semana da guerra pela aprovação da CPMF, cartada decisiva para o governo FHC, o líder desse governo achar tempo para se dedicar ao trabalho de impedir uma CPI dessas dá a medida das dificuldades para que essa seja instalada.
Do lobby pró-CBF participam desde ministros de Estado, como Francisco Dornelles, até governadores tucanos, como Tasso Jereissati (colega de escola de Ricardo Teixeira), que mobilizou o cantor e compositor Fágner no trabalho de convencimento dos deputados para que não assinassem o pedido.
Fágner, é bom lembrar, foi um dos convidados do ""vôo da alegria" da CBF durante a Copa da França, 40 dias de estadia em Paris com tudo pago em hotel cinco estrelas.
A nota curiosa dos bastidores do pedido de CPI formulado pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) ficou por conta de Eurico Miranda (PPB-RJ).
Ele acabou não retirando sua assinatura e, ao ser patrulhado, respondeu que havia se comprometido a não trabalhar mais pela instalação da CPI, como era seu propósito inicial, mas que em momento algum prometera retirar seu nome da lista dos 207 deputados que subscreveram o pedido.
Ricardo Teixeira tem razão quando minimiza a descoberta do contrato entre a entidade e a Nike, ao argumentar que a peça é pública e está registrada em cartório.
Que ele atenda, pois, ao pedido de um jornalista incompetente e dê publicidade aos anexos que o contrato menciona -e que não estão no 1º Ofício de Registro de Títulos e Documentos do Rio de Janeiro.
Afinal, já que não há o que esconder, por que não tornar públicos também os anexos, que são no mínimo sete, citados nas páginas 9, 10, 28, 56, 58 e 65 da tradução juramentada do contrato?
Eduardo Farah está em busca de uma rede nacional de TV que lhe venda 90 minutos às segundas-feiras para montar a sua mesa-redonda, óbvia resposta ao acordo Band-Traffic.
Se conseguir, será delicioso, embora previsível, constatar quais serão os ""jornalistas" que assumirão a empreitada.
Por falar em Band-Traffic: o ex-presidente do Flamengo Kleber Leite jura que não tem a menor intenção de ser o âncora da mesa-redonda que o consórcio apresentará nas noites de domingo no Rio.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras

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