São Paulo, Domingo, 14 de Março de 1999
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FUTEBOL
São Paulo renega mérito em goleada do Corinthians, que por sua vez teme excesso de otimismo de seus atletas
Clássico tenta amenizar
"efeito Paraguai"

MAÉRCIO SANTAMARINA
ALEXANDRE GIMENEZ
da Reportagem Local

Corinthians e São Paulo se enfrentam hoje à tarde, no estádio do Morumbi, querendo esquecer o ""efeito Paraguai" da rodada da última quarta-feira da Taça Libertadores da América, em que o time do Parque São Jorge goleou o Cerro Porteño por 8 a 2.
Para os corintianos, a ordem do técnico Evaristo de Macedo é evitar a euforia em torno de um resultado que pode ser fantasioso, levando em conta a inferioridade técnica do adversário paraguaio.
""Agora será diferente, porque se trata do futebol brasileiro. Existem um conhecimento e um equilíbrio de forças muito maiores entre as duas equipes. É preciso ter a cabeça no lugar e muita motivação."
Aos são-paulinos, o técnico Paulo César Carpegiani, que dirigiu a seleção do Paraguai na Copa da França, tenta provar que o mérito da goleada não foi propriamente do Corinthians, para minimizar o feito do adversário.
""Jogando em casa, em dois jogos, o Cerro levou oito gols. Fora de casa, manteve a média: outros oito gols. Você acha que essa equipe é forte?", perguntou ele, referindo-se à campanha do time paraguaio na primeira fase da Libertadores.
Carpegiani afirma que sua equipe não vai se intimidar no confronto com os corintianos. ""Vamos para o ataque, impondo o nosso estilo de jogo", disse.
O atacante França, do São Paulo, também minimiza o valor da goleada corintiana para fazer um prognóstico para a partida desta tarde. ""Não quero menosprezar o Cerro, mas somos muito mais time do que eles. O Corinthians, com certeza, não terá a mesma facilidade", afirmou o atacante.
E os corintianos, em vez de contestarem, vão além. ""Se pudéssemos jogar com o Cerro todo dia, é lógico que iríamos preferir enfrentar os paraguaios do que o São Paulo. Mesmo assim, seria quase impossível repetirmos a goleada de 8 a 2", afirmou Evaristo.
O zagueiro paraguaio Gamarra, do Corinthians, que se revelou no Cerro, é da mesma opinião: ""Podemos jogar 20 vezes com eles que não vamos conseguir repetir. É como a goleada de 6 a 1 que sofremos para o Botafogo na estréia do Torneio Rio-São Paulo. Nunca mais vai se repetir", disse.
Ele não nega, no entanto, o desejo de ver seu time em campo com o mesmo ritmo do jogo contra o Cerro. ""Não posso garantir que será o mesmo porque jamais ganhei na loteria, mas seria bom se os jogadores mostrassem a mesma desenvoltura", afirmou.
Segundo o treinador corintiano, um clássico entre dois grandes times brasileiros, como o de hoje, independe dos resultados anteriores de ambos. Para convencer o time de que não vai ser fácil, Evaristo lembrou que o São Paulo também vem de uma goleada (de 4 a 1 sobre o Ypiranga, do Amapá, pela Copa do Brasil). ""Não podemos subestimar quem quer que seja."
Ele teme que o atacante Fernando, autor de cinco gols na última quarta, seja alvo de uma marcação individual e não consiga repetir o desempenho.
Os jogadores do São Paulo acham que o atacante corintiano merece uma atenção especial. ""Ele é um jogador habilidoso, que finaliza muito bem. Por isso, não podemos deixá-lo receber a bola livre, sem marcação", afirmou o zagueiro são-paulino Nem.
O mesmo trabalho de espionagem desenvolvido pelo Corinthians com seus adversários da Libertadores -a competição colocada como prioridade pelo clube este ano- foi feito com o São Paulo, de acordo com Evaristo.
""Embora não seja uma partida decisiva, uma vez que o Campeonato Paulista está em fase inicial ainda, estamos estudando o nosso adversário com o mesmo empenho. A forma de os jogadores atuarem em campo vai ser decidida em função da análise do esquema tático do São Paulo", disse ele.
Mesmo que Carpegiani mude a escalação de seu time, Evaristo disse conhecer bem os jogadores adversários e que, por isso, saberá a forma tática para orientar os seus atletas antes da partida.
""Vou tentar passar toda essa vivência a eles. O problema é que 99% dos treinadores não conseguem ensinar o futebol a seus filhos. O futebol é nato, é talento, não vem do ensinamento ou da genética", afirmou.
Um dos pontos vulneráveis do Corinthians, de acordo com o treinador, é a defesa de jogadas aéreas. Esse foi um dos fundamentos mais treinados pelos jogadores corintianos nos últimos dois dias.
O time vem treinando mais chutes e jogadas ensaiadas, deixando de lado os coletivos, em função da maratona de jogos que terá até o final do mês -mais oito, contando o de hoje.
""A recuperação é o mais importante neste momento, por isso estamos priorizando os treinos recreativos, sem descuidar dos fundamentos do futebol", disse ele, que havia sido criticado na semana passada pelo método duro que estava implantando no Corinthians.
""Já estamos nos habituando aos seus métodos. Prova disso são os últimos bons resultados", afirmou Gamarra. Antes do Cerro, o Corinthians havia vencido a Matonense, em sua estréia no Campeonato Paulista, por 4 a 2.

Crise
Outro problema comum entre as duas equipes paulistas que se enfrentam hoje é a crise envolvendo seus jogadores.
No Corinthians, o atacante Mirandinha passa por problemas com a torcida depois que manifestou o desejo de ir para o Palmeiras, inconformado em ser reserva do novato Fernando.
Caso se repitam os insultos da última partida dirigidos ao jogador pelos torcedores, Evaristo pode ter problema para escalá-lo mesmo que em apenas parte do segundo tempo, se precisar.
No São Paulo, a diretoria do clube tenta encontrar um comprador para o passe do zagueiro Márcio Santos, afastado do grupo por indisciplina. O atleta não se conformava com a reserva. Márcio Santos chegou a afirmar que Carpegiani estava sendo pressionado a mantê-lo no banco de reservas. Segundo diretores do São Paulo, não existe no momento nenhum clube interessado na contratação do zagueiro da Copa-94.


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